‘Todos sabemos quem é o presidente eleito’, diz opositora diante da posse de Maduro

María Corina Machado não tem dúvida de que Edmundo González Urrutia assumirá como presidente na Venezuela. “Todos sabemos quem é o presidente eleito”, diz a líder da oposição, da clandestinidade, em entrevista à AFP.

Corina Machado, de 57 anos, reivindica a vitória de González Urrutia nas eleições de 28 de julho do ano passado e denuncia que o presidente Nicolás Maduro “roubou” o pleito para garantir um terceiro mandato.

“Ao regime o único que resta é o medo”, garante. “Eles já não têm mais, perderam todo o apoio popular, perderam toda a legitimidade e estão absolutamente isolados […] O medo que é insuperável é o do regime, que sabe que já foi derrotado.”

“Todos sabemos quem é o presidente eleito, todos. Os venezuelanos sabem, as Forças Armadas sabem, Maduro sabe, o mundo inteiro sabe”, insiste a dirigente em conversa por videoconferência.

A data da posse presidencial está marcada para 10 de janeiro, dia em que Maduro deverá comparecer ao Parlamento, de arrasadora maioria chavista, para prestar juramento e iniciar seu novo mandato, de 2025 a 2031.

Por sua vez, González Urrutia disse que retornaria à Venezuela no dia 10 para assumir o poder.

“Um dia de cada vez”, assinala, não obstante, Corina Machado. “Edmundo González Urrutia prestará juramento no dia correspondente na Venezuela.”

Após receber asilo político na Espanha, o opositor realizou na semana passada um giro internacional por Argentina, Uruguai e, hoje, foi aos Estados Unidos, onde se reuniu com o presidente Joe Biden. Está previsto que ele ainda viaje a Panamá e República Dominicana.

“Se houvesse alguma racionalidade, um mínimo de racionalidade, o regime de Maduro teria iniciado um processo de aceitação dessa realidade de transição porque, a cada dia que passa, suas chances de negociação diminuem, e não melhoram”, afirma Corina Machado.

– “Vencer o medo” –

Corina Machado passou para a clandestinidade em 1º de agosto, após denunciar ameaças contra sua vida e liberdade. Convocou manifestações para quinta-feira, um teste para a oposição, cujo ímpeto diminuiu com o medo introjetado pela repressão aos protestos que eclodiram depois do anúncio da reeleição de Maduro na madrugada de 29 de julho.

Nessas mobilizações, a repressão resultou em 28 mortes e quase 200 feridos, além de mais de 2.400 detidos em prisões de segurança e acusados de terrorismo.

“Nós venezuelanos sabemos: se todos sairmos, milhões, como podem algumas centenas ou milhares de pessoas armadas [avançar] contra 30 milhões de venezuelanos? E, ao final, a única forma de ser livre é vencendo o medo”, insiste.

Medo de ser presa? “Eu não perderia por nada no mundo esse dia histórico”, responde. “Se algo acontecer comigo, a instrução é bastante clara […], ninguém vai negociar a liberdade da Venezuela pela minha liberdade”.

Contra Corina Machado não há mandado de prisão ou recompensa como acontece com González Urrutia, por quem o governo da Venezuela oferece 100.000 dólares (R$ 611.000, na cotação atual) por informações que levem à sua captura.

“Eu me pergunto por que não oferecem nada por mim, não parece um pouco discriminatório?”, ironiza.

– “Baixar as armas” –

A oposição fez inúmeros apelos às Forças Armadas para que reconhecessem González Urrutia como vencedor das eleições e futuro “comandante em chefe”.

O alto escalão militar ratificou nesta segunda “lealdade, obediência e subordinação” a Maduro, que concedeu muito poder aos militares no governo.

“Nos últimos meses, vimos como mais e mais cidadãos militares resistem a reprimir um povo desarmado”, sustenta Corina Machado. “O que devem fazer é baixar as armas. Aqueles que estão sendo ameaçados para atirar contra as pessoas, simplesmente baixem as armas.”

E “esses poucos que podem estar se beneficiando” do poder “sabem que este é um sistema que não é sustentável”.

Além disso, a líder opositora garante que “muitos” integrantes do governo buscaram aproximação com a oposição para negociar. “Em muitos níveis.”

“Todas estas ameaças e este uso de armas, e esta linguagem obscena e agressiva são dirigidas àqueles que eles sabem que estão dispostos a deixar o regime neste momento.”

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