Desejada por Trump, retomada do Canal do Panamá é tarefa difícil; entenda

Nas últimas semanas, antes de tomar posse como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump declarou publicamente que o Panamá deveria devolver o Canal do Panamá aos EUA e que não descartaria o uso de força militar para recuperá-lo. Em seu discurso inaugural na segunda-feira (20), Trump dobrou a aposta.

A ameaça do republicano de derrubar décadas de política americana e iniciar uma guerra para tomar o canal seria um grande empreendimento de um presidente que se manifestou contra o envolvimento militar americano em conflitos no Oriente Médio, e certamente seria difícil de vender ao público americano.

Foi o ex-presidente Jimmy Carter que negociou a devolução do Canal do Panamá aos panamenhos e garantiu mais de dois terços dos votos no Senado dos EUA necessários para ratificar os tratados do canal em 1978.

Carter sentiu que devolver o canal ao governo do Panamá era a coisa certa a fazer, pois era um legado de uma época em que os EUA exerciam uma política quase colonial sobre a América Central.

Não foi apenas Carter que assinou os tratados do Canal do Panamá: presidentes de ambos os partidos – Ronald Reagan, George H.W. Bush e Bill Clinton – todos se sentiram vinculados aos termos dos tratados, que só foram totalmente implementados quando os Estados Unidos transferiram inteiramente as operações do canal para o Panamá em 31 de dezembro de 1999.

Desde então, a operação do canal pelos panamenhos não é mais um problema, e mais de dois terços dos navios que transitam pelo canal estão chegando ou indo para portos americanos, de acordo com a Administração de Comércio Internacional dos EUA.

Após as afirmações de Trump de que o canal deveria ser devolvido aos Estados Unidos, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, emitiu uma declaração em dezembro na qual afirmou: “Como presidente, quero expressar precisamente que cada metro quadrado do Canal do Panamá e sua área adjacente pertencem ao PANAMÁ e continuarão a ser.”

Em resposta, Trump acrescentou neste mês a ameaça de uma potencial ação militar dos EUA para retomar o canal.

Uma guerra para proteger a zona do canal não seria uma questão pequena. São quase 1300 quilômetros quadrados de território, e a população do Panamá é de 4,5 milhões de pessoas, muitas das quais presumivelmente não ficariam entusiasmadas em estar sob alguma forma de ocupação americana.

Estimativas do Exército dos EUA sugerem que você precisa de um mínimo de “vinte contrainsurgentes por mil residentes para operações efetivas”. Então, dada a população do Panamá, isso seria uma força de cerca de 90 mil soldados americanos.

Esse tipo de operação militar também envolveria os EUA em outra guerra terrestre do tipo que Trump critica há muito tempo.

Além disso, não fica claro sob qual autoridade Trump poderia ordenar que as tropas americanas tomassem o Canal do Panamá. Normalmente, seria necessária uma resolução do Congresso dos EUA para o uso dessa força, como está em vigor desde os ataques de 11 de setembro que autoriza o uso da força contra grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico.

Qualquer tomada militar do Canal do Panamá também seria bastante prejudicial ao comércio global. Cerca de 6% do comércio de todo o mundo passa pelo canal.

Além disso, qualquer ação militar sobre o canal também ocorreria em um momento em que os Houthis no Iêmen interromperam outra rota comercial importante ao mirar regularmente navios no Mar Vermelho com drones e mísseis que estão indo e vindo do Canal de Suez, que responde por outros 12% do comércio global.

Trump construiu sua carreira política pensando fora da caixa, mas tentar retomar o canal – seja intimidando os panamenhos ou usando força militar – seria um empreendimento arriscado com pouca probabilidade de sucesso.

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