No estilo Romeu e Julieta, romance ‘Homens de Barro’ ressalta suavidade da relações

Cuidado, contém spoiler!

Coprodução do Brasil e Argentina, “Homens de Barro” junta clássicos da rivalidade entre famílias, de Romeu e Julieta, e romance LGBT. Com lançamento para 13 de fevereiro, o filme conta a história do romance entre Pássaro (Gui Mallmann) e Ângelo (João Pedro Prates), dois rapazes que precisam burlar as intrigas entre suas famílias e suas próprias inseguranças para conseguirem viver juntos.

Com pouco mais de uma hora, a produção mostra rivalidade nascida por um motivo um tanto quanto banal – os patriarcas de ambas famílias tinham uma rixa por causa de seus negócios de alvenaria -, acaba impactando nas relações anos depois.

Infelizmente, a tragicidade do filme acaba sendo bastante real, já que enfatiza como as pessoas conseguem ser facilmente influenciáveis e podem perpetuar um comportamento controverso por anos. 

No estilo Romeu e Julieta, romance 'Homens de Barro' ressalta suavidade da relações

Em entrevista ao site IstoÉ Gente, a produção e o elenco do longa conversaram sobre o processo de produção e a relação do público com enredos que deixam mais a “sugerir” do que explicitar.

Criação do filme

Sobre a ideia para a criação do filme, o diretor Fernando Musa cita a inspiração na obra de Shakespeare. “Homens de Barro é uma fábula equivalente ao que foi Romeo e Julieta. Essa história deveria ser contada, sobretudo com base na Argentina, onde parecia que a homofobia estava sendo solucionada”, começa.

“Mas agora, com essas mudanças de ar e o novo presidente, todos os que pensam que não é um tabu falar da sexualidade voltaram a ser atacados, é como um retrocesso para a época das cavernas, muito triste. Mas, quando fizemos o filme, tudo o que quisemos contar foi uma história de amor entre homens”, reflete.

Como uma coprodução, a diretora, Angelisa Stein, conta que é uma pressão maior por carregar o nome do país. “Não é o nosso primeiro filme em parceria, a gente tinha feito já um outro longa anteriormente. Então a gente partiu daquela primeira experiência juntos, de buscar financiamento, cada um para o seu lado e montar a equipe técnica e artística Brasil-Argentina”.

“Quando você fala em coprodução internacional, é importante que exista a previsibilidade, porque eu entro com o nome do país, levando ativos criativos, envolvendo a nossa cultura, nossos valores, que vão circular em outros lugares, além do nosso próprio mercado.”

Enredo

Uma história um tanto quanto trágica, grande parte dos momentos emocionais do filme foram feitas com base no improviso. O elenco conta que, com base na preparação para as interpretações, eles se sentiram bastante preparados para a carga emocional de “Homens de Barro”, o que os possibilitou agir de acordo com o que “sentiam”.

“Todas as cenas têm uma textura interessante, no nível de complexidade humana das relações, então entender essa complexidade das relações familiares que ali existem, e como você chegar melhor nessas tensões, nessas microtensões, muitas vezes, isso é desafiador”, relata Alexandre Borin, que interpreta Marciano, irmão de Ângelo.

João Pedro completa: “As falas, aquela cena com aquelas falas que estão no filme, elas foram criadas na nossa preparação, e eu fui para o set com a ideia delas, não com elas na cabeça”.

O elenco ressalta a importância da sutiliza nas cenas, de transmitir algumas coisas apenas com o olhar. O filme não contém muitos diálogos, a grande chave para compreender a história está na interpretação.

“O entender da situação era perfeito e se encaixava propiciamente para o que a gente precisava, independente das falas estarem funcionando, ou decorar a fala na hora para fazer. Mais do que você falar especificamente a frase, o diálogo que está no roteiro, é a importância de entender a cena.”

“Para mim, os filmes sempre se terminam na cabeça dos espectadores. O final aberto te dá uma incerteza de que o autor não te disse tudo, mas também está na sua visão, na sua história de vida, em decidir o final que mais gostar”, começa Musa. “O que mobiliza toda essa tragédia final é a vergonha de ter um irmão gay. Mas talvez, é a vergonha de não se reconhecer a si mesmo como gay. Esse cúmulo de emoções que estão abertas no longa são as que sustentam a atenção do espectador”.

“Um bom diretor é um ilusionista, porque ele vai tornar aquilo em fluidez na tela. Então, são os desafios invisíveis que a gente tem para tornar a história um processo meio ilusionista, de contar uma história”, finaliza Stein.

Veja o trailer

**Estagiária sob supervisão

Adicionar aos favoritos o Link permanente.