Exército israelense se retira do corredor que divide a Faixa de Gaza

O exército israelense se retirou, neste domingo (9), do corredor Netzarim, que divide a Faixa de Gaza em duas e impede que os deslocados retornem ao norte, no âmbito da frágil trégua entre Israel e o movimento islamista Hamas.

Assim que a retirada foi anunciada, filas intermináveis de carros, caminhões e carroças sobrecarregados se formaram, movendo-se em ambas as direções em meio a uma paisagem de ruínas.

Osama Abu Kamil, um homem de 57 anos que teve que viver em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, por mais de um ano, deslocado pela guerra, conseguiu retornar para sua casa em Al Maghraqa, um pouco ao norte do corredor.

“Vou montar uma barraca para mim e minha família perto dos escombros da nossa casa. Não temos escolha”, disse ele, acrescentando que “a vida em Gaza é pior que o inferno”.

O corredor Netzarim era uma faixa de terra estabelecida por Israel que dividia o enclave palestino em duas partes, norte e sul, e que até agora era militarizado pelo exército israelense.

De acordo com uma autoridade do Hamas, a retirada de Netzarim neste domingo faz parte do acordo de trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro, após mais de 15 meses de guerra entre Israel e o grupo islamista.

A guerra começou com um ataque do Hamas em território israelense em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.210 mortos do lado israelense, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.

O Hamas fez 251 reféns em Gaza, dos quais 73 permanecem no território, incluindo 34 que teriam morrido, segundo o exército israelense.

A ofensiva de retaliação israelense deixou pelo menos 48.181 mortos em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas.

– “Fazer o trabalho” –

Com base no acordo de cessar-fogo, Israel e Hamas realizaram várias trocas de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

A quinta troca ocorreu no sábado e levou à libertação de três reféns israelenses e 183 detidos palestinos.

Após a entrega, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamou os membros do Hamas de “monstros” devido à aparência dos reféns.

De acordo com o hospital que os tratou, dois deles, Or Levy e Eli Sharabi, estavam em “mau estado de saúde”, enquanto o terceiro, Ohad Ben Ami, sofria de problemas nutricionais “severos”.

O Hamas denunciou o “assassinato lento” de prisioneiros palestinos em prisões israelenses, após a hospitalização de sete dos recém-libertados.

Após essa troca, espera-se que a próxima fase do cessar-fogo comece, o que deve levar o conflito a um fim permanente.

Nesse sentido, Netanyahu também anunciou o envio de negociadores ao Catar, principal mediador do conflito.

O futuro do território palestino está mais incerto do que nunca depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu o mundo esta semana ao sugerir que seu país deveria “assumir o controle” da Faixa de Gaza e deslocar seus habitantes.

Ele também disse que Egito e Jordânia poderiam acolher os palestinos de Gaza, uma ideia que ambos os países rejeitaram categoricamente.

Em uma entrevista à rede Fox News no sábado, Netanyahu elogiou a ideia de Trump e disse que Israel está disposto a “fazer o trabalho”.

O Egito anunciou que sediará uma cúpula árabe extraordinária em 27 de fevereiro para abordar “os últimos acontecimentos sérios” relacionados aos territórios palestinos.

Vários países árabes, incluindo a Arábia Saudita, condenaram neste domingo os comentários feitos por Netanyahu na quinta-feira, que pareciam sugerir a criação de um Estado palestino em território saudita.

“A lógica por trás deles é inaceitável e está longe da realidade”, disse o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abuk Gheit, em um comunicado, chamando a ideia de “meras fantasias ou ilusões”.

Enquanto isso, a violência continua na Cisjordânia ocupada, onde duas mulheres, uma delas grávida, morreram em uma operação das forças israelenses, de acordo com autoridades palestinas.

Desde o início da guerra em Gaza, pelo menos 886 palestinos, incluindo milicianos, morreram pelas mãos das forças israelenses ou de colonos no território ocupado por Israel desde 1967, de acordo com o Ministério da Saúde palestino.

bur-ser/ami/pc/es/aa/dd

Adicionar aos favoritos o Link permanente.