Cessar-fogo na Ucrânia: o que está em jogo para o agro?

A imprensa americana revelou na última semana semana que Donald Trump tentará pressionar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a aceitar um cessar-fogo com a Rússia até a Páscoa. O acordo incluiria o congelamento do avanço russo, a proibição da adesão da Ucrânia à Otan e a aceitação da soberania russa sobre as terras já anexadas pelo país de Putin. Para o agro, o tema importa, já que grãos, fertilizantes e combustíveis podem ser impactados com o fim da guerra. Confira um trecho da conversa que tive com o consultor da Safras&Mercado, Paulo Molinari!

Essa guerra foi super importante para o agro e agora há uma expectativa de um acordo próximo. Você acredita nesse acordo para cessar fogo? E se esse acordo ocorrer, a Ucrânia volta com mais força ao mercado agrícola, ofertando mais grãos e impactando os mercados?

É…não apenas os grãos, né? Nós devemos lembrar que a Rússia é o maior exportador de trigo mundial, a Ucrânia é um grande exportador de trigo, também é o quarto exportador de milho. Nós temos a Bielorrússia que é o maior exportador de potássio e o KCL da região, que passa por dentro da Ucrânia, utiliza os portos da Ucrânia para seu escoamento. Então todos esses produtos que estão envolvidos, como óleo de girassol, onde a maior fábrica de esmagamento de girassol está na Ucrânia, devem ter seus efeitos práticos e lógicos com uma trégua mais prolongada sobre a guerra. Mas em toda essa negociação, acredito que o que vai pesar mais são as sanções sobre a Rússia e acredito que o presidente russo irá exigir a queda das sanções para poder finalizar ou gerar uma trégua de longo prazo.

No seu cenário base, você trabalha com cessar fogo nessa guerra na Europa para que você possa, inclusive estimar volume de oferta de milho que vai ter no mercado de trigo e também eventualmente um diesel mais barato vindo da Rússia para o Brasil? Entre outros fatores para a gente considerar aqui.

É, o mercado de diesel certamente terá um impacto muito forte. Possivelmente omercado de KCL, que o Brasil é o grande importador e vem aí da Bielorrússia. Mas as safras de milho do ano passado, a safra de milho da Ucrânia foi muito pequena, né? Então ela não tem impacto imediato no mercado. E a safra de trigo já está plantada, então é a safra de inverno, onde a neve cobre o trigo de inverno e essa colheita já está programada. Então isso pode impactar mais na motivação de plantio, principalmente pelo lado da Ucrânia e para a safra 25/26, para a próxima safra.

Dentro das análises da geopolítica com impactos no agro você vê um cenário muito mais propício para um acordo de cessar fogo entre Rússia e Ucrânia e um cenário base de maior oferta então, por exemplo, vinda da Ucrânia para 25/26?

Sim, não pelos dois mais envolvidos, mas pela postura do novo governo americano, que ele veio, está vindo para resolver problemas que estão impactando na geopolítica global. Então a atitude do governo americano sobre a Síria, nós já vimos tropas americanas dentro da Síria, que muito tempo nós não víamos. Nós já vimos aí uma decisão sobre a Palestina, sobre a faixa de Gaza. E agora vamos ver uma decisão americana sobre a Otan e sobre a trégua na região. É uma trégua mais difícil. A atitude do governo americano de exigir as reservas de lítio da Ucrânia como pagamento pelos recursos fornecidos à Ucrânia já é uma forma de pressão para um possível término da guerra.

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