Humilhando seus aliados

Após a primeira rodada de conversas diplomáticas entre Estados Unidos e Rússia, na Arábia Saudita, o desconforto é geral em todo o Ocidente. A escolha da nova administração norte-americana em deixar de lado as formalidades e a tradição, ao não convocar o país invadido para a mesa de negociações, Donald Trump evidencia que a ponte transatlântica que unia europeus e estado-unidenses está definitivamente rompida. Sua postura de elogiar Vladmir Putin e culpar a nação violada pelo conflito, mostra que a longa história que une os dois lados do Atlântico não é mais o suficiente para quem se senta à Casa Branca.

Ao se referir publicamente à Guerra na Ucrânia, Trump chamou Zelensky de ditador, dizendo que governa seu país sem um mandato legítimo, além de acusá-lo indiretamente de desviar fundos enviados para o exército de seu país. O ator e comediante Volodymir Zelensky chegou à política como um outsider, movido pela sua popularidade como figura pública, conseguiu se eleger presidente de uma nação em constante transformação no ano de 2019 e jamais imaginava se tornar um presidente de um período de guerra.

De fato, seu mandato oficialmente se encerrou em 2024, mas a vigência da Lei Marcial na Ucrânia desde fevereiro de 2022 e a logística extremamente complexa para se realizar eleições, fizeram com que ele permanecesse no cargo. São milhões de ucranianos que vivem na Europa como refugiados e outras centenas de milhares alistados no exército do país, transformando qualquer pleito neste momento em uma disputa injusta na condição oferecida para todos os eleitores e sem igualdade aos diversos partidos políticos.

cta_logo_jp
Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!

O caso ucraniano não é novidade na história, já que dezenas de nações em guerra, civil ou regional, sendo autocracias ou democracias, precisaram reajustar o calendário eleitoral e adiar eleições. Ao chamar Zelensky de ditador e não tratar Putin da mesma maneira, Donald Trump, incorre em um enorme ato de hipocrisia, considerando, que o autocrata russo, governa seu país há cerca de 26 anos, sem um judiciário independente, sem imprensa livre e sem ampla oposição permitida pelo próprio executivo e cortes eleitorais. Quando se refere ao dinheiro “desaparecido”, todavia, Donald Trump e todas as lideranças europeias que contribuíram com bilhões para ajudar a ucrânia, têm todo o direito de questionar o governo ucraniano.

Desde a era soviética, até o estabelecimento de sua república, a Ucrânia, sofre um problema endêmico de corrupção, sendo frequentemente considerada uma das três nações mais corruptas da Europa, e onde, oligarquias, tais quais existem na Rússia, também exerçam enorme influência política regional e nacional. Neste caso, o presidente ucraniano, caso queira responder de forma eloquente, assim como fez com as acusações de ser um “ditador”, precisará mostrar as contas e gastos de forma detalhada àqueles que mais pagaram por sua defesa até o momento.

Apesar da exaustão bélica e econômica causada por essa guerra em todo o mundo, a postura escolhida por Donald Trump, não demonstra um interesse em finalizar o conflito para o bem dos russos ou dos ucranianos, mas apenas como uma maneira de enfatizar a sua hegemonia geopolítica perante todas as nações, sublinhando que humilhará até mesmo seus aliados mais próximos se for necessário. Na mentalidade MAGA, há apenas uma superpotência, e não há necessidade de dividir os louros com ninguém.

O republicano que agora comanda novamente o mais poderoso exército do planeta, sabe, que para os seus sonhos de grandeza intermináveis serem alcançados, dividir a governança global da metade democrática do mundo com a Europa, o Canadá, Japão e Austrália, não é uma opção. Por isso mesmo, que por mais quatro anos não veremos apenas o isolacionismo e protecionismo norte-americanos no primeiro plano, mas a humilhação pública de velhos conhecidos como ferramenta política de dominação global.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.