Palestinos temem expulsão ao estilo de Gaza no campo de Jenin, na Cisjordânia

Escavadeiras israelenses demoliram extensas áreas do campo de refugiados de Jenin, agora praticamente vazio, para abrir estradas largas no meio dos becos antes lotados, repetindo táticas já empregadas em Gaza, à medida que tropas se preparam para uma permanência de longo prazo.

Ao menos 40 mil palestinos deixaram suas casas em Jenin e na cidade vizinha de Tulkarm, no norte da Cisjordânia, desde que Israel iniciou sua operação no local, após um acordo de cessar-fogo na guerra contra o grupo radical islâmico Hamas ser firmado para encerrar gradualmente o conflito.

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Jenin é uma repetição do que aconteceu em Jabalia“, disse Basheer Matahen, porta-voz da prefeitura da cidade, referindo-se ao campo de refugiados no norte de Gaza que foi esvaziado pelo Exército israelense.

Segundo Matahen, ao menos 12 escavadeiras trabalhavam na demolição de casas e da infraestrutura do campo, que já foi um abrigo populoso de descendentes de palestinos que fugiram de suas casas ou foram expulsos na guerra de 1948.

Equipes de engenharia do Exército puderam ser vistas fazendo os preparativos para uma permanência de longo prazo, trazendo tanques de água e geradores para uma área especial, disse Matahen.

O Exército israelense não fez comentários sobre o ocorrido, mas o ministro da Defesa, Israel Katz, ordenou que tropas se preparassem para “uma permanência prolongada”, dizendo que os acampamentos foram esvaziados “para o próximo ano” e que os residentes não teriam permissão para retornar.

A operação de um mês no norte da Cisjordânia foi uma das maiores já vistas desde o levante dos palestinos na Segunda Intifada, há mais de 20 anos. As ações envolvem várias brigadas de tropas israelenses apoiadas por drones, helicópteros e, pela primeira vez em décadas, tanques de guerra.

“Há uma expulsão ampla e contínua da população, principalmente nos dois campos de refugiados, Nur Shams, perto de Tulkarm, e Jenin”, disse Michael Milshtein, ex-oficial da inteligência militar que dirige o Fórum de Estudos Palestinos no Centro Moshe Dayan de Estudos do Oriente Médio e da África.

Israel lançou a operação com o objetivo declarado de enfrentar grupos militantes apoiados pelo Irã, como o Hamas e a Jihad Islâmica, que estão instalados em campos de refugiados há décadas, apesar das repetidas tentativas israelenses de eliminá-los.

Porém, com o passar das semanas, os palestinos disseram que a verdadeira intenção parece ser o deslocamento permanente e em larga escala da população, destruindo casas e impossibilitando sua permanência.

Israel quer acabar com os campos e a memória dos campos, moral e financeiramente. Quer apagar o nome dos refugiados da memória do povo“, disse Hassan al-Katib, de 85 anos, que morava no campo de Jenin com 20 filhos e netos antes de abandonar sua casa e todos os seus pertences durante a operação israelense.

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