Nicarágua deixa OIT e OIM e acusa agências de ‘ingerência’ e ‘falsidades’

O governo da Nicarágua anunciou, nesta sexta-feira (28), sua retirada da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), acusando as duas agências da ONU de “ingerência”, “falsidades” e ação “politizada”.

“Notificamos à OIT e à OIM a decisão soberana e irrevogável de nos retirarmos” desses organismos “que não cumprem com a missão para a qual foram criados”, anunciou Rosario Murillo, que governa conjuntamente com o marido, Daniel Ortega.

O governo da Nicarágua comunicou a decisão um dia após ter se retirado do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o que foi considerado como um “sinal alarmante de isolamento” por nove países que formam um grupo que investiga a situação no país centro-americano.

“Reiteramos nossa posição irrevogável, firme, de repúdio a todos os insultos, ofensas, falsidades, agressões, o padrão duplo da política colonialista que rege as ações” desses organismos, afirmou Murillo.

A copresidente da Nicarágua, de 73 anos, afirmou que a OIT agiu de forma “politizada, se prestando a manobras de desestabilização e ingerência” ao avaliar queixas de empresários e empregados sobre violações dos direitos trabalhistas.

Por sua vez, a OIM, segundo o governo, publicou “informações falsas, mal-intencionadas e irresponsáveis” em seu relatório de 2024 sobre migração, no qual aponta a Nicarágua como a origem de milhares de migrantes que solicitam asilo.

Ortega, um ex-guerrilheiro de 79 anos que governou a Nicarágua na década de 1980 após o triunfo da revolução sandinista, está no poder desde 2007 e seus críticos o acusam de instaurar uma “ditadura familiar” junto com sua esposa.

Ambos aumentaram o controle sobre a sociedade nicaraguense após os protestos de 2018, que consideraram uma tentativa de golpe de Estado patrocinado por Washington, e cuja repressão deixou mais de 300 mortos, segundo a ONU.

Após os protestos, milhares de nicaraguenses saíram para o exílio e cerca de 450 críticos e opositores tiveram sua nacionalidade retirada e seus bens confiscados após serem acusados de “trair a pátria”.

Segundo o Grupo de Especialistas em Direitos Humanos sobre a Nicarágua, o governo recrutou “funcionários públicos” para formar uma espécie de exército de dezenas de milhares de encapuzados para vigiar e reprimir a população, como aconteceu nos protestos de 2018.

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