O que a Ucrânia pode esperar da reunião com os EUA em Riad

Delegados de Kiev e Washington querem se reunir na Arábia Saudita e discutir posições a serem tomadas em possíveis negociações de paz com a Rússia. Qual a importância do encontro, e o que os ucranianos ganhariam com ele?O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, vai à Arábia Saudita nesta segunda-feira (10/03), onde está planejada uma reunião com uma delegação da Ucrânia e dos EUA. Se tudo correr conforme o planejado, essa será a primeira reunião ucraniana-americana desde a discussão diante das câmaras de TV entre os dois presidentes na Casa Branca em 28 de fevereiro.

No bate-boca, o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu vice-presidente, J.D. Vance, acusaram Zelenski de ingratidão pela ajuda dos EUA à Ucrânia e de falta de vontade de acabar com a guerra iniciada pela Rússia. A visita acabou sendo cancelada, e o presidente ucraniano deixou Washington. No entanto, não haverá outra reunião entre Zelenski e Trump em Riad.

A viagem de Zelenski ocorre para repor um compromisso anterior: na verdade, ele havia planejado visitar a Arábia Saudita em meados de fevereiro, mas cancelou em cima da hora quando ficou sabendo que uma reunião entre uma delegação russa e uma americana estava planejada para 18 de fevereiro. “Nenhuma decisão sobre como acabar com a guerra na Ucrânia pode ser tomada sem a Ucrânia. (…) Não fomos convidados para essa reunião. (…) Isso foi uma surpresa para nós, como foi para muitos outros”, disse Zelenski na época.

Agora, em vista da visita planejada à Arábia Saudita, ele anunciou no Telegram que estava planejando uma reunião com o príncipe herdeiro e primeiro-ministro saudita, Mohammed bin Salman. E acrescentou: “A Ucrânia está muito interessada na paz. Como já dissemos ao presidente Trump, a Ucrânia está trabalhando de forma exclusivamente construtiva para uma paz rápida e confiável e continuará a fazê-lo.”

A Arábia Saudita será o primeiro país que Trump quer visitar em seu segundo mandato como presidente dos EUA – dentro das próximas seis semanas, de acordo com ele próprio.

Como a Arábia Saudita entrou em cena?

A Arábia Saudita está envolvida nas negociações com a Ucrânia por um motivo muito específico, acredita Ivan Us, do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos, da Ucrânia. “Isso tem a ver com as negociações entre os EUA e a Arábia Saudita. E as declarações de que a Arábia Saudita deve investir um trilhão de dólares na economia americana. Para conseguir isso, os EUA estão aumentando a importância geopolítica da Arábia Saudita”, disse ele em entrevista à DW.

Volodimir Zelenski, por outro lado, concordou em ir a Riad para demonstrar sua disposição de manter conversações com os EUA, o que seus parceiros europeus pediram que ele fizesse, de acordo com Us. “Essa reunião deve confirmar que há um diálogo e também é um sinal para os parceiros europeus de que eles não querem escalar o conflito, mas sim neutralizá-lo”, acredita o especialista.

Embora a reunião ucraniano-americana na Arábia Saudita seja de natureza mais técnica, ela é importante para a compreensão das novas medidas tomadas pelos EUA em relação à Ucrânia, avalia Olexiy Haran, da Universidade Nacional da Academia Kyiv-Mohyla, em Kiev.

“Esse não será o estágio final da preparação para a assinatura de qualquer documento. Para a Ucrânia, o mais importante agora é entender o que Trump quer dela”, enfatiza o cientista político. “Enquanto os EUA estão exigindo concessões da Ucrânia, a Rússia não fez nenhuma”, observa Haran, lembrando que a Rússia está constantemente bombardeando cidades ucranianas e avançando na linha de frente.

Primeiro passo para negociações

Os observadores não descartam a possibilidade de que um acordo sobre a extração das chamadas terras raras na Ucrânia pelos EUA esteja na mesa de negociações na Arábia Saudita. Esse acordo estava previsto para ser assinado na Casa Branca no dia da discussão entre Zelenski e Trump. Zelenski já havia sinalizado sua disposição de assinar um acordo similar na época.

“Sem um acordo sobre matérias-primas, os EUA dificilmente desejariam continuar o diálogo sobre um futuro acordo de paz”, diz Oleksandr Kraiev, do centro de análise Ukrainian Prism, especializado em política externa e segurança internacional. Ele supõe que a Ucrânia queira chegar a um acordo sobre esse pacto durante essa reunião, pelo menos em nível de conselheiros.

“Sem esse acordo, não faremos nenhum progresso. Mesmo que os americanos não queiram incluir garantias de segurança ou um componente político completo, isso garantirá que o governo Trump esteja pronto para novas conversas”, acredita Kraiev. Segundo o especialista, essa seria uma oportunidade para a Ucrânia mostrar seu melhor lado, a fim de negociar melhores condições políticas.

Possíveis concessões territoriais

Os analistas também dizem que os EUA poderiam pressionar a Ucrânia a fazer concessões territoriais, embora Kiev não tenha se mostrado pronta para isso até o momento.

“As chamadas concessões – a questão das regiões, o reconhecimento da anexação e todas as questões complexas – muito provavelmente serão deixadas de fora dessas negociações preliminares e só serão discutidas em contato direto com Moscou. Antes de tudo, é preciso encontrar um mínimo denominador comum que seja o menor possível, para que ambos os lados possam aceitá-lo”, disse Kraiev.

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