Lula fala em ação drástica para baixar preço do alimento

Na última semana, o presidente Lula afirmou que poderia tomar medidas drásticas para baixar o preço dos alimentos. A fala acontece após o governo reduzir a alíquota de importação de alimentos como café, milho, açúcar e carnes e outros produtos. O agro enxerga na frase a possibilidade de taxação das exportações. Confira um trecho da entrevista com o consultor agro do Itaú BBA, Cesar de Castro:

Se as medidas anunciadas nesta semana, como por exemplo zerar imposto de importação para alguns alimentos não funcionarem para baratear o preço da comida a população, o presidente está falando em medidas drásticas não pacíficas porque o foco é baratear o preço da comida. Isso significa o que?

É muito difícil dizer o que está por trás das entrelinhas, mas o que se entende que seria drástico e muito ruim seria controle de exportações né? Claro que o presidente faz um aceno político. Nós entendemos que essa medida de zerar as alíquotas de importação é totalmente inócua, não vai ter efeito nenhum. São produtos que o Brasil é líder mundial, café, açúcar, carne. Nós somos os mais competitivos, exportamos porque temos sobras.

Em alguns casos, eu discordo um pouco da nota da da Frente Parlamentar [da Agropecuária] de que não há problema de oferta. Em alguns casos há sim. É o caso do café, houve um problema mundial o ano passado no Vietnã e agora o Brasil caminha para uma safra novamente ruim de arábica. Então essa é uma das grandes justificativas para a alta dos preços. Se fizesse sentido importar, nós importaríamos a preços também ligados ao mercado em Nova York e Chicago, então nós também estaríamos importando os preços internacionais. Então não faz o menor sentido.

Então não há um possivelmente efeito em nenhum desses produtos, talvez algum alívio no macarrão porque o trigo, sim, nós importamos e eventualmente pode ajudar, mas isso na margem. Se pensar em milho, café, açúcar, óleo, não faz o menor sentido.

Então, sim, o presidente deve estar pensando em medidas drásticas e o grande risco é isso caminhar para um um flerte com medidas de restrição da exportação, que seria absolutamente um tiro no pé. Temos aqui do lado um exemplo clássico de uma desastrada intervenção histórica que foi feita na pecuária da Argentina que literalmente travou o setor por décadas. Só agora mais recentemente que a gente tem visto um pouco mais de estímulo. E o Brasil explodiu de crescimento durante esses anos que a Argentina ficou completamente para trás devido a esses controles de exportação.

cta_logo_jp
Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp!

Então isso é muito ruim, teria um efeito muito grave de desestimular o setor a produzir, o Brasil perderia participação. Já está sendo um ano difícil para os produtores em muitos casos com margens baixas. Quando os preços caem muito e os lucros inexistem no agro, isso nunca se fala. E em momentos de preços mais elevados é um momento de ajuste. Então há muito pouco que se fazer do ponto de vista de controle de oferta de alimentos. O que deveria ser feito e possivelmente não estará na mesa é o ajuste fiscal, cuidar das contas públicas para criar condições para que o câmbio aprecie e a gente possa ver a inflação ficar menos pressionada.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.