O que fez Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, trocar o PSDB pelo PSD

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, concretizou uma aguardada negociação política ao marcar para esta segunda-feira, 10, sua filiação ao PSD.

O desfecho aprofunda a crise que pode levar seu antigo partido, o PSDB, à extinção, ao mesmo tempo em que reforça a ala de sua nova sigla que nutre simpatia pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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A ex-esperança tucana

Após seis anos como prefeita de Caruaru, Lyra foi eleita para o Palácio do Campo das Princesas em uma virada no segundo turno das eleições de 2022, contra Marília Arraes (Solidariedade), que tinha o apoio de Lula e da família Campos, grupo político mais popular do estado.

Sua vitória foi um dos poucos triunfos do PSDB naquele pleito, em que registrou o pior desempenho de sua história, elegendo 13 deputados federais, nenhum senador e três governadores — Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e a pernambucana.

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A escassez de lideranças fortaleceu a governadora no ninho tucano, onde se tornou uma esperança de retomada. Mesmo a nível local, porém, a legenda já parecia “pequena demais” para a filiada. Eleita apenas com os apoios de Cidadania e PRTB, ela negociaria com uma Assembleia Legislativa repleta de opositores ligados ao lulismo, popular no estado.

Para ampliar a base, Lyra atraiu outras forças ainda no primeiro ano de mandato. Em um símbolo desse esforço, nomeou Cacau de Paula (PSD) para a Secretaria de Cultura em agosto de 2023. Ex-secretária de João Campos (PSB) na prefeitura do Recife, ela é filha de André de Paula, ministro da Pesca e Aquicultura de Lula, que na época disse que seria “uma honra” tê-la como colega de partido.

Rota para 2026

Com sustentação parlamentar e uma trajetória sólida de entregas, Lyra mudou o foco para seu projeto de reeleição em 2026, quando deve enfrentar justamente João Campos, reeleito com votação histórica na capital, que não admite publicamente estar no páreo. Na pesquisa mais recente divulgada pela Quaest para o cargo, o pessebista apareceu na frente, com 56% das intenções de voto, contra 28% da mandatária.

O primeiro confronto entre os dois foi travado nas disputas municipais, quando o prefeito ajudou a aliados a serem eleitos em cidades grandes, como Petrolina e Guaranhuns, e a governadora consolidou um PSDB líder em prefeituras no estado, com 32.

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Apesar da expansão pernambucana, contudo, o partido saiu ainda mais enfraquecido das urnas a nível nacional e, sob o risco de perder acesso aos recursos do fundo eleitoral e cair de fato no ostracismo, passou a discutir a possibilidade de se fundir a outra sigla — conjunção de fatores desanimadora para postulantes à reeleição.

Em meio à incógnita, Lyra disse à TV Bandeirantes em fevereiro que o PSDB “deveria ter pressa” para definir seus rumos e reclamou da postura tucana de oposição ao governo Lula, pregando independência.

O presidente teve 66,9% dos votos no segundo turno de 2022 em Pernambuco e, a princípio, estaria com Campos em 2026, mas a tendência pode mudar com a migração da governadora para um partido que chefia três ministérios na Esplanada — apesar das críticas de seu presidente, Gilberto Kassab –, forçando o petista a uma posição de neutralidade, conforme reportou o colunista Guilherme Amado.

O PSDB, por sua vez, segue na oposição à gestão federal, não se definiu quanto ao próprio futuro e se distanciou das negociações com siglas mais estruturadas, como o MDB e o próprio PSD. Raquel cansou de esperar, e o partido passa a ter dois governadores. Já o partido de Kassab chega a três, com Ratinho Júnior, do Paraná, e Fábio Mitidieri, do Sergipe, além da agora ex-tucana.

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