Bloqueio do TikTok gera protesto na Albânia

""VocêJovens foram às ruas contra banimento do aplicativo chinês de vídeos curtos. Governo diz querer proteger juventude, enquanto oposição alega censura antes das eleições gerais de maio.É sábado à noite em Tirana, capital da Albânia, e Martin B., de 14 anos, está sentado na calçada em frente ao prédio que abriga o gabinete do primeiro-ministro. Ele e outras centenas de jovens se reuniram ali para protestar contra a decisão do governo de bloquear o TikTok por 12 meses.

O protesto foi convocado pela oposição albanesa depois que o governo de esquerda do primeiro-ministro do país, Edi Rama, decidiu proibir o aplicativo de compartilhamento de vídeos curtos sob o argumento de que ele estaria alimentando a violência juvenil nas escolas.

Martin B. diz que, embora ele não goste de política, a decisão do governo “não é uma solução inteligente”.

“Banir o TikTok não resolverá a situação”, afirma. “Pelo contrário, criará problemas maiores. Porque os jovens encontrarão outros aplicativos pró-chineses para navegar – como está acontecendo nos Estados Unidos – e eles vão poder roubar mais dados e informações confidenciais de nossos telefones.”

A indignação de um pai

A proibição foi desencadeada pela morte de outro garoto de 14 anos chamado Martin, esfaqueado por um colega em sua escola em Tirana, em novembro passado, após uma discussão na mídia social que já durava vários dias.

Um mês depois, o governo decidiu proibir o TikTok.

O pai do menino, Engjell Cani, diz à DW que “Martin nunca teve uma conta no TikTok, e ele não morreu por causa do TikTok”.

“Nossa família condena o uso do assassinato de nosso filho para fins políticos”, afirma Cani. “Acompanhamos com profunda dor e indignação a forma como nossa tragédia está sendo usada para fins políticos e para justificar a decisão do governo de fechar a rede social TikTok.”

TikTok não estava envolvido

O próprio TikTok também confirmou que Martin Cani não usava o aplicativo. O TikTok, que é propriedade de uma empresa chinesa, se pronunciou imediatamente após o anúncio da proibição pelo governo, em dezembro. No comunicado, a plataforma afirma que os vídeos que levaram ao esfaqueamento “estavam sendo publicados em outra plataforma, não no TikTok”, e que estava buscando mais esclarecimentos do governo albanês.

Em janeiro, o primeiro-ministro albanês se reuniu com Christine Grahn, diretora de relações governamentais e políticas públicas do TikTok para a Europa. Ele descreveu o encontro como “totalmente franco e construtivo” e disse que os dois haviam “estabelecido vários marcos de colaboração para as próximas semanas e meses”.

Nem o governo albanês nem o TikTok emitiram uma declaração oficial após a reunião, que foi vista na Albânia como uma indicação de que o governo poderia estar repensando sua posição sobre o veto à plataforma do TikTok.

Mas quando o governo anunciou, em 7 de março, que pretendia levar a proibição adiante, os partidos de oposição alegaram que a medida era motivada pela eleição parlamentar em 11 de maio.

Bloqueio já começou

Após a decisão do governo, a Autoridade Nacional de Segurança Cibernética da Albânia (AKSK) ordenou que todos os provedores de internet do país enviassem uma confirmação por escrito de que, até a última quinta-feira (13/03), o TikTok seria bloqueado na Albânia.

Isso inclui o bloqueio de endereços IP e servidores DNS relevantes vinculados ao aplicativo, assim como os endereços da empresa ByteDance, que permite que os usuários naveguem no TikTok apesar da proibição.

A medida adotada da Albânia segue-se a bloqueios totais ou parciais determinados em pelo menos 20 outros países, em razão de preocupações com conteúdo impróprio de vídeo ou com questões de segurança.

Alegações de censura pré-eleitoral

O líder do Partido Democrático, Sali Berisha, chamou a medida de censura antes das eleições gerais.

O primeiro-ministro albanês, Edi Rama, espera conquistar um quarto mandato em maio.

De forma incomum para o líder da oposição, Berisha não se pronunciou no protesto, que durou cerca de uma hora, dando a palavra a jovens manifestantes, que seguravam cartazes com slogans como “Você também mandou o TikTok para a emigração” e “Liberdade de expressão, não censura”.

Mas enquanto o governo e a oposição discutem sobre a proibição, o adolescente Martin B. continua preocupado e acredita que o bullying e a violência nas escolas albanesas continuarão.

“Não tenho certeza se os incidentes em nossas escolas vão parar com a proibição do TikTok”, diz.

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