TikTok enfrenta contagem regressiva decisiva nos EUA

Trump voltou a estender prazo para venda da rede social. Segundo o presidente, quatro grupos têm interesse em adquirir aplicativo chinês, mas tarifas bloquearam negociação.O TikTok já deveria ter sido banido nos Estados Unidos, de acordo com a lei americana. No ano passado, a Casa Branca exigiu que as operações do aplicativo no país fossem vendidas a um comprador não chinês, mas a administração de Donald Trump vem trabalhando para ampliar o prazo da proibição e fechar um acordo para a venda das operações da empresa nos EUA.

O veto à plataforma foi aprovado pelo Congresso americano diante de temores de que o aplicativo seja instrumentalizado politicamente por Pequim.

Na sexta-feira passada, Trump estendeu pela segunda vez o prazo para o TikTok encontrar um comprador, dando mais 75 dias. No entanto, a guerra tarifária aberta pelo presidente americano bloqueou as negociações e travou o acordo.

Segundo o próprio presidente, a China teria concordado com um acordo se Washington não tivesse imposto novas tarifas contra Pequim.

“Tínhamos um acordo praticamente fechado para o TikTok — não um acordo, mas bem próximo disso — e então a China mudou o acordo por causa das tarifas. Se eu fizesse um pequeno corte nas tarifas, eles aprovariam em 15 minutos, o que mostra o poder das tarifas”, disse ele a repórteres neste domingo (06/04).

Embora tenha confirmado que estava em negociações com o governo dos EUA para encontrar uma solução, a empresa alertou que ainda restavam “questões-chave” a serem resolvidas. “Um acordo não foi executado” e qualquer decisão estaria “sujeita à aprovação sob a lei chinesa”, acrescentou.

Até o momento, porém, autoridades chinesas se mostram publicamente contra a venda e deixam claro que o algoritmo usado pela empresa é uma tecnologia que não pode deixar a China. Não está claro se eles reconsideraram essa posição.

“Adversário estrangeiro”

A lei aprovada no ano passado exige que o aplicativo de compartilhamento de vídeos, que tem mais de 170 milhões de usuários americanos, se desvincule de seu proprietário chinês, a ByteDance.

A regra visa “aplicativos controlados por adversários estrangeiros” e menciona especificamente o TikTok. Com isso, apenas 20% da plataforma pode ser de propriedade de indivíduos ou empresas localizadas em países classificados como “adversários estrangeiros” — título que os EUA atribuíram à China.

Parlamentares americanos acusam a empresa de se apropriar de dados de usuários e manipular o tipo de conteúdo disponibilizado ao público dos EUA. A lei recebeu amplo apoio bipartidário no Congresso e foi sancionada por Joe Biden em abril do ano passado.

Originalmente, a empresa teria até o dia 19 de janeiro de 2025 para vender sua participação — um dia antes da posse de Donald Trump.

O aplicativo chegou a ser desligado e retirado das lojas de aplicativos, mas retomou a operação após Trump assinar uma primeira ordem executiva para dar mais tempo às negociações de venda. O novo prazo, que terminava em 5 de abril, foi estendido mais uma vez.

Empresas americanas já detêm ações do TikTok

Atualmente, o TikTok é uma subsidiária integral da ByteDance, uma empresa privada. Cerca de 60% das ações da gigante de tecnologia pertencem a investidores institucionais globais. Outros 20% pertencem ao seu fundador e 20% aos funcionários.

Embora esses números divulgados pelo TikTok não possam ser verificados — já que a empresa não é obrigada a divulgar relatórios oficiais —, é consenso que grande parte da propriedade já está nas mãos de investidores fora da China, inclusive nos Estados Unidos.

A empresa de tecnologia e investimentos Susquehanna International Group, com sede na Pensilvânia, é a maior investidora externa e já possui 15% da ByteDance. Arthur Dantchik, cofundador da Susquehanna, compõe o conselho de cinco membros da ByteDance.

Outros investidores externos incluem a Sequoia Capital e a General Atlantic, ambas com sede nos EUA. William E. Ford, CEO da General Atlantic, também faz parte do conselho da ByteDance.

Quem está na fila para comprar o TikTok?

Em março, Trump afirmou que havia quatro grupos interessados em adquirir a operação americana do TikTok.

Entre os nomes mencionados pela imprensa dos EUA como possíveis envolvidos nas negociações está o ex-secretário do Tesouro de Trump Steven Mnuchin. Em 2020, durante seu mandato, ele foi um defensor ativo da venda do TikTok.

Outros investidores em potencial incluem Amazon, Microsoft, a startup de inteligência artificial Perplexity AI, a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz e um grupo liderado pelo bilionário americano Frank McCourt.

A firma de capital privado Blackstone Group também foi citada. Seu CEO, Stephen Schwarzman, é um apoiador declarado de Trump. Alguns sugerem ainda que o próprio governo dos EUA poderia adquirir uma participação na empresa.

Mas o candidato mais provável para liderar uma eventual aquisição é a multinacional de tecnologia Oracle. A empresa já atua na operação americana do TikTok e demonstrou interesse em comprá-lo durante o primeiro mandato de Trump.

Desde 2020, a Oracle é responsável pela manutenção dos dados de usuários do TikTok em servidores dentro dos EUA. Desde o início deste ano, vem incluindo medidas adicionais de segurança, com o objetivo de garantir conformidade com as regulamentações americanas. Muitos acreditam que a Oracle manterá, ao menos, um papel operacional caso o TikTok continue a funcionar nos EUA.

O que Trump quer da China?

É difícil estabelecer um valor de mercado para o TikTok neste momento, devido às muitas incertezas — especialmente se o algoritmo do aplicativo não fizer parte do acordo de venda.

No entanto, qualquer um dos investidores atuais poderia aumentar sua participação ou formar consórcios com outros, injetando novo capital. Uma nova estrutura de propriedade com maior participação de investidores americanos poderia reduzir a influência chinesa e evitar uma venda completa.

Trump disse que uma possível redução tarifária poderia ser incluída nas negociações. Ele já impôs tarifas sobre importações chinesas que totalizam 54%, e ameaça aumentá-las.

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