
A afirmação “Presidente não sabe articular com o Congresso” pode servir para identificar alguns dos últimos chefes do Executivo. Collor foi turrão. Achou que poderia governar sozinho, sem a Câmara e o Senado, apenas com respaldo do apoio popular, e deu no que deu: foi impichado.
A esquerda montou verdadeira arapuca, e ele caiu na armadilha. Em célebre reunião com os taxistas, o “Caçador de Marajás” pediu para que a população saísse às ruas vestida de verde e amarelo, mas foi contrariado: o povo, envolvido pelo discurso dos adversários, desfilou de preto. Vale lembrar que Collor foi mais tarde inocentado de todas as acusações.

O alerta de Roberto Jefferson
Seu advogado na CPI, Roberto Jefferson, já alertava: “Não pensem aqueles que assistiram à demonstração de hoje que esse ato de rasgar a Constituição não atingirá também quem chegar à Presidência sem maioria no Congresso, porque não terá condições de governar. Outras CPIs como esta estarão em seu caminho, não para apurar irregularidades, mas por preconceitos ideológicos, por posições doutrinárias em contrário”.
Dilma foi uma articuladora incompetente. No seu caso, além de ter o povo contra si, protagonizando manifestações jamais vistas até então, parecia não saber exatamente o que o Congresso representava. Às vésperas da votação do impeachment, atirou no próprio pé.
Tentando seduzir os deputados, convidou-os para um café da manhã. Dizem que durante a recepção, deu-se conta de que não sabia quem era quem. Sem conseguir chamá-los pelo nome, gastou tempo, dinheiro e esforço para piorar a situação. Sua posição, que já era frágil, tornou-se irreversível.
Bolsonaro teve de se virar
Bolsonaro quase caiu na mesma cilada. O presidente da Câmara era Rodrigo Maia, seu declarado desafeto. Apenas para citar alguns dos inúmeros projetos do Executivo que ele engavetou: prisão após condenação em segunda instância, ensino domiciliar, flexibilização do porte de armas, escola sem partido, fim do foro privilegiado e até isenção de taxas para emissão da carteira de estudante.
Maia não levava os projetos à votação; deixava vencer os prazos. Se Bolsonaro não agisse rápido e articulasse com o centrão, mesmo contando com extraordinário apoio popular, talvez nem tivesse chegado ao fim do mandato. Foi por essa habilidade política que Rodrigo Maia não conseguiu dar andamento a mais de uma centena de pedidos de impeachment.
Alcolumbre também atrapalhou
O presidente do Senado, David Alcolumbre, também não nutria nenhuma simpatia por ele. Um exemplo? A demora sem precedentes para realizar a sabatina de André Mendonça para o STF. Foram longos 134 dias. E, sem corar, explicou: “A eventual omissão na deliberação de uma proposta do Executivo, ainda que fosse intencional, não consistiria em ilícito, seja porque o processo legislativo não está sujeito a prazos peremptórios, seja ainda porque a deliberação por não agir, dentro do Congresso Nacional, constitui opção legítima de atuação política e, portanto, não pode ser qualificada como ilegal.” Çei…
Experimentando do mesmo veneno
Ou seja, Bolsonaro teve de governar com o Congresso contra. Por mais que tentasse se aproximar, encontrava resistências de toda ordem. A oposição o criticava por não saber articular. Diziam que suas ações eram autoritárias e que não poderia impor nada goela abaixo.
Agora é Lula quem experimenta do mesmo veneno. Apesar da fama de articulador hábil, não tem conseguido êxito em suas ações. Suas excelências estão com a faca e o queijo na mão. Ou alguém duvida de que boa parte do poder que deveria ser do Executivo foi transferida para o Congresso?
Há políticos rejeitando ministérios
Só para citar um exemplo da gravidade dessa inversão: o Orçamento de 2025 foi votado apenas em março. E só saiu após a liberação de recursos que estavam represados por falta de transparência. Dora Kramer escreveu, na Folha, que vivemos uma “escandalosa chantagem”. O recado é claro: sem liberação de verbas, nada feito.
Não tem jeito. Se um presidente não é eleito com maioria dos congressistas, ficará isolado, contando com a boa vontade de adversários que, em geral, querem apenas ver suas conveniências atendidas. Nem a entrega de ministérios tem resolvido essa “articulação”. Dizem até que alguns políticos recusaram convites para assumir determinadas pastas.
Sem contar que outros, e não são poucos, já manifestaram o desejo de se candidatar a cargos no Congresso, pois sabem que lá terão mais poder do que no Executivo. Portanto, é ilusão pensar que um presidente manda e faz o que bem entende. Na prática, hoje, é quem menos manda no país. E ainda tem gente sonhando com um Bukele para nos presidir… Aqui, talvez nem ladrão de celular ele conseguisse prender. Siga pelo Instagram: @polito