Ator e diretor, Guilherme Weber está prestes a completar 35 anos de carreira com muito trabalho. No elenco da novela “Volta por Cima”, sucesso das 19h da Globo que chegou ao final neste final de semana onde ele viveu o bicheiro Marco, o artista prepara para o segundo semestre do ano a estreia de seu quarto monólogo: “O Corpo Mais Bonito já Visto Nesta Cidade”.
A montagem, que ficará em temporada no Teatro Sesi, no Rio de Janeiro, tem texto inédito no Brasil do catalão Joseph Maria Miró sobre o assassinato de um menino de 17 anos num vilarejo, levantando temas como abusos, homofobia e desesperanças.
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E o ator não pára por aí. Weber também aguarda o lançamento do longa “Dr. Monstro”, do premiado diretor Marcos Jorge, um true crime baseado na história do cirurgião plástico Farah Jorge Farah, que matou e esquartejou a namorada e cujo julgamento polêmico marcou a história recente do judiciário brasileiro. A produção conta ainda com Taís Araújo e Marat Descartes.
Se a agenda de 2025 já está cheia, 2026 entra nos planos. Para o ano que vem, Guilherme Weber será o diretor da versão brasileira de “Plaza Suíte”, um clássico da comédia de Neil Simon que teve temporada triunfal em NY e em Londres, marcando o retorno de Sarah Jessica Parker e de seu marido, Matthew Broderick, aos palcos.
Já em 2027, o diretor ficará à frente da nova montagem de “Chanel”, com texto de Maria Adelaide Amaral, sobre as memórias da estilista francesa. O espetáculo foi sucesso na interpretação de Marília Pêra em 2004 e voltará aos palcos, desta vez, estrelado por Christiane Torloni.
Com mais de 20 trabalhos na TV, Guilherme Weber ganhou destaque ao dar vida ao vilão Tony de “Da cor do pecado”, em 2004. No cinema, o artista contabiliza dezenas de longas, como os aclamados “Olga” e “Árido movie”. Ele ainda assina a direção do filme “Deserto”, com Lima Duarte no elenco, vencedor de diversos prêmios, como o de Melhor Direção no Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles.
Nos palcos, ele já esteve em diversos espetáculos, como “Fantasmagoria IV”, com direção de Felipe Hirsch, em 2024.
Em bate-papo para o site IstoÉ Gente, o ator e diretor falou sobre seus próximos trabalhos, que já ocupam sua agenda até 2027.
Você vai dirigir a nova montagem da peça Chanel em 2027. Como surgiu o convite pra esse trabalho? E por que ter Christiane Torloni como protagonista?
Fui convidado pelos produtores Bruna Dornellas e Wesley Telles, da WB Produções, que tiveram a ideia de uma nova versão do texto de Maria Adelaide Amaral. Sempre admirei a estatura de mito de Chanel. Somado às recentes e complexas descobertas sobre seu passado e a curiosidade de ver esta personagem na frente de uma nova geração, moldada pelo TikTok e pelo politicamente correto, me pareceu uma excelente ideia uma nova montagem do texto.
A peça começa com a estilista em seu novo atelier em Paris, aos setenta anos, após uma década de exílio na Suíça. De cara, a peça já dá uma rasteira no etarismo, mostrando que sempre é tempo de recomeçar e criar. Mergulhada em suas memórias, a estilista apresenta seus amores, criações e pensamentos aos espectadores através de um desabafo noturno. Assim será minha versão, mais lunar, delicada, uma mulher e seus fantasmas.
Para representar uma personagem desta grandeza me parecia necessário uma atriz ícone. Mais do que apenas talentosa, inteligente e entusiasmada, mas icônica. Que já trouxesse na primeira palavra dita em cena um passado para o espectador brasileiro. Assim é a Torloni. E que também tem uma voz assinatura. Quando eu liguei para ela para fazer o convite para a peça, já no seu “alô” era possível ouvir tantos personagens diferentes, de Helena à Joana D’Arc, e também tantos momentos da minha própria vida como espectador. Isso é também o que um ícone faz, mistura os tempos.
Chanel é uma personalidade da moda que atravessa gerações. Qual a sua relação com o universo fashion?
Sou muito interessado em moda, fascinado pelo universo como criação artística, reflexo de comportamento e identidade, patrimônio cultural e também pelos contornos “camp” e “queer” da indústria. Quando se acompanha eventos de moda como o baile do Metropolitan com seus temas anuais, por exemplo, o que se vê é um espetáculo de performance, interpretações, criações e recriações, beleza e bizarro, trash, humor e elegância, tudo junto. É um espetáculo maravilhoso, apenas para citar um exemplo. Moda é um grande balaio de pensamentos.
Estamos vendo muitas comparações sobre a nova versão de “Vale Tudo” na TV. Acha que isso também pode acontecer no teatro, já que Marília Pêra encenou Chanel por anos de sucesso?
Com certeza, não. Isso não acontece com textos de teatro, eles existem justamente como perguntas eternas e contínuas, para serem respondidas e novamente formuladas por outros artistas e outros espectadores.
Você vai, ainda, fazer seu quarto monólogo em agosto no Rio, “O Corpo Mais Bonito Já Visto Nesta Cidade”. Como é levar para os palcos a discussão sobre desejo, homofobia, preconceitos?
As coisas que precisam ser transformadas nos parecem, pela sua dimensão e durabilidade, irremediavelmente eternas. É contra os sintomas da rendição incondicional que impregnam de modo tão evidente o país que se ergue essa modalidade de teatro crítico. A arte, essa linda “inutileza”, é sim capaz de provocar pequenas revoluções e de mudar um minuto, que é o primeiro passo para mudar o mundo.
Já o desejo é pura energia vital, tem que ser celebrado como pulsão de vida. É também pelo desejo dos atores de estarem no palco que o teatro vem sobrevivendo a tantos e duros golpes.
E o que é mais difícil: estar sozinho no palco encenando um projeto denso ou usar a arte para ajudar a abrir mentes com textos como esse que você vai encenar?
Projetos densos têm tido pouco apoio para ir à cena no Rio de Janeiro, então é com dificuldade que se levanta um espetáculo desses. Só será possível por se tratar de uma cena absolutamente minimalista e pelo engajamento de todos os artistas envolvidos, autor, direção, produção, iluminador, designer e eu. Abrir mentes é um dos motivos para arte existir; provocar epifanias, acordar espectadores, tocar corações, apontar novos rumos, alertar cidadãos, criar linguagens, reafirmar valores… então, fazer isso é a sensação do ofício existindo em sua totalidade. Não existe dificuldade, só prazer.
Teremos em 2026 a versão brasileira de Plaza Suite com a sua direção, um projeto que já foi encenado por Jorge Dória e Fernanda Montenegro nos anos 70. Por que trazer de volta esse projeto? Em pleno ano de 2025, teremos adaptações temporais? O que podemos esperar dessa remontagem?
Reafirmando uma resposta acima: textos de teatro são inesgotáveis e sempre encontram novos espectadores. Cinquenta e cinco anos depois da primeira montagem do texto no Brasil, são pelo menos cinco novas gerações. “Plaza Suíte”, assim como diversos outros textos de Neil Simon, é um clássico universal da comédia e oferece um banquete para os atores que o encenam. Suas três histórias de relacionamento passadas na mesma suíte do hotel icônico se tornaram um tratado sobre o casamento, eternizado pelo arguto senso de humor do autor. Eu assino uma nova tradução, mas não farei adaptações temporais. O texto, seus personagens e as situações pelas quais eles passam já estão no nível do arquétipo. Não se trata de uma remontagem e sim de uma montagem inédita do texto, uma nova montagem. Remontagem seria se eu estivesse levando ao palco novamente a versão dirigida por João Bethencourt em 1970…
Pode-se esperar uma dramaturgia de relojoaria da alta comédia. Diálogos espirituosos, irônicos, personagens originais e cativantes. São pequenos instantâneos de casamentos em vários estados de desordem, e Neil Simon sabia muito bem como colocar pessoas comuns em situações completamente histéricas e hilárias. Foi o mestre de todos os roteiristas que vieram depois dele e também criaram obras primas como Woody Allen e Jerry Seinfeld.
E agora que “Volta por cima” chegou ao final, que avaliação você faz de seu trabalho como o bicheiro Marco, um personagem tão próximo da realidade?
Difícil eu fazer uma avaliação sobre meu próprio trabalho, rs… mas, evocando a reação dos espectadores ao meu trabalho – a rua é ótimo termômetro –, posso dizer que o Marco cumpriu a sua comunicação com o público e foi entendido da maneira subjetiva, o que sempre foi a nossa, dos autores e minha intenção ao criarmos o personagem. Um contraventor traidor e obcecado pelo poder que escancara o recalque da sua fragilidade quando descobre a verdade sobre sua mãe, uma mulher que teve o filho arrancado dos braços por um influente bicheiro da época, seu tio, que na verdade era seu pai. Uma trama com contornos de tragédia grega. A partir desta descoberta, o personagem vira quase um justiceiro. Mas sempre mantendo a dubiedade, a amoralidade. Um personagem complexo que foi maravilhoso de encarnar.
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