Representantes do Brics criticam o “ressurgimento do protecionismo comercial”

"MinistrosMinistros das Relações Exteriores não emitiram declaração conjunta em encontro no Rio de Janeiro. Sem citar Trump, chanceler brasileiro ressaltou consenso dos membros contra medidas tarifárias unilaterais.A reunião dos ministros das Relações Exteriores do Brics terminou nesta terça-feira (29/04) no Rio de Janeiro sem a publicação de uma declaração conjunta do grupo.

Segundo o chanceler brasileiro Mauro Vieira, porém, os 11 membros do bloco e os demais convidados concordaram em se opor à guerra tarifária global e ao “ressurgimento do protecionismo comercial”.

O encontro funciona como uma reunião preparatórias para a cúpula do Brics que acontecerá em julho na cidade. As discussões se concentraram em formas coordenadas de combater a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“Eu gostaria de destacar o firme rechaço de todos à ressurgência do protecionismo comercial […]. A reforma da OMC [Organização Mundial do Comércio] e a plena retomada de seu órgão de solução de controvérsias são essenciais na visão de todos”, disse Vieira.

O ministro também defendeu que houve consenso contra o uso de medidas não tarifárias sob pretextos ambientais. O Brasil é um dos países que rechaçam a Lei Antidesmatamento europeia, que afeta a produção de carne brasileira.

O documento final do encontro no Rio de Janeiro foi assinado apenas pela presidência brasileira do Brics, como forma de dar mais peso à Cúpula de Líderes de julho, disse o ministro. Ele reforçou que houve “compromissos e acordos” com os demais ministros.

O Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e seu par russo, Sergei Lavrov, estavam entre os principais diplomatas do grupo de 11 países que participaram dos dois dias de diálogos. A Indonésia participou pela primeira vez de uma reunião como membro efetivo.

O Brics, fundado em 2009 inicialmente por Brasil, Rússia, Índia e China, representa quase metade da população mundial e 39% do PIB global.

Previsões de crescimento

O encontro acontece em um momento crítico para a economia global, após o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduzir suas previsões de crescimento globais devido ao impacto das novas tarifas impostas por Trump. A expectativa é que o grupo prepare uma declaração conjunta criticando “medidas unilaterais” sobre o comércio.

Desde que voltou à Casa Branca em janeiro, Trump aplicou tarifas de 10% a dezenas de países, enquanto a China, membro do Brics, enfrenta taxas de até 145% sobre seus produtos. Em resposta, Pequim impôs tarifas de 125% sobre mercadorias americanas.

Alguns membros do Brics, porém, evitam o embate direto com Trump. No momento, as exportações brasileiras para os Estados Unidos, por exemplo, estão sujeitas a tarifas de 10%, uma fração das tarifas impostas à China.

Embora a maior economia da América Latina tenha sido atingida pelas tarifas de Trump sobre as importações de aço – o Brasil é o segundo maior fornecedor do material para os EUA – o governo Lula até o momento se recusou a retaliar.

Multilateralismo e retirada de forças israelenses

Na abertura do evento, o chanceler brasileiro Mauro Vieira destacou a importância do diálogo em um cenário de “crises humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e erosão do multilateralismo”. “O papel do Brics como grupo nunca foi tão importante”, afirmou.

Vieira também abriu os trabalhos pedindo a “retirada completa” das forças israelenses de Gaza, classificando como “inaceitável” o novo bloqueio de ajuda humanitária ao território, que já dura mais de 50 dias.

Sobre a guerra na Ucrânia, o grupo mantém uma postura mais cautelosa, limitando-se a defender a paz sem condenar explicitamente a invasão russa. Vieira reforçou nesta segunda-feira a necessidade de uma “solução diplomática” que respeite os “princípios e objetivos” da Carta das Nações Unidas.

Outro tema de destaque na agenda é o desafio do Brics à hegemonia do dólar. Na cúpula do ano passado, os membros discutiram formas alternativas de impulsionar transações em moedas locais, o que provocou forte reação de Trump, que ameaçou impor tarifas de 100% caso tentassem enfraquecer a moeda americana.

Em entrevista ao jornal O Globo antes do encontro, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que os países planejam “aumentar o uso de moedas nacionais nas transações” entre os membros, mas considerou “prematura” a discussão sobre uma moeda unificada para o bloco.

Outro tema que ganhou destaque na declaração conjunta do Brics nesta terça-feira é a mudança climática. O Brasil será o anfitrião da COP30, a conferência climática da ONU deste ano, que ocorrerá em novembro na cidade de Belém, no Pará.

gq (afp, reuters, ots)

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