Baixar
Tocar
Uma análise das mudanças na cobertura e uso da terra nas últimas décadas no entorno de sítios arqueológicos do país mostra perdas significativas das áreas de vegetação nativa. Os dados são do projeto MapBiomas, que disponibilizou, de forma inédita em sua plataforma, as informações dos quase 28 mil sítios arqueológicos cadastrados e georreferenciados pelo Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Em 1985, mais da metade da área no entorno de 100 metros dos sítios eram de florestas, savanas e campos naturais, e 41,7% sofreram alterações na vegetação original. Quase 40 anos depois, em 2023, o cenário se inverteu: apenas 41,5% continuam rodeados por áreas de vegetação nativa e quase 50% se encontram em áreas já desmatadas e ocupadas, por exemplo, por pastagens, agricultura e áreas urbanas.
Eduardo Neves arqueólogo da Universidade de São Paulo, que colaborou com os dados divulgados pelo projeto Map Biomas, afirma que o desmatamento das áreas no entorno desses sítios coloca em risco a preservação desses locais.
Isso quer dizer o quê? Quer dizer que os sítios que eram recobertos por florestas anteriormente, hoje em dia são em áreas desmatadas. Esse desmatamento, dependendo da escala, da mudança de uso da terra, pode trazer consequências muito ruins para os sítios. Pode levar até à destruição desses sítios. E a destruição do Patrimônio Arqueológico é irreversível. Uma vez que o sítio tiver sido destruído, a gente não consegue mais reconstitui-lo. É um patrimônio que é o único. Por isso que a gente tem que tomar bastante cuidado para entender a dimensão desses impactos.
O Acre é o estado com maior percentual, quase 90%, de áreas impactadas pela mudança do uso da terra ao redor dos sítios, seguido por Rio de Janeiro e Espírito Santo, com mais de 75%. No Acre, a área de vegetação nativa diminuiu de 70% para 10% no intervalo entre 1985 e 2023, de acordo com a análise do MapBiomas. A Amazônia apresentou o maior aumento proporcional de áreas com perda de vegetação nativa no entorno, passando de 19% para 47,5% no mesmo período.
Segundo Eduardo Neves essas mudanças no Acre se devem à transformação das áreas de floresta em áreas de pastagem e de agricultura para plantio de soja.
Esses sítios arqueológicos no Acre são sítios muito interessantes, porque são estruturas geométricas, de geoglifos. As escavadas na terra é um patrimônio único que a gente encontra nessa parte da Amazônia e que tem sido muito impactado pela conversão do uso da terra para agropecuária, inicialmente para plantio de pastagem, de pasto, e agora da soja também.
Ainda de acordo com o pesquisador da USP os problemas atingem outros biomas, além da Amazônia.
Os estados que tiveram mais alerta de desmatamentos associados ao sítio arqueológicos foram no Rio Grande do Norte e o Paraná. A gente percebe então que esse problema não está restrito apenas a Amazônia. Até o Rio Grande do Norte que tem uma vegetação de Caatinga também esse tipo de impacto está acontecendo.
A Bahia lidera entre os estados com mais sítios cadastrados, com 2.700. Paraná e Minas Gerais vêm na sequência. Entre as vegetações, a Amazônia, com mais de 10 mil e a Caatinga, com mais de 7 mil, lideram a lista. Na sequência vem o Cerrado, com quase 5 mil sítios. A Mata Atlântica abriga mais de 4.800, enquanto o Pampa tem 904 e o Pantanal, 123.

Meio Ambiente AC, RJ e ES têm o maior percentual de áreas impactadas Rio de Janeiro 30/04/2025 – 16:22 Roberta Lopes / Liliane Farias Fabiana Sampaio – repórter da Rádio Nacional MapBiomas Desmatamento Sítios Arqueológicos quarta-feira, 30 Abril, 2025 – 16:22 3:58