O governo do Paquistão afirmou nesta quarta-feira (30) que coletou “inteligência crível” sobre planos da Índia para lançar uma ofensiva militar nas próximas horas. O alerta foi divulgado em meio ao agravamento das tensões entre os países, ambos detentores de armas nucleares, após o assassinato de 26 civis hindus na região da Caxemira indiana, em 22 de abril. As informações são da agência Reuters.
Durante o ataque, segundo relatos de autoridades e sobreviventes, os agressores, identificados como militantes islâmicos, separaram os homens, pediram seus nomes e atiraram à queima-roupa nas vítimas. A Índia atribuiu o atentado a três indivíduos, incluindo dois paquistaneses, classificados por Nova Délhi como “terroristas”. Islamabad nega envolvimento e defende uma investigação neutra sobre o caso.
Em resposta ao episódio, Índia e Paquistão adotaram uma série de retaliações diplomáticas e estratégicas. O governo indiano suspendeu unilateralmente a aplicação do Tratado das Águas do Indo, considerado vital para o abastecimento do Paquistão, enquanto Islamabad fechou seu espaço aéreo a companhias indianas. Na manhã desta quarta, a Índia também impediu o sobrevoo de aviões paquistaneses.

Em nota oficial, o Paquistão disse que a situação pode escalar para um conflito armado, alegando ter provas de que a Índia planeja “realizar ações militares contra o país nas próximas 24 a 36 horas, sob o pretexto de acusações infundadas e forjadas de envolvimento no incidente de Pahalgam”. O Ministério das Relações Exteriores indiano não se pronunciou sobre a acusação até o momento.
O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, conversou por telefone com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e pediu que Washington pressione a Índia a “moderar o discurso e agir com responsabilidade”, segundo comunicado do gabinete. A autoridade paquistanesa também condenou a tentativa indiana de “usar a água como arma” e afirmou que o tratado hídrico em vigor não permite retirada unilateral de compromissos.
Apesar da escalada verbal e militar, autoridades dos dois países mantiveram na terça-feira (29) o contato semanal por telefone. “O lado indiano protestou veementemente contra disparos não provocados vindos do Paquistão”, informou uma fonte militar à Reuters. As Forças Armadas de ambos os lados têm trocado tiros de armas leves nas últimas seis noites ao longo da Linha de Controle (LoC, na sigla em inglês), fronteira de fato entre os países, sem registro de mortos.
Comunidade internacional em alerta
O risco de uma nova guerra entre Índia e Paquistão, que já travaram três conflitos diretos e permanecem como rivais nucleares desde o fim da colonização britânica, acendeu alertas em toda a comunidade internacional, a ponto de a ONU (Organização das Nações Unidas) se manifestar diretamente às duas potências. “Apelamos fortemente a ambos os governos para que exerçam máxima moderação e garantam que a situação e os acontecimentos que temos visto não se deteriorem ainda mais”, disse o porta-voz Stephane Dujarric.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também interveio e, em telefonemas separados com representantes da Índia e do Paquistão, reforçou a necessidade de “evitar uma confrontação que possa resultar em consequências trágicas”. Já os Estados Unidos e o Reino Unido apelaram por calma e, no caso britânico, recomendaram que seus cidadãos não viajem à região da Caxemira.
Atentado mortífero
O grupo armado A Frente de Resistência (TRF, na sigla em inglês) reivindicou a autoria do ataque, mas autoridades indianas alegam que a facção age como fachada para o Lashkar-e-Taiba, organização terrorista baseada no Paquistão. Uma operação de busca pelos responsáveis está em curso, com o Exército indiano conduzindo o que chamou de missões de “localizar e destruir” suspeitos no vale da Caxemira.
O Lashkar-e-Taiba opera no Paquistão e recebeu financiamento de Osama bin Laden em sua fundação, há mais de 30 anos. O objetivo do grupo é a anexação do território de Jammu e Caxemira, hoje na Índia, ao Paquistão. A maioria dos atentados dos extremistas tem indianos como alvo, sendo o mais célebre o de Mumbai, em 2008, com 12 ataques simultâneos que envolveram bombardeios, tomada de reféns e trocas de tiros. Cerca de 165 pessoas morreram e 300 ficaram feridos.
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