Gastos militares globais superam R$ 15 trilhões em 2024 e têm maior alta desde o fim da Guerra Fria

Os gastos militares em todo o mundo somaram US$ 2,718 trilhões (R$ 15,4 trilhões) em 2024, segundo relatório divulgado nesta semana pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri). O valor representa um aumento de 9,4% em relação ao ano anterior, maior alta anual registrada desde o fim da Guerra Fria. O levantamento indica que os investimentos em defesa cresceram em todas as regiões, com destaque para a Europa e o Oriente Médio.

“Mais de cem países ao redor do mundo aumentaram seus gastos militares em 2024. À medida que os governos priorizam cada vez mais a segurança militar, muitas vezes em detrimento de outras áreas orçamentárias, as compensações econômicas e sociais podem ter efeitos significativos nas sociedades nos próximos anos”, disse Xiao Liang, pesquisador do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do Sipri. 

O relatório aponta que 2024 foi o décimo ano consecutivo no qual os gastos globais com Forças Armadas aumentaram, alcançando o equivalente a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Apenas os cinco maiores investidores — EUA, China, Rússia, Alemanha e Índia — foram responsáveis por 60% do total.

Teste de disparo de mísseis realizado pelo Exército de Libertação Popular da China (Foto: eng.chinamil.com.cn)
Europeus lideram aumento

A Europa foi a principal responsável pela disparada, com uma elevação de 17% que levou o total da região a US$ 693 bilhões (R$ 3,9 trilhões), superando os níveis observados no final da Guerra Fria. A Rússia, que mantém a invasão da Ucrânia, destinou US$ 149 bilhões (R$ 847 bilhões) à defesa, salto de 38% em um ano e o dobro do montante registrado em 2015. O investimento militar ucraniano, por sua vez, chegou a US$ 64,7 bilhões (R$ 368 bilhões), o equivalente a 34% do PIB do país, a maior proporção do mundo.

“A Rússia mais uma vez aumentou significativamente seu gasto militar, ampliando a distância em relação à Ucrânia”, afirmou Diego Lopes da Silva, pesquisador sênior do Sipri. “A Ucrânia atualmente direciona todas as suas receitas tributárias para o setor militar. Com esse espaço fiscal tão restrito, será difícil continuar elevando os investimentos.”

Entre os membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o número de países que dedicaram pelo menos 2% do PIB para gastos militares subiu de 11 para 18 em 2024, o maior desde que a aliança adotou essa diretriz em 2014. O total investido pelos integrantes da aliança chegou a US$ 1,506 trilhão (R$ 8,5 trilhões), o que corresponde a 55% do total global. Os EUA lideram o ranking, com US$ 997 bilhões (R$ 5,67 trilhões), seguidos pela China, com US$ 314 bilhões (R$ 1,78 trilhão).

“Pela primeira vez desde a reunificação, a Alemanha se tornou o maior investidor em defesa da Europa Ocidental, resultado do fundo especial de 100 bilhões de euros (R$ 646 bilhões) anunciado em 2022”, destacou Lorenzo Scarazzato, pesquisador do Sipri. “As políticas recentes adotadas na Alemanha e em outros países europeus indicam que a região entrou em um período de altos e crescentes gastos militares, tendência que deve continuar nos próximos anos.”

Oriente Médio e Ásia-Pacífico

O Oriente Médio também registrou uma forte alta nos investimentos em defesa, com um crescimento de 15%. Israel teve o maior aumento proporcional da região, de 65%, impulsionado pela guerra em Gaza e pelos confrontos com o Hezbollah no sul do Líbano. O Irã, por outro lado, reduziu seu orçamento militar em 10%, para US$ 7,9 bilhões (R$ 44,9 bilhões), impactado pelas sanções econômicas.

Na Ásia, além da China, o segundo maior gastador militar do mundo, que aumentou seus gastos militares em 7%, outros países também ampliaram significativamente seus investimentos em defesa em 2024. O Japão registrou um aumento de 21% em seus gastos militares, a maior alta anual desde 1952. Com esse avanço, a carga militar japonesa atingiu 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB), o nível mais alto desde 1958.

A Índia, quinta maior potência militar em volume de investimentos no mundo, elevou seus gastos em 1,6%, enquanto Taiwan, em meio a crescentes tensões com Beijing, aumentou seu orçamento de defesa em 1,8%.

“Grandes investidores militares na região Ásia-Pacífico estão investindo cada vez mais recursos em capacidades militares avançadas”, disse Nan Tian, ​​Diretora do Programa de Despesas Militares e Produção de Armas do Sipri. “Com diversas disputas não resolvidas e tensões crescentes, esses investimentos correm o risco de lançar a região em uma perigosa espiral de corrida armamentista.”

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