Após a morte de Francisco, o próximo pontífice será escolhido por meio de um conclave (eleição papal) que começa no dia 7 de maio. Entre os candidatos estão os africanos Robert Sarah (Guiné); Fridolin Ambongo Besungu (República Democrática do Congo) e Peter Turkson (Guiné).
O cardeal Robert Sarah, de 79 anos, nasceu na Guiné e atualmente ocupa o posto de Prefeito Emérito da Congregação para o Cultivo Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no Vaticano. O religioso tem pensamento ortodoxo e conservador e, por isso, é considerado o favorito da extrema direita.
Ele foi um grande opositor das reformas promovidas pelo papa Francisco, por considerar que a Igreja Católica precisa retornar aos seus princípios, evitando o “secularismo ocidental”. Sarah também é contrário à imigração, homossexualidade e “ideologia de gênero”. O cardeal ressalta que pessoas LGBTQIA+ são boas “por serem filhos de Deus”, mas a igreja deve lembrá-las que o relacionamento com pessoas do mesmo sexo “está em desacordo com a natureza humana”.
Arcebispo de Kinshasa, Fridolin Ambongo Besungu, de 65 anos, nasceu na República Democrática do Congo e foi nomeado cardeal em 2019 pelo papa Francisco. Atualmente ele é membro do Conselho de Cardeais e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar.
Besungu é envolvido na política e se posiciona como opositor do atual governo da República do Congo. Seus discursos se aproximam de questões relevantes no mundo, como o anticolonialismo e imigração. Apesar disso, o religioso tem visões liberais e conservadoras. Enquanto rejeita a benção a casais homossexuais e a opcionalidade de celibato para padres, defende maior democratização na igreja e demonstra preocupação com as mudanças climáticas.
Peter Turkson, de 76 anos, também é nascido na Guiné e foi nomeado cardeal em 2002 pelo papa Bento XVI. O religioso possui visões liberais, como uso de contracepção pelo fiéis, mas é contra o direito ao aborto, eutanásia e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Igreja já teve papas africanos
Apesar da longa tradição de papas europeus, o posto mais alto do catolicismo foi ocupado três vezes por homens de origem africana. Vitor, Melquíades e Gelásio eram do norte da África, em localidades que integraram o império romana, e depois acabaram sendo considerados santos.
Durante os primeiros séculos da chamada “era cristã”, o papel do bispo de Roma como papa era algo questionável, e esses três religiosos tiveram papel fundamental para que o cargo se tornasse reconhecido como o primordial entre os demais bispos católicos.
Vitor foi o 14° papa da história da Igreja Católica e viveu entre os anos de 155 e 199. Ele nasceu na Tunísia, província romana no norte da África, e o seu papado foi marcado por algumas modernização no cristianismo.
Ele foi o responsável por estabelecer que as missas deveriam ser celebradas em latim, não mais me grego, como era costume na época. Além disso, determinou que qualquer água, não necessariamente a benta, poderia ser usada no batismo.
Outra mudança relevante foi a mudança da celebração da Páscoa. Antes, a data era vinculada à prática judaica. Porém, o religioso determinou que festa ocorresse sempre em um domingo, para marcar a ressureição de Cristo.
Melquíades foi o 32° papa e viveu entre os anos de 270 e 314. Há poucas informações sobre ele, sabe-se apenas que o religioso era africano, mas não a respeito de qual localidade.
Um aspecto importante a respeito dele é que Melquíades foi o papa da transição entre o período de perseguição aos cristãos pelo Império Romano e a oficialização do cristianismo.
Mesmo tendo um pontificado curto, ele teve papel fundamental para o fim do jejum pagão aos domingos e às quintas-feiras.
Por fim, Gelásio, nascido no norte da Argélia, viveu entre 410 e 496, foi o 49° papa e presenciou a queda do Império Romano. Ele exerceu grande influência para que o posto de bispo de Roma passe a ser hierarquicamente acima dos outros bispos.
O religioso também estabeleceu o cânone das escritura, ou seja, quais livros — ainda presentes na Bíblia — deveriam ser considerados oficiais do cristianismo e mereciam ser chamados de apócrifos.
Gelásio acabou com o antigo festival romano consagrado à fertilidade e purificação, conhecido como Lupercália, e, no lugar, instituiu a Festa da Purificação de Nossa Senhora, celebração da pureza e fertilidade da Virgem Maria.