Pietro Parolin entra no conclave como Papa, mas sairá como Pontífice?

Os italianos chamam de Papabili, aqueles cardeais que são os mais influentes, experientes e com maiores possibilidades de se tornarem papa. De fato, ao longo da história, muitas vezes candidatos na lista acabaram ascendendo ao pontificado, mas em uma eleição a portas fechadas, a estatística parece nem sempre refletir a realidade. Para o conclave de 2025, são mais de 20 nomes que se repetem em todos os jornais e televisões, apontando cardeais de quase todos os continentes que teriam grandes chances de suceder Francisco, seja através da continuação de sua obra, seja no rompimento com as reformas e a volta a certos preceitos mais tradicionais.

O cardeal Pietro Parolin lidera todas as listas, sendo frequentemente destacado como o primeiro nome nas bolsas de apostas. Como foi o último Secretário de Estado do Vaticano, naturalmente assume uma posição de destaque e possui uma candidatura competitiva, já que representa a “situação”, a continuação do pontificado recém finalizado. O cardeal Parolin nascido no Vêneto, Itália em 1955, já ingressou no seminário aos 14 anos e com apenas 25 anos já havia sido ordenado sacerdote. Sua carreira diplomática teve início em 1986, quando serviu na Nigéria, no México e até mesmo na Venezuela durante o governo complexo de Hugo Chávez. Desde 2013, ou seja, desde o início do pontificado do Papa Francisco, foi nomeado Secretário de Estado do Vaticano, sendo praticamente o primeiro-ministro do papa e figura central em diversas negociações.

Quando pensamos de maneira equivocada que a Igreja é dividida apenas em conservadores e progressistas, nos perguntamos onde nesse espectro se encontraria o cardeal Parolin. Apesar das nuances ideológicas serem muito mais detalhadas que o reducionismo entre esquerda e direita, Parolin, seria para todas as definições um moderado. Apesar de ter sido muito próximo de Francisco, sempre evitou comentar assuntos polêmicos dentro da Igreja, como direitos dos LGBT e o aborto. Talvez o maior ponto de destaque de sua carreira diplomática no Vaticano seja a sua busca por consensos, transitando bem entre as diversas alas. Todavia, o acordo que ajudou a costurar com a China tem sido alvo de muitas críticas, seja por reformistas, seja por tradicionalistas.

O acordo provisório entre o Vaticano e a China foi assinado em 2018 sobre a nomeação de bispos no país causou polêmica. Basicamente através de muitas negociações e concessões, o cardeal Parolin buscou unificar a Igreja Católica da China, fragmentada entre uma igreja clandestina leal ao Papa e uma igreja oficial controlada pelo governo de Pequim. O grande problema desse acordo envolve a escolha de bispos através de viés político e lealdade ao Partido Comunista Chinês. Efetivamente, Pequim produz uma lista de candidatos ao episcopado, todos previamente aprovados pelo Partido Comunista, e então o Vaticano aprova ou rejeita os nomes. Críticos de ambos os lados da igreja argumentam que o Vaticano estaria cedendo demais ao governo chinês, reconhecendo como bispos, pessoas nomeadas por autoridades estatais autoritárias, de um estado sem liberdade religiosa. Além disso, os bispos da igreja clandestina, leais ao Papa há muito tempo e não reconhecidos pelo governo, se sentem fortemente abandonados e muitos continuam a ser perseguidos. Na visão de muitos clérigos, o acordo legitima a repressão religiosa e quebra com preceitos básicos da Igreja Católica. Sendo o principal diplomata ao longo da última década e responsável pelos acordos, Parolin, poderá perder apoio, sobretudo de cardeais asiáticos e europeus que se preocupam com o crescimento da esfera de influência chinesa em suas respectivas regiões.

Pietro Parolin também não possui a mesma experiência pastoral que muitos de seus concorrentes. Por ter sido alguém desde cedo ligado à cúria, sua experiência pastoral é pouco expressiva e sua falta de contato com as pessoas comuns também representam entraves. Apesar de ser o candidato da continuidade, suas diferenças em carisma e essência em relação a Francisco, podem representar uma quebra com um dos pontos mais importantes do pontificado do argentino Bergoglio, ter portas da Igreja abertas para todos.

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Há um velho chavão entre os vaticanistas que diz, “aquele que entra no conclave como Papa, sai como cardeal”, e de fato, esse pode ser o destino do líder de todas as listas de Papabili. A próxima semana definirá o futuro da Igreja por uma geração e com tantas coisas em jogo, pouca é a certeza se Pietro se sentará na cadeira de São Pedro.

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