Trégua foi celebrada após aumento das tensões na fronteira entre os dois países, mas novos bombardeiros foram registrados horas após o anúncio do acordo.A Índiae o Paquistão acataram neste sábado (10/05) um cessar-fogo com efeito imediato para suspender o mais sério confronto militar entre as potências nucleares em décadas. No entanto, os dois países vizinhos se acusaram de violar o acordo poucas horas depois.
A expectativa era de que o acordo pudesse interromper a troca de agressões entre os países desencadeados por um ataque contra turistas na Caxemira indiana no final de abril. Nos últimos quatro dias, as duas potências viveram seu maior nível de tensão desde o século passado, com 98 mortes confirmadas entre os dois países, incluindo civis.
No entanto, várias explosões foram ouvidas na Caxemira indiana na noite de sábado, horas após o cessar-fogo ser anunciado. O governador de Jammu e Caxemira, Omar Abdullah, disse que a capital Srinagar chegou a ser atingida e autoridades relataram projéteis e drones cruzando o céu de Jammu e Rajouri. A energia foi cortada em municípios fronteiriços para dificultar ataques com drones.
O secretário das Relações Exteriores indiano, Vikram Misri, acusou o Paquistão de “violar repetidamente” a trégua e prometeu retaliação.
“Pedimos ao Paquistão que tome as medidas apropriadas para lidar com essas violações e lidar com a situação com seriedade e responsabilidade”, disse ele em uma coletiva de imprensa em Nova Delhi.
Misri afirmou que as forças armadas indianas receberam ordens para responder com força a quaisquer violações ao longo da fronteira internacional e da linha de controle disputada em Jammu e Caxemira.
Paquistão se diz comprometido com acordo e acusa Índia
Em resposta, o Paquistão disse que “continua comprometido com a implementação fiel” da trégua.
Acusando a Índia de cometer suas próprias violações, o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão disse que suas forças “estão lidando com a situação com responsabilidade e moderação”.
“Acreditamos que qualquer problema na implementação tranquila do cessar-fogo deve ser tratado por meio de comunicação nos níveis apropriados. As tropas em terra também devem exercer moderação”, continuou o comunicado.
Cessar-fogo mediado pelos EUA
O anúncio de que os países tinham chegado a um acordo foi feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Após uma longa noite de conversas mediadas pelos EUA, tenho o prazer de anunciar que Índia e Paquistão concordaram com um cessar-fogo total e imediato. Parabéns a ambos os países pelo bom senso e grande inteligência. Obrigado pela atenção a este assunto!”, disse Trump em uma postagem em sua rede social Truth Social.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, informou que ele e o vice-presidente americano, J.D. Vance, estiveram em contato nas últimas 48 horas “com autoridades indianas e paquistanesas”, incluindo os primeiros-ministros de ambos os países.
O acordo chegou a ser confirmado pelo ministro paquistanês do Exterior, Ishaq Dar. “Paquistão e Índia concordaram com um cessar-fogo. O Paquistão sempre lutou pela paz e segurança na região, sem comprometer sua soberania e nem sua integridade territorial”, disse Dar em uma mensagem publicada em seu perfil na rede social X.
Antes da nova troca de agressões, a responsável das Forças Armadas indiana, Vyomika Singh, disse em uma coletiva de imprensa que Nova Delhi estava empenhada na “não escalada [do conflito], desde que o lado paquistanês retribua” a postura.
Pior momento desde 1999
A tentativa de um cessar-fogo foi costurada após as tensões aumentarem na fronteira dos dois países. Em reação a um ataque realizado pela Índia na quarta-feira, as Forças Armadas paquistanesas dispararam mísseis neste sábado contra várias posições indianas.
O governo indiano afirma que a ofensiva da quarta-feira foi em retaliação ao atentado terrorista de 22 de abril em que homens armados, supostamente baseados no Paquistão, invadiram Pahalgam, região turística na Caxemira administrada pela Índia, e abriram fogo contra civis, deixando ao menos 26 mortos, a maioria hindus. Eles teriam selecionado as vítimas com base em sua religião, pedindo para que recitassem versos islâmicos para identificar não-muçulmanos antes de atirar. O Paquistão nega envolvimento no ataque.
Desde então, a situação se deteriorou rapidamente. O Paquistão informou neste sábado que ao menos 13 civis foram mortos e 56 ficaram feridos na Caxemira administrada pelo Paquistão desde a meia-noite devido a confrontos transfronteiriços.
Islamabad havia relatado anteriormente que os ataques aéreos da Índia na última quarta-feira contra bases supostamente terroristas em seu território e as violações do cessar-fogo na fronteira de fato entre as nações vizinhas deixaram 33 civis mortos e 57 feridos no lado paquistanês.
Também foram registradas mortes no lado indiano da Linha de Controle (LoC) devido a intensas trocas de tiros entre forças paquistanesas e indianas, com ao menos 26 vítimas.
A escalada de tensão entre Índia e Paquistão marcou o pior momento entre as duas potências nucleares desde o Conflito de Cargil, em 1999. A Caxemira, disputada entre Nova Delhi e Islamabad desde sua partição em 1947, tornou-se o foco de disputas entre os dois países.
cn/gq (AP, EFE, Reuters)