Por que música pró-Hitler de Kanye West é considerada ilegal na Alemanha

""Single do rapper americano faz referência à saudação “Heil Hitler” e inclui trecho de discurso do líder nazista. Canção foi derrubada em plataformas de streaming em todo o mundo, com exceção do X.Apesar de ter sido derrubado da maioria das plataformas de streaming em todo o mundo, um novo single provocativo do rapper americano Kanye West, também conhecido como Ye, permanece online no X, onde tem quase 9 milhões de visualizações.

Versões da música também foram compartilhadas milhões de vezes por usuários no Facebook e Instagram, apesar de não ter sido compartilhada pelo rapper nestas plataformas.

Na Alemanha, porém, o vídeo é banido, e usuários não conseguem acessá-lo mesmo no X, que teve suas regras de moderação flexibilizadas após ser adquirido pelo bilionário Elon Musk,

Isso porque o título da música lançada em 8 de maio faz referência à saudação nazista “Heil Hitler” (“Salve Hitler”), usada quando Adolf Hitler estava no poder. A capa do single se assemelha a uma suástica e o vídeo publicado no X termina com um longo trecho de um discurso de Hitler. Ele deve compor o álbum Cuck do rapper, cuja capa inclui duas figuras vestidas com vestimentas da Ku Klux Klan.

Plataformas como Spotify, YouTube e Soundcloud derrubaram o single devido ao seu conteúdo antissemita e discurso de ódio. “Heil Hitler, de Ye, foi banida por todas as plataformas de streaming, enquanto ‘Rednecks’, de Randy Newman, continua disponível para streaming”, escreveu West em um post no X, citando a música de 1974 que usa insultos raciais.

Símbolos nazistas proibidos na Alemanha

Apesar de o vídeo seguir disponível em todo o mundo, usuários localizados em países como França, Polônia e Alemanha não conseguem acessá-lo. Ao clicar no link, o X indica que a publicação foi “retida com base na legislação local”.

A saudação “Heil Hitler” era usada como saudação oficial na Alemanha nazista. O movimento que a acompanha, feito com o braço direito estendido e a palma da mão voltada para baixo, teve sua origem na Roma antiga e foi adotado pelo ditador fascista Benito Mussolini na década de 1920. Mais tarde, Hitler fez dela uma assinatura de seu governo.

No pós-guerra, as autoridades da Alemanha Ocidental decidiram limitar essas tais expressões para superar o passado sombrio do Holocausto, que fez milhões de vítimas em toda a Europa.

A exibição ou disseminação pública de símbolos e slogans nazistas, como o gesto ou a frase, é um crime na Alemanha, de acordo com a Seção 86a do código penal alemão.

Essa lei proíbe o uso de símbolos associados a “organizações inconstitucionais”, incluindo aquelas afiliadas ao partido nazista, como a suástica, o emblema da SS, a saudação e slogans nazistas.

Seu uso pode ser punido com até três anos de prisão ou multa.

Negar o Holocausto também é ilegal na Alemanha e em muitos outros países europeus, bem como no Canadá e em Israel.

Símbolos nazistas não foram proibidos nos EUA

Para combater o aumento dos grupos de extrema direita e o crescente antissemitismo, outros países também proibiram a disseminação de símbolos de ódio. Em fevereiro, a Austrália aprovou uma lei contra crimes de ódio que inclui penas para o uso de expressões como a saudação nazista.

Enquanto isso, nos EUA, a liberdade de expressão é fortemente protegida pela primeira emenda da Constituição americana, o que inclui o discurso de ódio.

Embora o gesto seja um tabu no mundo ocidental, não é ilegal fazer a saudação nazista ou usar uma suástica nos Estados Unidos.

Desde a Segunda Guerra Mundial, a saudação tem sido usada com frequência por neonazistas e nacionalistas brancos. Em 2016, por exemplo, circulou um vídeo de um grupo de supremacistas brancos apoiando a vitória presidencial de Donald Trump naquele ano, levantando os braços em uma aparente saudação no estilo nazista.

Em janeiro, Elon Musk, que apoia abertamente o partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), foi alvo de críticas por fazer o que parecia ser uma saudação no estilo nazista na posse do presidente dos EUA, Donald Trump.

Em resposta, ativistas do grupo britânico de campanha política Led by Donkeys projetaram uma imagem de Musk em sua fábrica da Tesla, em Berlim, mostrando o bilionário fazendo o gesto, com o título “Heil Tesla”. O grupo entendia que, se as autoridades alemãs considerassem o símbolo ilegal de acordo com o Código Penal do país, isso provaria que Musk havia de fato feito o gesto.

Falta de regulamentação das empresas de tecnologia

Musk e Kanye West têm sido criticados por expressar opiniões antissemitas nos últimos anos. Em 2023, o dono da Tesla compartilhou um entendimento de que “judeus odeiam brancos”.

Já o rapper publicou, em fevereiro: “Eu sou um nazi… eu amo Hitler”. Em outra música lançada em março, se diz “completamente antissemita”. Ele chegou a ter a conta suspensa no X.

O recente vídeo de Kanye West e a luta para tirá-lo do ar provocaram um novo olhar sobre as políticas de conteúdo das principais empresas de tecnologia, inclusive as plataformas de propriedade da Meta, de Mark Zuckerberg.

A Anti-Defamation League, uma organização não governamental internacional que combate o antissemitismo, a intolerância e a discriminação, iniciou uma petição solicitando ao Facebook e ao Instagram que “restabeleçam as diretrizes destinadas a proteger os usuários contra a desinformação e o ódio”.

Em janeiro deste ano, a Meta anunciou que não empregaria mais verificadores de fatos em suas plataformas e afrouxou as regras de combate ao discurso de ódio à luz das “eleições recentes” – uma referência à vitória presidencial de Donald Trump.

No entanto, a retórica pró-Hitler veiculada pelo último single de West ainda se enquadra na regra da empresa de proibir “estereótipos prejudiciais historicamente ligados à intimidação, incluindo Blackface e negação do Holocausto”.

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