Diagnosticada com câncer no intestino — mais especificamente com um tumor de seis centímetros no reto — desde janeiro de 2023, a cantora Preta Gil, de 50 anos, desembarcou em Washington, nos Estados Unidos, na tarde desta terça-feira, 13, para dar início ao seu tratamento com medicamentos novos, que estão em fase final de estudo.
Nos Stories do Instagram, a filha de Gilberto Gil compartilhou uma foto usando máscara ao lado de amigos e informou que já tem consulta marcada para esta quarta-feira, 14.
Na última semana, Preta esteve internada em São Paulo para fazer exames de rotina. “Passei a última semana internada sob os cuidados da minha amada equipe médica. Já estou em casa e sempre cercada pelos meus amores. Sigo aqui me fortalecendo para, na semana que vem, começar uma nova etapa do meu tratamento nos Estados Unidos”, escreveu.
Luta contra o câncer
Tratamento fora do Brasil
No ano passado, Preta Gil viajou para Nova York para consultar especialistas em busca de alternativas terapêuticas, após os tratamentos anteriores não apresentarem os resultados esperados.
Procurada pela reportagem de IstoÉ Gente, a Dra. Daniélle Amaro, médica oncologista e cofundadora do canal Longidade, explica os motivos que levaram Preta Gil a decidir tratar seu câncer nos Estados Unidos.
“Os pacientes que buscam opções terapêuticas fora do país, em sua maioria, almejam ter acesso a tratamentos mais inovadores que ainda não chegaram ao Brasil, seja por entraves na regulação e aprovação, seja por serem ainda experimentais e apresentarem acesso restrito, via inclusão em pesquisas clínicas que ocorrem em centros específicos espalhados pelo mundo”, analisa a profissional.
“A FDA (Food and Drug Administration), americana, tem um processo de aprovação de novos medicamentos relativamente rápido em comparação com outros países. Embora existam rigorosos padrões de segurança e eficácia, a FDA frequentemente prioriza medicamentos inovadores que podem trazer grandes benefícios aos pacientes. Isso cria um ambiente propício para o desenvolvimento rápido de novas terapias.”
“Em contraponto, no Brasil, essa regulamentação é realizada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em um processo rigoroso que, embora muito eficaz, tende a ser mais demorado em comparação com a FDA dos Estados Unidos. Isso pode retardar o acesso a novos tratamentos e terapias inovadoras em nosso país, representando um obstáculo no acesso à medicação para o paciente oncológico que pode estar em uma luta contra o tempo”, prossegue Daniélle Amaro.
Segundo a oncologista, a acessibilidade a uma variedade de estudos clínicos de novas medicações nos Estados Unidos é uma das razões pelas quais o país tem se destacado como um centro global de pesquisa médica e desenvolvimento de novas terapias. “Existem vários fatores que contribuem para essa vantagem em relação a outros países. Os Estados Unidos têm uma infraestrutura robusta dedicada à pesquisa médica e contam com instituições acadêmicas de renome, além de financiamento governamental e privado direcionado à pesquisa clínica. Isso permite que novas medicações sejam testadas rapidamente e com mais recursos.”
“Isso propicia aos pacientes acesso a uma ampla gama de estudos clínicos de fase inicial (como os ensaios de fase 1 e 2), o que permite que os pacientes participem de experimentos com tratamentos inovadores que ainda não estão disponíveis no mercado. O próprio paciente, ou seu médico, pode verificar a disponibilidade de ensaios clínicos em andamento em plataformas de registros de ensaios clínicos. O site ClinicalTrials.gov, por exemplo, é uma base de dados amplamente acessada e fornece informações sobre ensaios clínicos em andamento em todo o mundo”, diz.
A Dra. Daniélle Amaro explica que a quantidade de ensaios clínicos realizados no Brasil é menor quando comparada aos Estados Unidos. Isso pode ser atribuído à falta de infraestrutura, financiamento e às dificuldades logísticas para envolver centros médicos e hospitais de todo o país nessa área.
“Apesar de contarmos com algumas instituições de excelência, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA), ainda enfrentamos limitações no financiamento de pesquisas clínicas. Muitos estudos, especialmente os de fase inicial, dependem de parcerias com empresas farmacêuticas internacionais ou de recursos do governo, que em nosso país são escassos.”
“A adoção de processos de revisão mais ágeis e a colaboração internacional podem ser soluções importantes para melhorar o acesso a terapias inovadoras em nosso país e acelerar o processo de aprovação, possibilitando que mais pacientes possam ter acesso sem precisar sair do Brasil para tal. Infelizmente, isso não acontecerá tão cedo”, finaliza.
A força de Preta Gil
A garra, força, esperança e determinação de Preta Gil em vencer a luta contra o câncer são admiráveis. Ela não deixa a peteca cair e não desiste de sair com vida em meio a uma doença que mata e já matou tantas pessoas.
“Diagnósticos sérios são sempre muito complicados, pois estão diretamente ligados à vida e à forma como será feita sua manutenção. Manter a esperança é uma questão fundamental que não pode ser ignorada. Reflexões positivas são sempre importantes, assim como avaliar e reavaliar as opções disponíveis. Um diagnóstico de ‘ameaça à vida’ impacta profundamente o estado psicológico”, diz o psicólogo Alexander Bez à IstoÉ Gente.
O profissional ainda deixa algumas dicas para lidar com esse momento desafiador:
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Informe-se sobre sua real condição – Isso exige um preparo emocional adequado.
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Expresse seus sentimentos – Verbalizar preocupações e emoções pode ajudar a aliviar a tensão.
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Busque um suporte emocional – Conte com amigos, familiares e também com o corpo médico.
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Adote hábitos saudáveis – Alimentação equilibrada, sono adequado e atividades físicas fazem a diferença.
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Seja realista quanto à evolução da doença – Aceite os avanços e possíveis retrocessos do quadro.
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Concentre-se no que lhe interessa – Ter um propósito a ser buscado gera motivação e promove equilíbrio psicológico.
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Desvie o foco da dor – Invista em suas principais habilidades e tente minimizar as limitações.
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Amplie suas estratégias de enfrentamento – Busque alternativas que proporcionem maior conforto psicoemocional.