
Familiar da vítima disse que PM foi acionada após a confusão, mas agiu com agressividade e algemou o paciente. Secretaria da Segurança Pública nega e diz que polícia não participou da ocorrência. Prefeitura de São Bernardo do Campo não se manifestou. Novo vídeo mostra sequência de agressão a paciente em hospital de SP
Um novo vídeo obtido pela TV Globo mostra a continuação da confusão ocorrida na madrugada desta quarta-feira (22) em um hospital em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo (veja acima). Na ocasião, um segurança agrediu um paciente com empurrões e chutes; a vítima estava com o pescoço imobilizado e usava cadeira de rodas.
O registro foi feito por uma pessoa que estava na recepção do hospital e mostra os momentos seguintes à primeira agressão.
Pelas imagens, é possível ver que o paciente continua agitado e nervoso;
No chão, ele se debate e tenta se desvencilhar dos seguranças que o seguravam;
Quando consegue se levantar, ele chama o segurança de “covarde” e parte para cima do funcionário;
Ele é novamente empurrado, mas consegue se manter em pé; três seguranças participam da ação.
Acompanhantes e outros pacientes pedem para alguém acionar a polícia. O homem é novamente empurrado e cai no chão. “O segurança está agressivo desde a hora em que ele chegou”, diz uma mulher.
Paciente algemado e sedado
Em conversa com a TV Globo, um familiar que preferiu não se identificar relatou que o homem agredido é paciente psiquiátrico com diagnóstico de bipolaridade, depressão e ansiedade. Ele precisou ir ao hospital após um acidente de trânsito.
Segundo ele, a Polícia Militar foi acionada após a confusão, mas agiu com agressividade e algemou o paciente para a equipe médica poder sedá-lo.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) negou que a PM tenha atendido a ocorrência.
Me algemaram, me desacataram verbalmente e me sedaram à força, sem seguir os protocolos adequados para pacientes psiquiátricos
O g1 questionou a Prefeitura de São Bernardo sobre os procedimentos adotados pelo hospital após a imobilização do paciente e também sobre a possível atuação da Guarda Civil do município durante a ocorrência, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Ariel de Castro Alves, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Bernardo, classificou o caso como sendo “extremamente grave”.
“Vemos uma vítima que foi ao hospital para ser socorrida, mas acabou sofrendo agressões, que podem gerar uma apuração pelo crime de tortura, de uma vítima que foi submetida a um intenso sofrimento físico e psicológico. Há um enorme constrangimento”, destacou o advogado.
A Verzani & Sandrini, empresa responsável pelos seguranças do hospital, disse que repudia qualquer forma de violência e que os envolvidos “foram afastados por tempo indeterminado após apuração dos fatos”.
No início de abril, a mesma empresa anunciou em diversas plataformas de emprego uma vaga de emprego cujo objetivo era “abordar os pedintes, menores e pessoas em situação de rua para tirá-los do foco do cliente”.
O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, denunciou o anúncio à época como um caso de aporofobia — a aversão ou o desprezo à pobreza. A empresa justificou que o conteúdo foi divulgado “de forma inadequada” e afirmou que solicitou a retirada do anúncio de todas as plataformas.
Vídeo da agressão
Uma câmera de segurança do hospital registrou o início da confusão. Sentado numa cadeira de rodas e falando ao celular, o paciente parecia estar agitado. Num determinado momento, ele gesticula em direção ao segurança, que caminhava até ele, e ambos parecem discutir brevemente.
O paciente, então, tenta se levantar da cadeira de rodas, mas é agressivamente empurrado pelo segurança e cai de costas no chão. Quando tenta se levantar, é novamente empurrado. Os dois voltam a discutir. Um outro segurança que estava no local apenas observa a cena (vídeo abaixo).
Segurança de hospital agride paciente com colar cervical e estava em cadeira de rodas
Quando finalmente consegue se levantar, o paciente é novamente empurrado, agora contra uma parede. Em seguida, o segurança acerta um chute na região do quadril do paciente, que volta a cair no chão.
O homem se levanta mais uma vez e caminha em direção ao segurança, mas é novamente empurrado e cai de bruços no chão. Ele se levanta e, de novo, anda na direção do agressor, mas é derrubado outra vez.
Na sequência, o segundo segurança parece segurar o braço da vítima, que, mesmo no chão, tenta se defender com chutes.
Em nota, a Prefeitura de São Bernardo informou que os seguranças eram terceirizados e foram desligados. O município disse que repudia os atos de violência praticados pelos funcionários e que as orientações e os treinamentos para todos os colaboradores de segurança e controladores de acesso serão reforçados (leia íntegra abaixo).
Comissão de Diretos Humanos da OAB
Por meio de nota, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Bernardo do Campo repudiou o que aconteceu no hospital e informou que pedirá providências à prefeitura. E classificou como tortura as agressões cometidas pelo funcionário contra o paciente.
“A Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Bernardo do Campo repudia os atos covardes de violência cometidos por um segurança nas dependências do Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo, conforme imagens exibidas pela TV Globo. Quem se dirige a um Hospital procura atendimento e acolhimento e não agressões e violência. Ao submeter uma pessoa com deficiência, um cadeirante, a intenso sofrimento físico e psicológico, o autor das agressões pode responder por crime de tortura”, informa trecho do comunicado. “Já o outro segurança que presenciou e nada fez diante das agressões, pode responder por omissão diante da prática de tortura.”
“A Comissão de Direitos Humanos da OAB SBC se coloca à disposição da vítima e de seus familiares para acompanhar as investigações policiais visando a punição dos responsáveis. A Comissão também vai oficiar a prefeitura para que o contrato com a empresa de segurança que presta serviços no Hospital de Urgência seja reavaliado, para verificar como são recrutados, contratados e capacitados os seguranças”, continua o texto assinado pelo advogado Ariel de Castro Alves, presidente da comissão.
O que diz a Prefeitura de São Bernardo do Campo
Leia a íntegra da nota:
“A Prefeitura de São Bernardo, por meio da Secretaria de Saúde, repudia os atos de violência praticados por dois seguranças terceirizados contra um paciente no Hospital de Urgência. A empresa de segurança foi notificada, os seguranças foram desligados e serão reforçadas as orientações e treinamentos para todos os colaboradores de segurança e controladores de acesso. A Prefeitura de São Bernardo reitera que não compactua com nenhum tipo de violência e que todas as medidas administrativas estão sendo tomadas para que essa triste situação não se repita e para que os envolvidos sejam exemplarmente punidos”.
Segurança de hospital em SP agride paciente que estava em cadeira de rodas e usava colar cervical
Reprodução