Maioria do STF fecha com Moraes e vê ameaça de americanos como ‘violação absurda’

“Solidariedade tende a 100%”, diz um ministro, que provoca: “Brasileiros estão sendo deportados dos Estados Unidos. Imaginemos um juiz daqui decretar a prisão dos agentes americanos que atuam nessas ações? A maioria do Supremo Tribunal Federal apoia a decisão do ministro Alexandre de Moraes de abrir um inquérito contra o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem, nas palavras do procurador-geral da república, agido publicamente para ameaçar, constranger e impedir o avanço do julgamento do caso que tem o pai, Jair Bolsonaro, como principal personagem: o da tentativa de golpe de Estado.
Um integrante da Primeira Turma ouvido pelo blog diz que a solidariedade interna “tende a chegar a 100%”, talvez com “uma exceção”. Ele vê a ameaça americana como “absurda”. “Não há precedentes no mundo desse tipo de sanção contra um juiz de outro país”, analisa.
Este mesmo integrante do STF propõe um exercício: “Para dimensionar o tamanho da violação à soberania brasileira, basta inverter a situação: Brasileiros estão sendo deportados dos Estados Unidos. Imaginemos um juiz brasileiro decretar a prisão dos agentes policiais americanos que atuam nessas ações?”, provoca.
“Sendo que a situação é ainda mais grave, porque não há um cidadão americano sequer em litígio nesse caso”, conclui.
O STF também aponta o dedo para o Itamaraty. Um segundo integrante da corte afirma que, após a fala do secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rúbio, confirmando a avaliação de sanções contra Moraes, o Ministério das Relações Exteriores tinha a obrigação de responder.
“Acho que todos ali no governo sabem que havia expectativa de uma reação oficial que não veio. A resposta que tivemos é que a diplomacia opera de uma forma diferente. Mas houve a fala de um integrante do primeiro escalão”, explica o ministro do STF.
O blog procurou o Itamaraty. O ministro Mauro Vieira tem, pessoalmente, atualizando Moraes sobre o avanço das conversas com os americanos.
“Diplomacia nem sempre se faz pela mídia”, diz um integrante do ministério. “Ninguém pode garantir resultados na Washington de hoje em dia, mas é nossa obrigação tentar, enquanto ainda é possível evitar uma crise. Mas não cabia queimar a largada e fechar portas só por conta da declaração”, conclui.
Nas conversas de bastidor, os integrantes da corte fazem uma análise mais ampla do caso. Um integrante da Primeira Turma avalia que “o bolsonarismo tornou-se um instrumento das big techs, que estão dentro do governo americano, e têm usado o poder de Washington para pressionar a Justiça do Brasil, à medida que se aproxima o julgamento de uma regulamentação das plataformas”. A análise é compartilhada por outros integrantes da corte, como registrou Andreia Sadi.
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