Por que as mulheres sofrem mais de depressão do que os homens?


A vulnerabilidade feminina à doença está relacionada a causas ambientais e fisiológicas, explica a psiquiatra francesa Lucie Joy. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo. Pobreza eleva em 3 vezes risco de surgimento de ansiedade e depressão
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As mulheres têm duas vezes mais depressão do que os homens, segundo dados da Santé Publique France, a agência de saúde pública francesa. A vulnerabilidade feminina à doença está relacionada a causas ambientais e fisiológicas, explica a psiquiatra francesa Lucie Joy.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo. “As mulheres atravessam períodos complicados, de grandes transformações hormonais, como a gravidez, a menopausa, e o período que precede o aparecimento da primeira menstruação, que também pode ser complicada”, explica a especialista.  
“Os sintomas depressivos estão associados com frequência a essas mudanças na vida da mulher e isso faz com que algumas depressões graves sejam minimizadas”, afirma a psiquiatra francesa, coautora do livro “A Depressão Feminina: Desmistificar, Compreender e curar”, em tradução livre. 
Dificuldades da vida não são o que causa depressão
A depressão “de verdade” afeta o funcionamento cerebral e impede a ação de alguns neurotransmissores na transmissão das informações essenciais para o equilíbrio cognitivo, fisiológico e emocional, com consequências diversas e individuais.  
Em casos moderados e graves, o uso de medicamentos é necessário, mas às vezes eles demoram para serem prescritos porque os sintomas femininos são banalizados, aumentando o risco de suicídio. 
O transtorno disfórico pré-menstrual, por exemplo, que ocorre antes da ovulação, entra nesta categoria. Ele atinge 5% das mulheres e gera sintomas depressivos severos, que podem levar à hospitalização. 
Fatores ambientais 
A biologia explica a tendência feminina à depressão, mas o funcionamento orgânico das mulheres não é a única causa da explosão do número de casos. A violência, a discriminação, a desigualdade de gênero e a falta de reconhecimento profissional também são fatores que afetam a saúde mental. 
“É muito importante conhecer o mecanismo hormonal e fisiológico feminino, mas há também uma combinação de fatores socioculturais que devem ser levados em conta”, destaca a psiquiatra francesa. 
Segundo a profissional, estudos mostram que as mulheres sofrem mais violência, conjugal ou não e têm um salário em média 24% mais baixo do que os homens. Elas também são responsáveis pela organização familiar e 71% das tarefas domésticas. Esse acúmulo de carga física e mental não contribui para a preservação da saúde mental. 
“Tudo isso acaba se acumulando, o que explica por que a depressão é bem mais frequente nas mulheres. Esses fatores atuam em conjunto e se potencializam entre si”. 
A associação da doença à tristeza também é um mito que confunde muitos pacientes. Na realidade, uma das principais  características da depressão é a anedonia: a perda da capacidade de sentir prazer em atividades antes consideradas agradáveis.  
O paciente é invadido por sentimentos negativos. Pode ter também agitação ou lentidão psicomotora, o que cria confusão. “É algo que vai muito além da tristeza, se manifesta de formas muito diferentes em homens e mulheres e em função do período que atravessamos.” 
Desinformação dificulta vida dos pacientes A psiquiatra lembra que a desinformação em torno da doença dificulta a vida dos pacientes. Ao longo da vida, as mulheres, por exemplo, estão habituadas a ouvir que os sintomas associados à oscilação hormonal, em diferentes fases, são passageiros e lidar com eles “faz parte da vida”.  
“Só que isso não é possível no caso de uma depressão. “Quando estamos deprimidos mesmo, não podemos controlar. A depressão é uma verdadeira patologia, que deve ser tratada”, salienta. Ela cita como exemplo o suicídio gerado pela depressão pós-parto, como a maior causa de mortalidade materna na França um ano após o nascimento do bebê. 
A depressão clínica não pode ser tratada apenas com técnicas de relaxamento ou terapia. Ela exige o uso de medicamentos adaptados – às vezes é necessário testar diferentes moléculas, e acompanhamento especializado.  
Consultar um psiquiatra ou tomar remédios também pode ser considerado como uma fraqueza e isso muitas vezes impede o paciente de buscar ajuda. A hospitalização é outra etapa essencial para a cura e não é sinônimo de fracasso. A falta de informação de familiares e amigos que convivem com o paciente também pode ser nociva.  
A psiquiatra lembra que os medicamentos não serão usados “a vida toda” e as doses aos poucos diminuem à medida em que os pacientes melhoram. 
“A depressão altera as relações sociais, familiares e amorosas. Ela tem um impacto amplo. Se os sintomas são de leve a moderados, vamos propor psicoterapia associada a conselhos de alimentação e higiene de vida. Quando os sintomas são de moderados a severos e alteram o funcionamento, vamos propor um tratamento com um antidepressivo”. 
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