BUENOS AIRES, 21 ABR (ANSA) – Por Ludovico Mori – A morte do papa Francisco surpreendeu Buenos Aires nas primeiras horas da manhã, enquanto um céu encoberto tomava a cidade natal do pontífice, falecido aos 88 anos.
“Hasta siempre, hermano Francisco”, disseram as Avós da Praça de Maio, associação que reúne parentes de desaparecidos durante a ditadura militar, ao prestar sua homenagem a um Papa que, desde o início de seu pontificado, “sempre apoiou a busca pelos netos roubados”.
Em comunicado, o grupo o definiu como “um homem do povo, cheio de humanidade e compaixão”, cuja mensagem era de “amor e rebeldia”. “Hoje morreu um defensor da justiça social e dos direitos humanos, o Papa dos pobres, dos últimos. Cabe a nós, que ficamos, manter vivos sua palavra e seu exemplo”, diz a mensagem.
“Partiu o pai de todos os argentinos”, declarou, emocionado, o arcebispo Jorge Ignacio García Cuerva, durante a primeira missa na Catedral de Buenos Aires após a morte de Jorge Bergoglio, celebrada às 8h30. Enquanto isso, do outro lado da Praça de Maio, a bandeira argentina na Casa Rosada foi hasteada a meio-mastro, e o governo do presidente Javier Milei decretou sete dias de luto nacional. “Perdemos o Papa dos pobres, dos marginalizados, daqueles que ninguém quer ou que muitos excluem”, acrescentou Cuerva em sua homilia, em uma catedral lotada de fiéis, muitos deles em lágrimas.
Entre eles, destacava-se a presença de jovens, os mesmos a quem Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013, havia convidado a “levar a Igreja para as ruas” e a “fazer barulho”. Camila, 26 anos, deixou uma imagem do San Lorenzo, time do coração de Bergoglio, com uma mensagem manuscrita: “Voe sempre alto, Francisco. Estamos tristes, você ficará em nossos corações”.
“Para mim, ele era como um pai. Perdi meus pais quando era criança, e suas palavras eram como um carinho”, disse ela à ANSA, com voz embargada.
O estudante universitário Juan Pablo, 18 anos, atravessou Buenos Aires para participar da missa. “Francisco é um símbolo de luta em um momento em que falta misericórdia e empatia na sociedade”, afirmou. Marcela, 46, voluntária da Cáritas, mal conseguia falar entre lágrimas, mas insistiu: “Ele era nossa referência, nos guiava a ajudar os mais necessitados e a encontrar Deus até nos invisíveis”.
O bairro de Flores, onde Bergoglio nasceu, e as favelas que ele frequentava como arcebispo também prestaram tributo.
“Precisamos transformar esta dor em esperança”, disse o padre Pepe, um dos religiosos mais próximos do Papa e que atua nas comunidades mais carentes da Argentina.
Na Basílica de São José, em Flores, milhares compareceram para se despedir. Magalí, 35 anos, deixou o trabalho em uma loja de roupas para estar presente. “Nós nos sentimos órfãos. É um dia tremendamente triste”, resumiu, captando o sentimento que domina os argentinos nesta jornada de luto. (ANSA).