Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News
Famílias em Gaza estavam se agarrando à pequena chance de encontrar entes queridos enterrados sob os escombros de casas destruídas. Mas essa esperança está desaparecendo rapidamente. A destruição de maquinário pesado essencial nesta semana, após relatos de ataques aéreos israelenses, paralisou os esforços de resgate e recuperação, tornando ainda mais difícil chegar cerca de 11 mil corpos ainda presos sob os escombros.
De acordo com as autoridades locais, os ataques interromperam todas as operações de remoção de resíduos sólidos e entulho, disse o porta-voz da ONU (Organização das Nações Unidas), Stéphane Dujarric.
Até recentemente, tratores e outros equipamentos de escavação eram usados em esforços meticulosos para recuperar corpos dos destroços.
Uma escavadeira operada por Atif Nasr — que antes da guerra trabalhava na construção e reparo de estradas — tornou-se vital na árdua tarefa de extrair os restos mortais de entes queridos dos escombros.
Ele foi entrevistado por um correspondente da ONU News em Gaza antes do ataque, mas agora seu trabalho árduo, porém vital, foi interrompido depois que seu veículo foi destruído.

Meses presos em escombros
A família Dahdouh conseguiu recuperar os restos mortais de seu filho, Omar, das ruínas de sua casa, quase um ano depois de ele ter sido morto em um ataque aéreo que derrubou seu prédio de sete andares. No local, o irmão de Omar, Moayad, compartilhou o calvário da família.
“Seu corpo permaneceu preso sob os escombros por quase um ano. Depois da guerra, tentamos resgatá-lo, mas, com o prédio tão grande e sem maquinário pesado disponível, foi impossível”, conta. “Procuramos por todo o lado uma escavadeira para chegar ao piso térreo, onde Omar estava. Mas, durante a guerra, as forças israelenses destruíram ou queimaram todas as escavadeira que poderiam ter ajudado.”
Um enterro decente
Em Khan Younis, no sul de Gaza, a família Dajani continua vivendo no que sobrou de sua casa destruída, onde os corpos de três de seus filhos permanecem enterrados.
O pai deles, Ali, lembra-se com o coração pesado do momento em que morreram.
“Fugimos para a área da praia durante os bombardeios. Quando retornamos, a casa havia desaparecido – e nossos filhos ainda estavam sob os escombros. Somos forçados a viver aqui, mas isso não é vida. É insuportável”, disse ele.
“Não temos água limpa, nem comida. Estamos perdidos. Tudo o que pedimos é que recuperem os corpos dos nossos filhos. Enterrar os mortos é sagrado. É tudo o que queremos”, acrescentou.
Há poucos dias, Dajani discursou enquanto escavadeiras trabalhavam nas proximidades para remover os escombros. Esse esforço também foi interrompido por enquanto.
Uma crescente crise humanitária
A ONU estima que aproximadamente 92% de todos os edifícios residenciais em Gaza – cerca de 436 mil casas – foram danificados ou destruídos desde o início do conflito.
Os detritos resultantes somam quase 50 milhões de toneladas — uma quantidade avassaladora de entulho que levaria décadas para ser removida nas condições atuais.
Organizações humanitárias alertam que o atraso na remoção dos escombros e na recuperação dos corpos não está apenas aprofundando o trauma psicológico em Gaza, mas também ameaça se tornar uma catástrofe ambiental e de saúde pública.
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