Grupo separatista curdo anuncia dissolução e fim da luta armada

"ProcessoApós mais de 40 anos de insurgência, PKK declara fim da luta armada como parte de um acordo firmado com a Turquia. Dissolução ocorre três meses após apelo de líder, preso desde 1999 pelos turcos.O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que há mais de quatro década lidera um movimento de insurgência na Turquia, anunciou nesta segunda-feira (12/05) sua dissolução e o fim da luta armada. A medida veio como parte de um acordo firmado entre o grupo e o governo do líder turco, Recep Tayyip Erdogan, em março deste ano.

“A partir de hoje, não haverá operações armadas ou atividades políticas sob o nome do PKK”, afirmou um comunicado divulgado pelo grupo nesta segunda-feira, acrescentando que o grupo “completou sua missão histórica”. “A luta do PKK rompeu com a política de negação e aniquilação do nosso povo e levou a questão curda a um ponto de solução por meio de políticas democráticas.”

O governo turco reagiu com cautela ao anúncio. “Se a nova decisão do PKK for totalmente implementada e todas as suborganizações e estruturas ilegais do partido forem fechadas, este será um ponto de virada”, afirmou Ömer Celik, porta-voz do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, segundo a agência de notícias Anadolu. Ele disse ainda que a dissolução foi “um passo importante em direção a uma Turquia livre do terrorismo”.

Em postagem no X, o diretor de comunicações da Presidência turca, Fahrettin Altun, disse que Ancara tomará as medidas necessárias para assegurar os avanços rumo a um país “livre do terrorismo”. Ele assegurou que o processo de paz não é de curto prazo ou superficial, e que todas as etapas ocorrerão de maneira sensível e transparente.

A dissolução do grupo dará ao presidente Erdogan a oportunidade de impulsionar o desenvolvimento no sudeste da Turquia, predominantemente curdo, onde há décadas a insurgência vem prejudicando a economia regional.

Öcalan lidera processo de dissolução

Desde o início da insurgência do PKK em 1984, o conflito, que matou mais de 40.000 pessoas, exerceu enorme peso sobre a economia da região e alimentou tensões sociais.

O grupo, que defendia a criação de um Estado curdo ou de uma região autônoma no sudeste turco, é classificado como uma organização terrorista pela Turquia, União Europeia (UE) e Estados Unidos.

O congresso foi realizado em resposta a um apelo de seu líder, Abdullah Öcalan, preso na Turquia desde 1999, que em fevereiro pediu o fim da luta armada contra a Turquia. Segundo a agência, o próprio Öcalan iria conduzir o processo. Contudo, não foram divulgados detalhes sobre como o desarmamento e a dissolução devem acontecer na prática.

“O 12º Congresso do PKK decidiu dissolver sua estrutura organizacional […] e pôr fim à luta armada”, informou a agência de notícias Firat, próxima ao grupo, na declaração de encerramento do encontro realizado na semana passada no norte do Iraque, onde o grupo está sediado. Um líder do PKK disse que todos os 232 membros da organização concordaram unanimemente com a decisão.

Questões em aberto

As principais questões a partir de agora serão como se dará esse processo, quem supervisionará o desarmamento e o que acontecerá com os combatentes da organização. De acordo com a agência de notícias ANF, afiliada ao PKK, a organização exigiu garantias legais para salvaguardar o processo.

O PKK havia anteriormente vinculado sua dissolução à libertação de Öcalan, embora isso não ainda não tenha sido confirmado por Ancara.

Não se sabe ainda como o processo deverá afetar a milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG) na Síria, que lidera uma força aliada dos EUA contra o grupo terrorista “Estado Islâmico” (EI) e é considerado pela Turquia como um grupo afiliado ao PKK. O próprio YPG já havia afirmado que o apelo de Öcalan não se aplicaria ao grupo.

Ao longo dos anos, diversas iniciativas anteriores de pôr fim ao conflito fracassaram, como uma tentativa de um cessar-fogo entre 2013 e 2015.

rc (Reuters, DPA)

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