As cordelistas do Pajeú que colocam a mulher no protagonismo da poesia

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“Pajeú, quero te homenagear

tua terra e o povo do teu chão

és a estrela da nossa região

terra viva que exala poesia

e acredito que Deus morou um dia

no lugar mais poético do sertão”.

Reza a lenda que quem bebe e se banha no rio Pajeú, no sertão pernambucano, já nasce poeta. A terra viva, que exala poesia, é cantada e rimada no verso de mulheres cordelistas como o de Elenilda Amaral, de Afogados da Ingazeira, município a três horas de carro do Recife.

As águas encantadas do Pajeú se estendem por 350 km em 17 municípios do semiárido nordestino, até se despejar no rio São Francisco. É lá que vivem e se inspiram as poetisas e cordelistas do Vale do Pajeú.

Com 37 anos, Elenilda foi primeira mulher na história do Pajeú a participar de uma mesa de improviso, em 2013. Ela é uma glosadora: tira a rima de improviso, só basta darem um motivo.

“Durante muito tempo a gente sequer ousava sonhar em estar naquele lugar, ocupando aquele espaço. Quando a gente começa a participar, trazer outras mulheres para a roda, a gente traz a figura da mulher como centro da sua produção, como autora, realmente, da sua vida. Protagonista do seu próprio prazer, a maternidade solo e diversas outras vivências. Combater preconceitos, como a homofobia. Então a gente passeia muito por esse universo, também, das questões sociais”.

As cordelistas do Pajeú lutam contra o machismo e pelos direitos das mulheres.

Isabelly Moreira tem 31 anos e é de São José do Egito, a 56 km da cidade de Elenilda. Desde os 13 anos, tudo o que a move no mundo pode virar cordel escrito e declamado.

“A história da poesia com o Pajeú, se entrelaça. Eu sempre digo que é impossível contar a história do Pajeú sem falar na história da poesia que é desenvolvida na nossa região. E inerente a todo esse processo da poesia, também tem as mulheres poetas que fazem parte dessa conjuntura. E essa poética vem a cada ano ganhando mais corpo, ganhando mais força e mais presença feminina, com uma qualidade absurda. Então essa movimentação é um repasse de geração a geração, que isso faz parte da nossa memória, faz parte da nossa tradição”.

Tradição, oralidade e sabedoria é o que dona Luzia Baptista, de 72 anos, têm de sobra.


Brasília (DF), 24/12/2024 - Luzia Poetisa 
Foto: Acervo Luzia Baptista/Divulgação

Brasília (DF), 24/12/2024 – Luzia Poetisa Foto: Acervo Luzia Baptista/Divulgação – Acervo Luzia Baptista/Divulgação

 

Conhecida como Luzia poetisa, a agricultora do sítio Açude da Porta, em São José do Egito, nunca foi para a escola e já plantou muito milho, feijão e jerimum.

Mestra mais velha entre as cordelistas da região, dona Luzia é famosa no Pajeú pela maestria como decora e tira o verso da cabeça.

“A semente que a gente semeia na terra é para nascer, brotar e crescer, para a gente colher na hora certa. E a semente da palavra é uma coisa muito importante, é uma coisa bem esclarecida, que a gente pode espalhar e a gente ter orgulho daquelas palavras que a gente faz. Quer dizer que é a semente verdadeira, né?”.

E é com um cordel de dona Luzia que se encerra essa reportagem especial de Natal.

“Eu lembro quando eu contava sete anos de idade

numa praça da cidade com uma amiga, eu brincava.

Foi aí quando chegava alguém que eu nem conhecia

falou comigo, e falou, Luzia, eu venho te dar um abraço

e pra você deixar o laço do porte da poesia”.

 

 Estiagem no reservatório conhecido como Açude da Pista, que abastecia moradores da comunidade Engano, no distrito de Riacho Verde, em Quixadá, sertão central do Ceará (Fernando Frazão/Agência Brasil)

© Fernando Frazao

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