Sem chances para a democracia

Um dos países mais prósperos da América do Sul, uma das nações mais promissoras e detentora de um bem essencial para a humanidade em abundância, viu sua democracia morrer gradualmente. A Venezuela, rica em petróleo e com uma população jovem, era vista como uma terra de prosperidade por muitos na década de 1990. Hoje, todavia, caminha a passos largos para a irreversibilidade da ditadura já instaurada há mais de 15 anos. O falecimento da democracia venezuelana aconteceu em algumas etapas, onde um líder democraticamente eleito em 1998, Hugo Chávez, corroeu a independência das instituições, assumindo controle definitivo sobre o Judiciário, o Legislativo e todos os órgãos eleitorais. Em seguida, a perseguição dos opositores políticos e a restrição à liberdade de imprensa, selaram o silenciamento de ideias divergentes e impediram eleições justas. Por fim, a militarização do Estado, enriqueceu generais corruptos e garantiu a sobrevivência do regime, mesmo após a morte de Chávez em 2013, o que consolidou a ascensão de Maduro.

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A crise econômica e o colapso institucional trouxeram a miséria para milhões e o aprisionamento de milhares, tornando o regime venezuelano, um dos mais tirânicos do nosso continente. Havia uma remota esperança de que na eleição presidencial de 2024, na qual uma minúscula abertura permitiu um opositor a concorrer, o renascimento da nação pudesse ocorrer. Doce ilusão. Após inúmeras interrupções no processo de contagem e o desaparecimento das atas eleitorais, Nicolás Maduro se declarou vencedor com mais de 51% dos votos. A oposição liderada por Edmundo González apresentou milhares de atas que referendavam uma vitória de sua chapa por mais de 67% dos votos. As cortes eleitorais e de justiça não ousaram contrariar o ditador e confirmaram a reeleição fraudulenta de Maduro, mesmo sem a apresentação das atas. Edmundo González foi declarado inimigo da pátria bolivariana e teve um mandado de prisão expedido por insurreição e tantas outras ofensas determinadas por Maduro.

A posse de Nicolás Maduro está marcada para o dia 10 de janeiro e González afirma que retornará a seu país para ser empossado, já que se considera o legítimo vencedor do pleito em 2024. Caso retorne ao país, Edmundo muito provavelmente será preso. Tudo indica que a tensão estará nas ruas de Caracas em um dia que será marcado muito mais pela continuação de uma farsa, do que pelo início de uma merecida mudança de ares em um país tão promissor. Infelizmente, em uma nação de miseráveis desesperançosos, os bolsos cheios de um exército corrupto, asseguram mais uma vez a permanência de Maduro no palácio de Miraflores. Os sonhos de uma Venezuela livre e que possa seguir a sua sina de ser próspera, parece ter sido adiado mais uma vez.

Sobraram poucos mecanismos à comunidade internacional para evitar que seja prolongado o sofrimento do povo venezuelano. As dezenas de sanções aplicadas contra o país e seus políticos estão afetando muito mais as classes mais pobres do que a alta cúpula do regime. As notas de repúdio contra os abusos do governo e declarações de preocupação com os direitos humanos no país, emitidas pela ONU, pelo Brasil e outros países influentes na região, são hoje apenas notas de rodapé na penúltima página dos jornais. Ao que tudo indica, o drama de quase 30 milhões de pessoas continuará a ser vivido por mais algum tempo, já que as opções remanescentes nas mãos dos venezuelanos, são por hora, insuficientes para ressuscitar uma democracia morta.

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