Quais as complicações da raiva humana e por que é tão letal?

Uma mulher morreu no último sábado (11) após ter contraído raiva humana no Agreste de Pernambuco. Ela estava internada no Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (HUOC/UPE) em estado grave, após ser atacada por um sagui. Pernambuco havia confirmado o caso na quarta-feira (8), após oito anos sem registros de raiva humana no estado.

A raiva é uma doença infecciosa grave causada por um vírus do gênero Lyssavirus. A infecção, que pode afetar humanos, rebanhos e animais domésticos, causa a inflamação progressiva do cérebro, com letalidade próxima a 100%.

“O vírus da raiva afeta, basicamente, o sistema nervoso central, principalmente o cérebro. Por isso, os sintomas manifestados são, primariamente, as alterações do estado de consciência, como depressão, sonolência e, muito frequentemente, a irritação”, explica Renato Grinbaum, infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), à CNN.

Além disso, a raiva humana causa fraqueza e espasmos musculares, inclusive nos músculos do esôfago, levando à hidrofobia — incapacidade de ingerir líquidos e a própria saliva, levando à salivação excessiva, um sintoma característico da raiva.

“Normalmente, é uma doença que vai progredindo para um dano cerebral grave e irreversível, e é letal porque o vírus afeta regiões muito nobres do cérebro de forma muito rápida, não dando tempo do organismo esboçar qualquer reação satisfatória”, afirma o especialista.

“Existem pouquíssimos casos de recuperação da raiva. Porém, nessas situações, a destruição é tão intensa, tão severa, que a pessoa perde o estado de consciência e tem paralisias múltiplas. É um estado de vida muito precário, dependente de aparelhos e de cuidados, uma sobrevida muito difícil”, completa.

Vírus da raiva não tem cura e a prevenção é essencial

O vírus da raiva não pode ser tratado e nem curado. “Praticamente, todos os indivíduos que adquirem raiva falecem. Então, é de extrema importância que a pessoa que sofre uma mordedura [de um cachorro ou outro mamífero desconhecido] faça a profilaxia contra a raiva, e a vacina é extremamente eficaz”, alerta Moacyr Silva, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, à CNN.

De acordo com o especialista, a vacina antirrábica utilizada após o ferimento causado por um animal é definida de acordo com o local afetado. “Dependendo do local da mordedura — por exemplo, região da face e das mãos são áreas em que o vírus tem maior facilidade de chegar ao sistema nervoso central — e dependendo da gravidade, você categoriza qual o tipo de vacinação que a pessoa vai receber. Então, isso é um fator que facilita qualquer prevenção”, afirma.

Além disso, a vacinação de cães e gatos é uma das formas mais eficazes de prevenir a raiva animal e a transmissão aos humanos. Como medida de prevenção, o ministério recomenda evitar aproximação e o toque de animais desconhecidos, principalmente quando estiverem se alimentando, com filhotes ou dormindo.

Em caso de agressão por animais, é preciso lavar o ferimento com água corrente e sabão imediatamente e buscar atendimento médico para orientações sobre a necessidade de receber a vacina antirrábica.

“Não existe nenhum tratamento eficaz, nenhum antiviral que seja eficaz para o tratamento da raiva. Então, a melhor medida é a prevenção. Se você tem uma mordida de algum animal silvestre, de um gato, de um cachorro, de um macaco, deve procurar imediatamente o médico para ele fazer a profilaxia e, dependendo do tipo de lesão, o tratamento com soro antirrábico, além da vacina”, orienta Silva.

O Ministério da Saúde recomenda a vacinação de maneira preventiva para grupos considerados de risco, de acordo com a atividade desempenhada:

  • Médicos veterinários; biólogos; profissionais de laboratório de virologia e anatomopatologia para raiva; estudantes de medicina veterinária, zootecnia, biologia, agronomia, agrotécnica e áreas afins;
  • Pessoas que atuam na captura, contenção, manejo, coleta de amostras, vacinação, pesquisas, investigações ecopidemiológicas, identificação e classificação de mamíferos como os domésticos (cão e gato) ou de produção (bovídeos, equídeos, caprinos, ovinos e suínos), animais silvestres de vida livre ou de cativeiro, inclusive funcionários de zoológicos;
  • Pesquisadores de cavernas (espeleólogos), guias de ecoturismo, pescadores e outros profissionais que trabalham em áreas de riscos.

*Com informações de Gabriela Bento, em colaboração para a CNN

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Quais as complicações da raiva humana e por que é tão letal? no site CNN Brasil.

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