Ex-reféns israelenses ficam impacientes com seus parentes ainda cativos em Gaza

Já se passou mais de um ano desde que Ilana Gritzewsky foi libertada pelo Hamas, mas seu pesadelo continua. A israelense-mexicana está lutando pelo retorno de seu parceiro, Matan Zangauker, que ainda é mantido em cativeiro em Gaza.

“Minha alma ainda está lá”, disse à AFP Ilana Gritzewsky, 31 anos, libertada no final de novembro de 2023 durante a única trégua na guerra de Gaza, que permitiu o retorno de 105 reféns.

No início do mês passado, o Hamas divulgou um vídeo de seu parceiro, sequestrado com ela de sua casa no Kibutz Niz Or durante o ataque sem precedentes do movimento islamista palestino a Israel em 7 de outubro de 2023.

Um total de 251 pessoas foram sequestradas naquele dia. Dessas, 94 permanecem em Gaza, embora o Exército israelense considere que 34 estão mortas.

“Ver essas imagens me fez mergulhar no período de cativeiro”, diz Ilana. “Os gritos, as vozes, os cheiros, o medo, a impotência…”, diz ela.

“Estou livre há mais de 400 dias e minha saúde está piorando. Então, aqueles que estão em Gaza há mais de 460 dias, em que estado se encontram?”, se pergunta.

As negociações indiretas entre o Hamas e Israel foram retomadas nos últimos dias, mas isso não ameniza a impaciência dos ex-detentos que ainda têm parentes em cativeiro.

Ilana pede um acordo “imediato” e lembra que todos os reféns são “casos humanitários”.

Tendo chegado a Israel do México aos 16 anos de idade, Gritzewsky participa dos comícios e manifestações semanais para exigir um acordo para a libertação dos reféns, juntamente com a mãe de seu parceiro, Einav Zangauker.

“Estou arrasada, mas vi meu parceiro vivo em um vídeo há um mês. Se ele consegue se manter em cativeiro, como posso não me levantar todas as manhãs para lutar por ele?”, diz ela.

Mas a jovem ainda é assombrada pelas lembranças de seu sequestro.

“Perdi 11 quilos em cativeiro. Também fui maltratada. Fui queimada, perdi a audição do ouvido esquerdo e minha mandíbula foi deslocada. Fui assediada sexualmente durante o sequestro (…) e continuo sofrendo as consequências. Por enquanto, não posso começar a me recuperar”, explica Ilana, com a voz trêmula.

– Um “inferno diário” –

O argentino Luis Har, que está prestes a completar 72 anos, foi libertado em uma operação do Exército israelense após 129 dias em cativeiro com seu cunhado, Fernando Merman.

Ele afirma se lembrar de cada detalhe de seu sequestro em uma casa no Kibbutz Nir Yitzhak com quatro membros da família de seu parceiro.

Após sua libertação, ela retomou uma de suas atividades favoritas, a dança contemporânea, mas diz que não recuperará totalmente sua vida cotidiana até que todos os reféns retornem. Essa é sua “luta”.

Ao contrário de outros reféns, que foram mantidos em túneis do Hamas na Faixa de Gaza, Har passou seus meses de cativeiro em um apartamento.

Ele disse à AFP que chorava quando pensava em seus filhos e dez netos à noite, antes de dormir. Ele se lembra de seus guardas ameaçadores e dos dias em que dividia um pedaço de pão pita com seu cunhado como a única refeição do dia.

Era “um inferno diário”, diz ele.

Quando os soldados israelenses o resgataram, “foi muito emocionante”. “Um soldado disse em meu ouvido: ‘Luis, viemos buscá-lo’.

“Não sou mais o mesmo homem, mas agora temos que cuidar dos outros e trazê-los de volta”, diz Har. “Nunca desanime”, ele insiste.

Ilana Gritzewsky também tenta se manter otimista. “Caso contrário, eu não conseguiria me levantar todas as manhãs. Mas cada fracasso nas negociações me desanima um pouco mais”, confessa.

O que ela quer é “ação”. “Não queremos promessas, queremos ação e pressão sobre o Hamas e sobre Netanyahu, o primeiro-ministro israelense”, ela pede aos líderes internacionais.

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