Por que repetimos padrões ruins em relacionamentos?

Já aconteceu de você terminar um relacionamento e, depois de um tempo, começar outro e perceber que está passando pelas mesmas situações anteriores? Ou notou que a nova pessoa com quem está se relacionando é parecida ou tem atitudes semelhantes ao ex-parceiro? Esses são sinais de um padrão de repetições em relacionamentos que, muitas vezes, pode ser ruim para o bem-estar emocional.

“Um padrão de repetições em relacionamentos é como aquele filme que você já sabe o final, mas insiste em assistir”, explica a psicóloga e sexóloga Laís Melquíades, à CNN. “São comportamentos, escolhas ou dinâmicas emocionais que aparecem repetidamente em diferentes relações, muitas vezes, sem que você perceba”, completa.

Na prática, segundo a especialista, é equivalente a escolher parceiros com o “mesmo pacote de características”, como a falta de disponibilidade emocional, ou repetir situações tóxicas que só reforçam sentimentos de rejeição, abandono ou dependência. Alguns exemplos de padrão de repetição em relacionamentos é sempre se relacionar com pessoas agressivas, controladoras, emocionalmente indisponíveis ou que perpetuem relações de dependência.

“Também é possível identificar esses padrões nas reações emocionais intensas e recorrentes, como ciúmes exagerados ou medo constante de ser abandonado. Além disso, há a clássica autossabotagem, quando você evita relações mais profundas com medo de se machucar”, afirma Melquíades.

Por que essas repetições acontecem?

Segundo Larissa Fonseca, psicóloga clínica doutoranda em ansiedade, depressão, estresse, sono e sexualidade feminina, os padrões de repetição em relacionamentos podem ter origem em experiências vivenciadas na infância, como vínculos disfuncionais, sensação ou a própria vivência da ausência dos papéis parentais.

“Por exemplo, a pessoa pode ter sofrido abandono parental e estar em relações em que a ‘migalha’ afetiva e a carência prevalecem”, explica Fonseca. “A Teoria do Apego [criada pelo psicólogo britânico John Bowlby] pode auxiliar na explicação da recriação de dinâmicas familiares conhecidas, mesmo disfuncionais, porque são vistas como ‘familiares’ e, portanto, comuns. Além disso, crenças limitantes, como ‘não ser suficiente’ ou ‘preciso me sacrificar e sofrer para ter amor’, podem explicar as escolhas de padrões disfuncionais”, completa.

Melquíades cita, também, a Teoria do Esquema, criada pelo psicólogo Jeffrey Young.

“Segundo ela, nossas experiências passadas, especialmente as da infância, deixam marcas profundas na forma como vemos a nós mesmos, aos outros e ao mundo ao nosso redor. Essas marcas, chamadas de ‘Esquemas Desadaptativos Precoces’, surgem quando sentimos que nossas necessidades emocionais mais importantes, como amor, segurança e validação, não foram atendidas do jeito que precisávamos. E, como cada pessoa interpreta as coisas de forma única, o que afeta profundamente uma pessoa pode não ter o mesmo impacto para outra”, explica a sexóloga.

A especialista faz uma alusão: é como se a pessoa estivesse usando óculos distorcidos pelos quais ela enxerga o mundo, influenciando suas escolhas e atitudes.

“Por exemplo, alguém que acredita que ‘não é digno de amor’ ou que ‘sempre será abandonado’ pode acabar, sem querer, escolhendo parceiros que confirmem essas ideias. Isso pode acontecer ao se envolver com pessoas emocionalmente indisponíveis, evitar se abrir por medo de se machucar ou tentar controlar a relação para se sentir mais seguro. Esses comportamentos, embora pareçam disfuncionais agora, podem ter sido estratégias de sobrevivência no passado”, completa.

Como identificar esses padrões?

Identificar padrões repetitivos em relacionamentos pode ser um processo desafiador, especialmente quando não uma pessoa não está fortemente conectada com suas próprias emoções ou quando ela considera “normal” tolerar situações que causam sofrimento constante.

“Mas esse é o principal termômetro: observar como você se sente na maior parte do tempo. Quem vive com padrões desadaptativos geralmente se sente frustrado e inadequado, reagindo de maneira desproporcional a situações específicas, o que cria aquele climão repetidamente, além de se envolver em brigas intermináveis por motivos semelhantes”, exemplifica Melquíades.

Além disso, também vale ficar atento às próprias falas e sensações, conforme aponta Fonseca. “É difícil perceber sozinho a repetição. Normalmente, há uma fala: ‘não sei por que, mas sempre acontece isso comigo’. Há uma repetição de problemas e conflitos. Reflexões como ‘sempre acabo com pessoas que me fazem sentir assim’ são outros indícios. Observar a própria reação e reconhecer um ciclo emocional recorrente, como a carência, dependência ou tolerância excessiva, também ajuda a identificar o padrão”, orienta.

Como quebrar esses padrões?

Apesar de representar um desafio, romper com padrões ruins de relacionamentos é possível através do autoconhecimento e de uma rede de apoio, que pode ser formada tanto por amigos e familiares, quanto por profissionais.

“O primeiro passo é perceber esses comportamentos repetitivos e assumir que eles existem. Pergunte-se: ‘Que tipo de parceiro eu costumo escolher?’ ou ‘Quais situações me fazem sentir inseguro?’. Reconhecer é o início da mudança”, orienta Melquíades.

“Depois disso, desafie essas crenças que você carrega. Será que faz sentido acreditar que ‘eu não sou digno(a) de amor’ ou que ‘as pessoas sempre vão embora’? Substituir essas ideias por evidências e pensamentos mais otimistas, como ‘Eu mereço ser amado(a)’ ou ‘Nem todas as pessoas vão me abandonar’, pode ser libertador. Leva tempo, mas funciona”, acrescenta a sexóloga.

Também é importante estabelecer limites, saber dizer “não” e cuidar das próprias necessidades. “Mas, para isso, é importante fortalecer sua autoestima, pois quando você está bem consigo mesmo, suas escolhas se tornam mais conscientes e saudáveis. E, se achar difícil fazer isso tudo sozinho, não tem problema. Buscar a ajuda de um terapeuta pode ser um grande apoio nesse processo”, completa.

Além disso, Fonseca elenca mais algumas dicas importantes para romper com padrões repetitivos em relacionamentos:

  • Desenvolver o autoconhecimento, identificando crenças e emoções subjacentes com ajuda de psicoterapia;
  • Fortalecer a autoestima e estabelecer limites saudáveis;
  • Mudar de perspectiva, questionando comportamentos automáticos e evitando decisões impulsivas em relacionamentos;
  • Conversar com pessoas de confiança sobre suas escolhas para obter outros pontos de vida.

No caso de relacionamentos abusivos, o desafio pode ser ainda maior, incluindo dependência emocional, medo de retaliação e isolamento social. Estratégias eficazes incluem, segundo a psicóloga:

  • Reconhecimento do abuso: aceitar que a relação é prejudicial;
  • Planejamento seguro: criar um plano de saída com suporte de familiares, amigos ou
    instituições especializadas;
  • Apoio profissional: buscar ajuda de psicólogos e grupos de apoio;
  • Fortalecimento emocional: trabalhar a autonomia e o autocuidado para romper o ciclo.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Por que repetimos padrões ruins em relacionamentos? no site CNN Brasil.

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