Europeus debatem estratégias para lidar com Trump

"TrumpPragmatismo, “estratégia dupla” e formação de uma frente unida são algumas das propostas para enfrentar as consequências geopolíticas e econômicas de novo governo nos EUA.Na campanha eleitoral, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou impor novas tarifas de 10% a 20% sobre as importações da União Europeia. Mas pelo menos por enquanto, o republicano não anunciou nenhuma tarifa de importação para produtos europeus.

Em geral, a Europa não desempenhou um papel importante nas primeiras horas do segundo mandato de Trump, como o Parlamento da UE também percebeu até esta terça-feira (21/01). Em vez disso, houve ainda mais discussões dentro da UE sobre como lidar com o novo governo Trump.

No Fórum Econômico Mundial em Davos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu o pragmatismo. “Seremos pragmáticos, mas sempre manteremos nossos princípios”, enfatizou, acrescentando que a prioridade máxima agora é discutir os interesses comuns entre os EUA e a UE e estar aberto a negociações.

Na segunda-feira, Trump havia dito apenas que quer equilibrar o déficit comercial com a UE por meio de tarifas ou exportando mais energia, como petróleo e gás natural.

“Estratégia dupla” em questões comerciais

No Parlamento da UE, o Comissário de Comércio Maros Sefcovic enfatizou que a UE já é o maior importador de gás natural liquefeito dos EUA. Cerca de 50% do gás GNL na UE vêm dos EUA. No entanto, o eslovaco disse – provavelmente já prevendo novas negociações – que a UE está preparada para expandir essa cooperação estratégica com o novo governo Trump. Ao mesmo tempo, porém, ressaltou que o bloco europeu está preparado para defender seus legítimos interesses, caso isso seja necessário.

É provável que essa abordagem seja o que o eurodeputado Bernd Lange, presidente da comissão parlamentar de comércio do Parlamento Europeu, chama de “estratégia dupla”. De acordo com o social-democrata, a UE deve negociar sempre que possível e se defender contra ataques quando necessário.

Já o eurodeputado David McAllister, presidente da comissão de relações exteriores do Parlamento Europeu, enfatiza que a Comissão Europeia está mais bem preparada para o segundo mandato de Trump. O democrata-cristão também enfatiza que, desta vez, a Comissão esteve em contato com a nova administração desde o início e deixou claro que as tarifas e contra-tarifas levariam a uma situação de perda para ambos os lados.

Parlamentares pedem unidade europeia

Há um amplo consenso entre os parlamentares de que a escalada de um conflito comercial com Donald Trump deve ser evitada. O espanhol Francisco José Millán Mon, por exemplo, enfatizou que uma guerra comercial não beneficiaria ninguém. Em vez disso, a UE deve se esforçar para manter as relações comerciais com os EUA, segundo o político do conservador Partido Popular Europeu. Além disso, ele afirma que os europeus também devem apresentar uma frente unida e não tentar chegar a acordos individuais com Washington.

A deputada verde Anna Cavazzini também acredita que a “Europa unida” deve ser a resposta ao slogan trumpista “Make America great again” (“tornar a América grandiosa de novo”, em tradução livre). Isso também inclui não ceder um centímetro quando se trata de regulamentar as grandes empresas de tecnologia. Cavazzini pede que a Comissão Europeia utilize a influência que tem sob a Lei de Serviços Digitais.

Especialmente considerando a proximidade de Trump com Elon Musk, proprietário da plataforma X, ganhou força na UE uma discussão sobre como garantir que as grandes empresas de tecnologia cumpram as regras europeias. A Lei de Serviços Digitais prevê a tomada de medidas contra conteúdo ilegal e multas para os casos mais extremos.

Elogios da ultradireita

Os eurodeputados dinamarqueses em particular, como Stine Bosse, também tiveram palavras fortes a dizer sobre a Groenlândia. O eurodeputado do grupo liberal Renew enfatizou que o futuro da Groenlândia só pode ser determinado pelos próprios groenlandeses. Depois de assumir o cargo, Trump enfatizou mais uma vez que os EUA precisam da Groenlândia por motivos de “segurança internacional”.

O social-democrata Vytenis Povilas Andriukaitis criticou a decisão de Trump de suspender o Acordo Climático de Paris, chamando-a de uma “desgraça”. O lituano também lamentiy o fato de a Ucrânia não ter sido mencionada no discurso de posse.

Os elogios aos primeiros atos oficiais de Donald Trump vieram principalmente da ultradireita. Por exemplo, Christine Anderson, eurodeputada da Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda classificada, em parte, como de extrema direita pelo Departamento Federal de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV), elogiou o discurso de posse de Trump como uma “lufada de ar fresco” pois Trump, segundo ela, “restaurará a segurança interna fechando a fronteira e deportando todos os imigrantes ilegais”.

Na Alemanha: Scholz crítico, líder opositor conciliador

Mas a maioria dos políticos alemães mal podem esconder que prefeririam ver a democrata Kamala Harris na Casa Branca.

Enquanto o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, inicialmente adotou uma postura de confronto com Trump e criticou duramente sua reivindicação à Groenlândia, por exemplo, o líder da oposição, Friedrich Merz, tem sido mais conciliador desde o início.

De acordo com as pesquisas de opinião, Merz tem boas chances de se tornar chanceler após as eleições parlamentares alemãs, agendadas para 23 de fevereiro. Como chefe do governo, ele teria que lidar diretamente com Trump.

Merz afirma querer se encontrar com o republicano “de igual para igual” e se mostra confiante que uma Europa unida pode fazer frente aos novos desafios. “Enquanto os Estados-membros europeus estiverem unidos, eles serão respeitados no mundo, inclusive nos EUA, e enquanto estiverem divididos, ninguém nos levará a sério. Portanto, em minha opinião, este é o último apelo à ação. Temos que fazer isso de qualquer maneira”, afirmou o político conservador durante um encontro de partidos europeus de centro-direita.

Com informações de Christoph Hasselbach.

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