Satélites gêmeos da ESA criarão eclipses artificiais na órbita terrestre

Sonho de astrofísicos e heliofísicos que estudam a chamada coroa solar, eclipses solares produzidos sob demanda já são uma realidade na órbita terrestre. A “mágica” será feita por duas espaçonaves da Agência Espacial Europeia (ESA).

Lançadas a bordo de um poderoso foguete da agência espacial indiana (ISRO), as plataformas gêmeas Proba-3 voarão juntas como se fossem uma só, “mantendo uma formação precisa de um único milímetro”, afirma a ESA em seu site.

Esse altíssimo grau de controle tem um objetivo específico: produzir eclipses solares artificiais enquanto orbitam a Terra, permitindo que cientistas façam observações prolongadas (até seis horas de cada vez) da coroa solar.

Por enquanto, a dupla permanecerá unida durante o chamado comissionamento inicial, supervisionado pelo controle da missão no Centro Europeu de Segurança Espacial e Educação, em Redu, na Bélgica.

Em algum momento no início de 2025, os satélites irão se separar e voarão em média a 150 metros um do outro, quando chegarem ao seu destino, e se alinharão com o Sol, para que o Occulter projete uma sombra sobre o Coronagraph.

Por que eclipses são tão importantes para observar a coroa solar?


Lua cobrindo com totalidade o Sol visto de Brady, no Texas, nos Estados Unidos
Lua cobrindo com totalidade o Sol visto de Brady, no Texas, nos Estados Unidos • Brandon Bell/Getty Images

Os eclipses solares são considerados os momentos ideais para que os cientistas estudem a coroa solar devido a uma condição única de observação. Por uma incrível coincidência astronômica, a Lua e o Sol têm aproximadamente o mesmo tamanho aparente no céu terrestre.

Uma proporção matemática quase perfeita (o Sol é 400 vezes maior que a Lua, e está 400 vezes mais distante da Terra) faz os dois corpos celestes parecerem exatamente do mesmo tamanho quando observados da superfície terrestre. Esse “encaixe” faz com que, durante um eclipse total, a Lua bloqueie completamente o brilho intenso do disco solar, permitindo que instrumentos e telescópios captem detalhes da coroa solar que são normalmente invisíveis.

Em condições normais, o brilho do disco solar é tão intenso que mascara completamente a formação visualmente delicada e estruturalmente rarefeita da coroa solar que, durante o eclipse, se revela luminosa e diferente. Nesse exato momento, que dura no máximo sete minutos, cientistas examinam as características únicas da coroa solar: suas estruturas de plasma, linhas de campo magnético e outros fenômenos ligados ao comportamento dinâmico do plasma e do campo magnético solar.

A importância dos eclipses solares artificiais

Antes da invenção dos coronógrafos (bloqueadores da luz direta do disco solar em telescópios) e de alguns satélites especializados, os eclipses solares eram praticamente a única oportunidade de estudar diretamente a atmosfera externa do Sol. Mesmo com essas tecnologias disponíveis, os eclipses solares, que ocorrem duas a cinco vezes por ano (mas nem sempre totais), se tornam eventos científicos muito concorridos no mundo.

Por isso, tentar reproduzir as condições ideais da Lua, que, a cerca de 384,4 mil quilômetros da Terra, consegue cobrir completamente o disco solar, se tornou uma obsessão para as agências espaciais. Porém, “hoje não é prático colocar em órbita um único veículo espacial de 150 m de comprimento”, brinca o diretor geral da ESA, Josef Aschbacher, no site da agência espacial europeia.

Mas agora a Proba-3 pode alcançar esse mesmo desempenho usando apenas dois pequenos veículos espaciais incrivelmente sincronizados. O resultado criará novas formas de trabalhar no espaço, diz o engenheiro espacial.

Quando as naves Proba-3 estiverem na parte mais alta das suas órbitas, a cerca de 60,5 mil quilômetros da superfície terrestre, a Occulter lançará uma sombra precisamente controlada no satélite de observação Coronagraph, a 150 m de distância.

O resultado será a produção de eclipses solares sob demanda. “A melhor maneira de provar que esta nova tecnologia europeia funciona como esperado é gerar dados científicos que nunca ninguém viu antes”, afirma Aschbacher.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Satélites gêmeos da ESA criarão eclipses artificiais na órbita terrestre no site CNN Brasil.

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