Israel impôs “perigo fatal” a mulheres grávidas com ataques a Gaza, diz ONG

Israel impôs “perigo sério e ocasionalmente fatal” a mulheres e meninas na gravidez e no pós-parto em Gaza ao longo dos 15 meses de bombardeio e cerco, de acordo com um novo relatório da Human Rights Watch (HRW), organização não governamental que defende os direitos humanos.

O relatório de 50 páginas, chamado “‘Cinco bebês em uma incubadora’: violações dos direitos das mulheres grávidas em meio ao ataque de Israel a Gaza”, foi publicado pelo grupo nesta terça-feira (28).

Ele detalha ataques a instalações médicas e profissionais de saúde em Gaza que “prejudicaram diretamente mulheres e meninas durante a gravidez, o parto e o período pós-parto” e afirma que a guerra aumentou o risco de aborto espontâneo, parto prematuro, natimorto, hemorragia pós-parto e recém-nascidos abaixo do peso.

A HRW acusou Israel de impor um bloqueio ilegal, uma proibição quase total de água, alimentos e eletricidade, fome como método de guerra, ataques ao sistema médico e repetidas transferências forçadas – violando o direito ao acompanhamento e aos cuidados pós-natais para meninas e mulheres grávidas e seus filhos.

Israel é “obrigado a usar todos os recursos à sua disposição para garantir que todos em Gaza, incluindo meninas e mulheres grávidas e seus filhos, possam desfrutar de seu direito humano à saúde”, conforme o relatório. “Isso inclui garantir a restauração completa do sistema de saúde de Gaza para que todos os pacientes, incluindo mulheres grávidas e bebês, tenham acesso a cuidados médicos de qualidade.”

A HRW repetiu as alegações de que Israel está cometendo genocídio contra palestinos em Gaza, o que Israel nega veementemente. Israel também foi levado ao tribunal superior da Organização das Nações Unidas (ONU), o Tribunal Internacional de Justiça, por alegações de genocídio.

A CNN entrou em contato com os militares israelenses e o Ministério de Defesa de Israel para comentar.

Respondendo a uma pergunta sobre ataques israelenses a instalações médicas e profissionais de saúde em Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) repetiram as alegações de que o Hamas usa hospitais para suas operações militares. O Hamas nega usar hospitais como cobertura. A CNN não pode verificar de forma independente nenhuma das alegações.

Os ataques de Israel desde a emboscada liderada pelo Hamas em 7 de outubro dizimaram famílias inteiras, bem como o sistema médico e os suprimentos, gerando fome, doenças e deslocamento.

Pelo menos 47.306 palestinos foram mortos em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde do território. Destes, 12.316 eram mulheres e outros 808 eram bebês com menos de um ano, informou o Escritório de Mídia do Governo de Gaza (GMO). Embora um frágil cessar-fogo tenha começado na semana passada, os desafios de sobrevivência enfrentados por novas mães e gestantes no enclave continuam terríveis.

Bebês morrendo “na nossa frente”

Mais de 1.054 profissionais de saúde e médicos foram mortos, incluindo pelo menos seis pediatras e cinco obstetras-ginecologistas, segundo a HRW, citando o Ministério da Saúde em Gaza.

Atualmente, cuidados obstétricos e neonatais de emergência estão disponíveis em sete dos 18 hospitais parcialmente funcionais em Gaza, quatro dos 11 hospitais de campanha e um centro de saúde comunitário, ainda de acordo com a ONG.

A taxa de aborto espontâneo em Gaza aumentou em 300% desde 7 de outubro de 2023, disse a International Planned Parenthood Federation em julho. Duas mulheres palestinas trlsystsm à HRW que seus fetos morreram após serem feridos por ataques com armas explosivas que também mataram seus parceiros.

Mesmo para aqueles que conseguem chegar a um centro médico, os hospitais oferecem pouco descanso. As mulheres podem ser “retiradas às pressas” poucas horas após o parto porque a equipe está sobrecarregada por dezenas de pacientes feridos pelo bombardeio, de acordo com a HRW.

Mayas Sufyan Musa, 25, contou à CNN que quando viajou a pé para o Hospital Al-Emirati, em Rafah, para dar à luz sua filha, Maria, em 27 de fevereiro, ela foi surpreendida por multidões de palestinos desesperados buscando refúgio.

“Eu não tive privacidade completa e suficiente durante meu parto. Eu estava com muito medo de sangrar”, disse Musa. “Eu enfrentei grande dificuldade em dar à luz devido ao medo do bombardeio próximo ao hospital.

“Meu marido foi informado que eu tinha que sair imediatamente… Foi um momento muito difícil, e a limpeza no hospital era inexistente.”

Para mulheres grávidas em Gaza, o estresse de tentar sobreviver aos ataques, juntamente com a escassez de alimentos e água, pode enfraquecer o sistema imunológico, prejudicar o feto e levar ao parto prematuro, disse a HRW. O Dr. Adnan Radi, um médico do Hospital Al Awda, no norte de Gaza, contou à agência que a maioria dos bebês entregues pela equipe tem peso extremamente baixo ao nascer e estão morrendo de asfixia perinatal.

“Tentamos entubar os bebês. Às vezes isso ajuda, mas o quadro é muito sombrio”, disse o Dr. Radi, acrescentando que “no último mês, lembro de mais de seis bebês com baixo peso ao nascer morrendo na minha frente”.

Enquanto isso, a escassez de materiais antibacterianos pode aumentar o risco de sepse, pneumonia e meningite entre recém-nascidos, segundo Maram Al Shurafa, um trabalhador humanitário da ONG Medical Aid for Palestinians (MAP) em Gaza, à CNN.

‘Comecei a implorar para que Deus levasse o bebê’

Em campos de deslocados espalhados, os pais dizem que não conseguem encontrar comida suficiente, água limpa, aquecimento ou instalações sanitárias. Em vez disso, os cuidadores recorrem à alimentação dos bebês com fórmula infantil feita de água suja, aumentando o risco de desidratação, hepatite A e infecções de pele, de acordo com a HRW.

Mulheres grávidas e lactantes que compartilham banheiros em espaços lotados são especialmente vulneráveis ​​a infecções, incluindo infecções urinárinas, que podem levar a parto prematuro, baixo peso ao nascer e natimortos, de acordo com Al Shurafa, um oficial de programa do MAP.

“As mulheres podem se sentir desconfortáveis ​​amamentando em tais condições”, disse Al Shurafa. “Essa falta de privacidade pode levar ao estresse e à ansiedade, o que, por sua vez, afeta a capacidade da mãe de relaxar e estabelecer uma rotina de amamentação bem-sucedida.”

Mais de 48 mil mulheres grávidas estão passando por insegurança alimentar emergencial ou catastrófica, informou a agência de direitos reprodutivos da ONU em dezembro.

Pelo menos 56 crianças morreram de fome, de acordo com Zahir Al-Wahidi, diretor de Sistemas de Informação do Ministério da Saúde de Gaza. Oito bebês e recém-nascidos teriam morrido de hipotermia, declarou a agência infantil da ONU em janeiro.

Musa, que está deslocada em Deir al-Balah, no centro de Gaza, relatou à CNN que a bebê Maria está desnutrida.

“A gravidade e a ferocidade do sofrimento estavam concentradas no deslocamento físico”, afirmou ela. “Eu tinha medo de sermos expostas a bombardeios diretos ou fragmentos de mísseis, e à chuva, ao frio e à inundação das tendas.”

Israa Mazen Diab al-Ghul, 30, uma mulher grávida deslocada em Nuseirat, no centro de Gaza, disse à HRW que no início de 2024, ela e seus parentes não tinham nada para beber além de água do mar por dois dias. “Eu vomitei e fiquei preocupada que isso matasse o bebê… Comecei a implorar para que Deus levasse o bebê, para que eu não precisasse dar à luz durante esta guerra.”

Interrupções nas comunicações impedem o acesso das mulheres a linhas diretas e informações online, enquanto cortes de energia interrompem ultrassons e exames de sangue e urina, informa o relatório.

Uma paciente de pré-natal deslocada em Khan Younis, sul de Gaza, contou à CNN que desmaiou quando chegou ao Hospital Al-Awda, porque estava muito exausta por viajar a pé e pela falta de nutrição. Ela não tinha dinheiro para vitaminas para aliviar seus sintomas.

“Tudo é escasso”, lamentou Rahaf Umm Khaled, 21, que está grávida de quatro meses. “Quero que a guerra acabe completamente. Quero dar à luz meu filho com boa saúde e quero que voltemos para nossas casas com segurança e saúde.”

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Israel impôs “perigo fatal” a mulheres grávidas com ataques a Gaza, diz ONG no site CNN Brasil.

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