Padre Fábio de Melo e a depressão: o que podemos aprender com esse relato

Dias atrás, o Padre Fábio de Melo comentou que, novamente, está com depressão, trazendo muitas dúvidas sobre essa doença, cada vez mais comum em nossa sociedade, considerada o “mal do século”. Primeiramente, vou explicar o que é a depressão: é um conjunto de sinais e sintomas, que inclui também a tristeza, mas não somente ela. Os principais sinais e sintomas são:

– Diminuição ou perda nos prazeres da vida;

– Alteração de sono (insônia ou hipersonia);

– Alteração de apetite (aumento ou perda);

– Tristeza e apatia;

– Dificuldade de concentração;

– Desesperança;

– Perda ou diminuição em manter atividades corriqueiras;

– Sentimento de menos-valia, angústia, irritabilidade e isolamento social.

A depressão não é apenas uma doença psicológica, mas também física, onde há um desequilíbrio nos neurotransmissores responsáveis pela comunicação entre os neurônios (nesse caso, a serotonina, a noradrenalina e a dopamina). Cada um desses é responsável por alguma função:

– Serotonina: responsável pela regulação do humor, sono e apetite. Níveis baixos causam tristeza e falta de motivação.

– Noradrenalina: responsável pela atenção, resposta ao estresse e energia. Sua diminuição causa fadiga, dificuldade de concentração e desânimo.

– Dopamina: relacionada ao nosso sistema de recompensa, na busca do prazer. Sua diminuição pode acarretar dificuldade em sentir prazer (anedonia) e falta de interesse em atividades. Além disso, sua falta pode levar a excessos na busca de prazer e recompensas, como exageros na comida, compras, bebidas e drogas, bem como comportamentos impulsivos. Nesse caso, o cérebro tenta compensar a falta de prazer buscando prazeres imediatos, mas que, em seguida, causam grandes culpas e desprazeres.

Vale ressaltar que a depressão é considerada uma doença que tende a ser crônica. Embora nem todos tenham episódios recorrentes, também não há nenhuma garantia de que o episódio será único na vida da pessoa.

Mas o que pode causar uma recaída? Não existe um único fator; assim como o surgimento da depressão, a recaída também pode ser influenciada por diversos aspectos, como predisposição e exposição a fatores ambientais contínuos (estresse e traumas, por exemplo). É de extrema importância a busca por ajuda profissional, seja psicológica ou psiquiátrica, em alguns casos.

Quando o paciente precisa fazer uso de medicações?

Durante o processo terapêutico, analisamos constantemente o humor, alterações no sono, apetite, libido, desempenho nas atividades corriqueiras, bem como a presença de pensamentos suicidas. Quando há um comprometimento em algum desses aspectos, trazendo prejuízo social e físico, o acompanhamento medicamentoso se faz necessário.

É MUITO importante entender que antidepressivo não vicia, não seca lágrimas e não traz prejuízos. Alguns podem trazer efeitos colaterais, que devem ser discutidos com o psiquiatra, mas espera-se que, em poucos dias, estes desapareçam. Se continuarem, existe uma gama de outros que podem se encaixar melhor ao seu organismo. Costumo falar para meus pacientes: qual tipo de prejuízo você prefere ter? Alguns dias com possíveis efeitos colaterais (tontura, boca seca, dor de cabeça) ou isso que você está vivendo?

Outra analogia que faço é: imagine que você está com saldo negativo, e o banco te empresta um dinheiro, zerando sua conta. O remédio seria esse empréstimo. A partir daí, sua vida terá altos e baixos, e não apenas baixos e menos baixos, como estava sendo sem o remédio.

Outro aliado importante ao tratamento é o exercício físico (na verdade, ele é importante em qualquer situação). É essencial buscar uma atividade que traga prazer ou que seja menos complicada de realizar. Não adianta estabelecer metas para fazer algo que não dá prazer, quando já está difícil sentir algum prazer.

E outro grande aliado: a rede de apoio. Não tenha medo ou vergonha de pedir ajuda e mostrar que não está bem. Depressão NÃO é fragilidade, não é falta de Deus (temos um padre para comprovar isso), não é falta de louça ou roupa para lavar, como muitos falam. É uma doença como qualquer outra, que pode trazer prejuízos graves se não tratada. Se alguém do seu círculo disser alguma dessas barbaridades, considere não contar mais com essa pessoa, pois isso não é ajuda.

Ajuda é acolher, é estar junto, e não apenas dizer “vamos sair, você precisa se divertir”. Tem dias em que simplesmente levantar da cama já é uma vitória. Então, esteja ao lado de quem comemora e incentiva essas “pequenas” (e imensas) vitórias.

Lembre-se: pedir ajuda é um ato de coragem!

Vale ressaltar a importância do CVV (Centro de Valorização da Vida), mas este, sozinho, não resolve. Ele é apenas uma parte do processo, para momentos em que o psicólogo e/ou psiquiatra estão indisponíveis, especialmente em períodos de dor mais aguda.

Ajuda NUNCA será demais. Permita-se recebê-la!

*Por Marina Dammous – CRP 06/76237
Psicóloga Clínica 

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