Cidade na fronteira com Brasil teme “impacto negativo” de anúncio de Milei

Comerciantes de Bernardo de Irigoyen, cidade argentina que limita com Dionísio Cerqueira (SC) e Barracão (PR), no Brasil, temem um “impacto negativo” do anúncio do governo de Javier Milei de que aumentará os controles na fronteira por supostos “problemas” de criminalidade na região.

“Uma notícia assim gera um impacto negativo, porque o brasileiro acredita que não dá para vir para a Argentina porque [a fronteira] está fechada”, explica à CNN Walter Feldman, presidente da Câmara de Comércio de Bernardo de Irigoyen. Ele afirma ter sido pego de surpresa com o anúncio e que os comerciantes receberam a notícia “com preocupação”.

Na terça-feira (28) a ministra da Segurança de Milei afirmou em entrevista a uma rádio argentina que irá intensificar controles na fronteira com o Brasil, após o governo ter pedido à província de Salta, no norte do país, a instalação de uma cerca na fronteira com a Bolívia.

 

Bullrich afirmou que “há um problema muito sério” em cidades integradas, nas quais é possível ir de um país a outro andando, e se referiu especificamente a Bernardo de Irigoyen, cidade da província argentina de Misiones na fronteira.

Entre os problemas, a ministra de Milei citou “pistolagem” e a diferença de valorização entre o peso argentino e o real brasileiro, que faz com que o fluxo de produtos levados de um país para outro seja grande.

O relato do presidente da Câmara de Comércio local é de que os donos de estabelecimentos na cidade de Bernardo de Irigoyen não são contrários a maiores controles em passagens ilegais da fronteira, mas que sentiram “desconforto” pelo modo em que a intenção foi anunciada.

“Essa imagem que eles vendem da fronteira perigosa e de contrabando não existe aqui”, disse o líder do comércio local sobre o anúncio, afirmando que os incidentes são registrados longe da cidade. “Aqui é um lugar bonito, de fácil acesso, você pode estacionar seu carro do lado brasileiro e atravessar caminhando para [ir a] um restaurante argentino, para os mercados”, descreve.

Feldman afirmou ainda que não acredita que haverá uma tentativa de fechar a fronteira, devido à intensa integração entre as cidades. Mas, segundo ele, o anúncio sem precisões ou explicações gerou uma “impressão negativa” da cidade que pode demorar para ser revertida.

“Vai gerar custos tirar essa imagem negativa da fronteira. Os comerciantes vão ter que investir de novo em marketing e formações para difundir uma boa imagem. Então realmente acaba prejudicando muito o comércio local”, explica.

Segundo ele, os estabelecimentos do lado brasileiro também podem ser afetados. “O argentino ao escutar essa notícia tenta evitar passar para o Brasil, disse, acrescentando que está sendo realizado um trabalho conjunto dos dois lados da fronteira para tentar mitigar o impacto negativo no setor.

“A gente tenta transmitir para nossos clientes brasileiros que não está sendo instalada uma cerca, que é muito difícil que isso aconteça”, disse Feldman, que afirma que o governo Milei não entrou em contato com órgãos locais para fazer o anúncio e que nem autoridades municipais contam com precisões sobre como o plano seria implementado.

Fontes do poder público de ambos os países afirmaram à CNN não haver relatos de um aumento da criminalidade na zona.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Cidade na fronteira com Brasil teme “impacto negativo” de anúncio de Milei no site CNN Brasil.

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