Como fica a guerra entre Israel e Hamas com a proposta de Trump?

O plano do presidente Donald Trump de mover palestinos da Faixa de Gaza para países vizinhos atraiu críticas, com oponentes condenando-o por limpeza étnica.

Depois que o republicano propôs pela primeira vez “limpar” o território na semana passada, especialistas alertaram que, além das preocupações morais e legais, um influxo de refugiados para países árabes vizinhos poderia desestabilizá-los.

Tanto o governo egípcio quanto o jordaniano “seriam recebidos por uma oposição interna arrebatadora se fossem vistos por seus públicos como complacentes com uma segunda Nakba palestina”, disse Hasan Alhasan, pesquisador sênior de política do Oriente Médio no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos no Bahrein, à CNN na semana passada.

O que é a Nakba?

 

Em 1948, cerca de 700 mil palestinos fugiram ou foram expulsos à força de suas casas na Palestina histórica, durante a criação de Israel.

O novo governo israelense os impediu, e a seus descendentes, de retornar deixando milhões de refugiados em nações vizinhas sem cidadania ou perspectivas de reassentamento permanente.

Para a Jordânia, que já abriga milhões de palestinos, uma demografia alterada “ameaçaria o poder da monarquia hachemita”, afirmou Alhasan, acrescentando que financeiramente, “nem o Egito, nem a Jordânia, podem se dar ao luxo de hospedar milhões de refugiados adicionais”.

Reação do Hamas

“Rejeitamos veementemente as declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a deportação do nosso povo palestino da Faixa de Gaza e sobre o controle dos Estados Unidos sobre o território”, exclamou Izzat el-Reshiq, alto funcionário do Hamas.

Segundo ele, as “declarações refletem confusão e profunda ignorância sobre a Palestina e a região. Gaza certamente não é uma terra comum e não é uma propriedade que pode ser comprada e vendida. O preconceito americano em relação a Israel e contra o nosso povo palestino e contra seus justos direitos continua e é confirmado por tais declarações.”

Falando à Reuters de Doha, Catar, Reshiq exigiu que “o presidente americano retirasse as declarações porque elas apenas jogam lenha na fogueira”.

Ele também pediu que as nações árabes realizassem uma “cúpula árabe-islâmica urgente para analisar tais declarações”.

“Estamos envolvidos na continuação da implementação da primeira fase do acordo de cessar-fogo e também estamos prontos para as negociações da segunda etapa, que deveria ter começado nos últimos dias. A interrupção e o atraso nisso são devido a Netanyahu, que está protelando e tentando obstruir a entrada na segunda fase. Também alertamos contra tentativas de evasão da entrada na segunda fase e sua implementação ou evasão da terceira parte”, concluiu.

Preocupações dos países vizinhos

Egito e Jordânia são dois dos aliados mais próximos dos EUA no Oriente Médio e grandes beneficiários da ajuda dos americanos que há décadas alinham suas políticas regionais com os interesses do país.

A influência da Jordânia e do Egito em Washington D.C. foi ofuscada por Estados árabes do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos ao longo do tempo, segundo Jane Kinninmont, especialista em conflitos da European Leadership Network.

O que ainda precisa ser visto, ela ressaltou, é até onde esses países irão para “enviar uma mensagem clara a Washington de que o deslocamento em massa não fará o conflito desaparecer“.

Egito e Jordânia já hospedam um número considerável de refugiados.

As duas nações também podem ter preocupações de segurança se seus territórios se tornarem palcos de ataques a Israel, o que poderia prejudicar ainda mais seus tratados de paz com Netanyahu, explicou Alhasan.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Como fica a guerra entre Israel e Hamas com a proposta de Trump? no site CNN Brasil.

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