As pessoas usam Viagra e Chat GPT, mas não gostam de confessar

Tenho uma experiência curiosa. Quando comecei a ministrar aulas de oratória, alguns alunos não se sentiam confortáveis em revelar que estavam frequentando esse tipo de curso. Podiam aprender matemática, geografia, química, física, mas falar em público? Achavam que deveriam nascer sabendo. Com o tempo, tudo mudou.

Como saber se expressar com eficiência passou a ser uma das competências mais exigidas na vida profissional, hoje não apenas não escondem como fazem questão de destacar essa formação no currículo. Importantes homens de negócios e executivos de grandes organizações, como Warren Buffett, recomendam que gestores invistam em um curso de comunicação verbal para alavancar suas carreiras.

O Viagra é um dos medicamentos mais usados no mundo

Assim como a oratória já foi um aprendizado omitido, outros recursos fundamentais para a saúde e a qualidade de vida também são usados discretamente. Dois se destacam: um já bem conhecido e outro mais recente, que tem assombrado o mundo nos últimos tempos.

Vamos começar pelo mais antigo, de uso generalizado. Se perguntarmos a dez homens quem toma Viagra ou qualquer outro medicamento para disfunção erétil, é provável que nenhum ou, no máximo, um ou dois admitam. Como explicar essa baixa adesão se esses remédios estão entre os mais vendidos no mundo?

Participei do lançamento do Viagra no Brasil

A resposta é simples: nem todos são sinceros. A virilidade masculina sempre foi cercada de tabus. Admitir que usa Viagra seria, para muitos, confessar que, ao menos em algum momento, não foram tão potentes quanto gostariam. Mesmo os que recorrem ao medicamento talvez esbocem um sorriso de canto de boca, em tom de zombaria, ao serem questionados.

Lembro-me bem do lançamento do Viagra no Brasil. O laboratório me contratou para ministrar cursos para seis turmas, quase todas compostas de urologistas. Eles recebiam orientações sobre a composição, os benefícios e as contraindicações do medicamento. Depois, entrava o nosso treinamento: ensiná-los a se comunicar melhor para multiplicar esse conhecimento.

O Brasil tem 25 milhões de impotentes

Em um dos cursos, um urologista comentou no intervalo do café: “Estou animado com essa descoberta fantástica, mas, ao mesmo tempo, isso pode significar o fim do consultório.” Não sei até que ponto essa previsão se concretizou, mas estava claro que uma revolução começava ali. E os números são impressionantes.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 30% dos homens em todo o planeta sofrem de disfunção erétil em diferentes graus (grave, moderado ou leve). No Brasil, estima-se que cerca de 25 milhões convivem com esse problema. Com tamanha demanda, não é difícil entender o sucesso do Viagra. Ainda assim, quase ninguém gosta de admitir que faz parte desse grupo.

O Chat GPT e o DeepSeek

Agora, avancemos para o recurso mais recente: a inteligência artificial, especialmente o Chat GPT e o DeepSeek. Ferramentas de excepcional utilidade, ajudam em pesquisas, revisões e, em alguns casos, até na redação. O Chat GPT se tornou a plataforma de crescimento mais rápido da história: em apenas dois meses, ultrapassou 100 milhões de usuários. Hoje, já são espantosos 300 milhões.

O DeepSeek balançou o mercado. Logo após o lançamento, conquistou mais de 20% dos usuários diários do Chat GPT. Um fenômeno sem precedentes. Para quem usa, quanto mais concorrência, melhor. Mas, curiosamente, essa também é uma ferramenta que muitos preferem esconder. Há quem diga não recorrer a esses recursos para manter a ilusão de que tudo o que escreve sai diretamente da própria cabeça.

Não dá para não usar

Mesmo que o texto seja 100% autoral, ignorar essa tecnologia seria uma perda de tempo — abrir mão de uma ferramenta valiosa para o trabalho. Assim como no caso do Viagra, muita gente recorre a ele, mas não admite. 

Nos últimos 40 anos, publiquei 37 livros e escrevi mais de 2 mil textos. Tive de aprender um pouco sobre redação. Às vezes, parece que o teclado faz parte de mim, uma extensão natural dos meus braços. Ainda assim, não abro mão desse auxílio. Escrevo e peço revisão. Nem sempre concordo com as sugestões, mas há momentos em que são valiosas.

Se posso dar um conselho, use e abuse da inteligência artificial. Se você já escreve bem, vai ficar ainda melhor. Se tem dificuldades, essa tecnologia pode acelerar seu desenvolvimento. Se quiser usar e não contar, tudo bem. Só não deixe de usar. Siga pelo Instagram: @polito.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.