Hamas adia próxima libertação de reféns e Trump ameaça provocar ‘um inferno’

O movimento palestino Hamas anunciou, nesta segunda-feira (10), o adiamento por tempo indeterminado da próxima libertação de reféns israelenses prevista no âmbito da trégua em Gaza, provocando a ira de Israel e do presidente americano Donald Trump, que ameaçou provocar “um inferno”.

Apesar do anúncio inicial de seu braço armado, o Hamas declarou algumas horas depois que “a porta estava aberta” para uma nova troca no sábado, caso Israel “cumpra suas obrigações”.

O cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro interrompeu mais de 15 meses de conflito na Faixa de Gaza e permitiu cinco trocas de reféns sequestrados pelo Hamas por presos palestinos encarcerados em Israel.

Mas o futuro do acordo, cujas próximas etapas ainda estão em negociação, está ameaçado pela proposta de Trump de tomar o controle do território palestino e realocar seus mais de dois milhões de habitantes para países como Jordânia e Egito.

Após o anúncio do Hamas, Trump considerou que Israel deveria acabar com o cessar-fogo se os reféns não forem libertados no sábado como está previsto.

“No que diz respeito a mim, se todos os reféns não forem devolvidos antes de sábado às 12h em ponto – acho que é uma hora apropriada – diria que o cancelem, não se admitem mais apostas e que se desate o inferno”, disse Trump.

Por sua vez, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, reagiu denunciando uma “violação total” do acordo e ordenou o Exército a “se preparar para qualquer cenário”. Este avisou depois que a área do entorno de Gaza será “reforçada significativamente”.

– ‘Tempo suficiente para pressionar’ –

O conflito começou em 7 de outubro de 2023 com o ataque sem precedentes do Hamas contra o sul de Israel, provocou a morte de 1.210 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Os comandos islamistas também sequestraram 251 pessoas, das quais 73 ainda estão em Gaza, incluindo 34 que teriam morrido, segundo o Exército israelense.

A ofensiva de retaliação lançada por Israel causou pelo menos 48.209 mortes em Gaza, também civis em sua maioria, segundo dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, considerados confiáveis pela ONU.

A trégua construída por Catar, Egito e Estados Unidos como mediadores estabeleceu uma primeira fase de seis semanas na qual devem ser libertados 33 reféns sequestrados pelo Hamas.

Até o momento, 16 reféns israelenses foram libertados em troca de 765 prisioneiros das prisões israelenses.

Contudo, um porta-voz do braço armado do Hamas, Abu Ubaida, disse que a continuidade dessas trocas está “dependendo do cumprimento do que foi acordado pela ocupação [Israel] e dos compromissos retroativos das últimas semanas”.

O movimento islamista palestino no poder em Gaza acusa Israel de descumprir seus compromissos contemplados no acordo, atrasando a entrada de ajuda humanitária à Faixa e matando três pessoas em Gaza no sábado.

No entanto, em seu último comunicado, o Hamas garante que fez esse anúncio “cinco dias antes da data prevista para a entrega dos prisioneiros para dar aos mediadores tempo suficiente para pressionar Israel”.

As delegações negociadoras devem se reunir nos próximos meses para falar sobre a implementação da primeira fase da trégua e concretizar os detalhes da segunda, que deve permitir a libertação dos últimos reféns vivos e o cessar definitivo do conflito.

Essas conversas sobre a próxima etapa deveriam começar no 16º dia da trégua, mas Israel rejeitou enviar seus representantes a Doha.

O Fórum das Famílias, que pressiona pelo retorno dos reféns, disse nesta segunda que havia “solicitado ajuda dos países mediadores para ajudar a restaurar e implementar o restante do acordo de forma efetiva”.

– Voltar para Gaza –

Com a trégua em risco, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou à carga ao afirmar que os palestinos não terão o direito de voltar à Faixa de Gaza, de acordo com sua proposta para tomar o controle do território.

Segundo um trecho exibido nesta segunda de uma entrevista à emissora Fox News, o presidente afirmou que os palestinos não teriam o direito de retornar a Gaza “porque terão moradias muito melhores”.

A ideia, que a ONU considera contrária ao direito internacional, foi celebrada como “revolucionária” pelo governo de Israel, mas também foi alvo de críticas generalizadas.

O chanceler egípcio, Badr Abdelatty, advertiu em uma reunião em Washington com seu par americano Marco Rubio, que seu país rejeitaria “qualquer compromisso” sobre os direitos dos palestinos, incluindo seu direito a “continuar em sua terra”.

A Jordânia também expressou sua firme oposição à ideia de Trump, que esta semana receberá o rei jordaniano Abdullah II na Casa Branca.

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