Do marcapasso à cardioneuroablação: a evolução do tratamento das arritmias cardíacas

A medicina moderna tem se dedicado a encontrar soluções para os desafios que as doenças cardíacas representam. Nesse cenário, a cardioneuroablação surge como uma opção terapêutica inovadora para pacientes que sofrem de determinadas condições cardíacas, como síncope neurocardiogênica e bloqueios atrioventriculares funcionais. Este procedimento, ainda relativamente novo, está ganhando espaço como uma alternativa viável e menos invasiva aos tratamentos tradicionais, como o implante de marcapassos.

Vamos explorar este procedimento em detalhes, compreendendo para quais pacientes ele é indicado, como funciona, os riscos associados e sua posição no rol de tratamentos disponíveis.

O que é a cardioneuroablação?

A cardioneuroablação é um procedimento médico que utiliza a ablação por radiofrequência para modificar ou eliminar certas conexões nervosas no coração que podem estar causando disfunções. Em termos mais simples, o procedimento visa reduzir ou eliminar os sinais nervosos que podem provocar desordens no ritmo cardíaco.

Isso é especialmente relevante em casos de síncope neurocardiogênica, uma condição em que o paciente desmaia devido a uma queda súbita da frequência cardíaca e da pressão arterial, resultante de uma resposta exagerada do nervo vago.

Quando está indicada?

Pacientes que apresentam síncope vasovagal, também conhecida como desmaio neurocardiogênico, são candidatos potenciais para a cardioneuroablação. Essa condição é caracterizada por episódios frequentes de desmaios, que não são explicados por problemas cardíacos estruturais ou outras condições neurológicas.

Além disso, o procedimento tem demonstrado eficácia no tratamento de bloqueios atrioventriculares funcionais, nos quais a condução elétrica entre as câmaras do coração é interrompida por fatores neurais, e não estruturais.

A indicação para a cardioneuroablação deve ser cuidadosamente avaliada por cardiologistas especializados em ritmologia. Em geral, o procedimento é considerado para pacientes que não responderam a tratamentos conservadores, como mudanças no estilo de vida ou uso de medicações.

Em alguns casos, pode ser considerado antes do implante de um marcapasso, especialmente em pacientes jovens, para evitar os riscos e complicações associados a dispositivos eletrônicos permanentes.

A decisão de optar pela cardioneuroablação deve levar em conta não apenas a frequência e a gravidade dos episódios de síncope, mas também o impacto desses episódios na qualidade de vida do paciente.

Discussões detalhadas entre o paciente, a família e a equipe médica são essenciais para garantir que todas as opções de tratamento sejam consideradas e que o paciente esteja ciente dos benefícios e riscos potenciais.

Como é realizada?

O procedimento de cardioneuroablação envolve a inserção de um cateter através das veias do paciente até o coração. Uma vez posicionado corretamente, o cateter emite ondas de radiofrequência, que geram calor suficiente para modificar ou eliminar pequenos segmentos de tecido nervoso.

Ao fazer isso, o procedimento interrompe os sinais nervosos que causam irregularidades no ritmo cardíaco. A precisão é fundamental nesse procedimento, pois a intenção é remover apenas as conexões nervosas problemáticas, preservando ao máximo a função cardíaca normal. Isso requer uma equipe médica experiente e bem treinada, além de tecnologias avançadas de imagem para guiar o cateter.

Quais os Riscos e Efeitos Colaterais?

Como qualquer procedimento médico invasivo, a cardioneuroablação não é isenta de riscos. Algumas possíveis complicações incluem:

– Lesões nos vasos sanguíneos

– Sangramentos ou infecções no local de inserção do cateter

– Danos acidentais a outras partes do coração, que podem resultar em arritmias mais graves ou até mesmo na necessidade de um marcapasso

Além disso, os pacientes podem experimentar efeitos colaterais como:

– Dor torácica

– Cansaço

– Palpitações temporárias após o procedimento

No entanto, a maioria desses efeitos tende a ser transitória e manejável com cuidados médicos adequados.

Conclusão

A cardioneuroablação representa um avanço significativo no tratamento de desordens do ritmo cardíaco de origem neural. Seu caráter menos invasivo e a possibilidade de evitar implantes permanentes fazem dela uma opção atraente para muitos pacientes. No entanto, como qualquer tratamento médico, deve ser avaliada caso a caso, considerando os riscos e benefícios.

À medida que mais pesquisas e experiências clínicas se acumulam, espera-se que a cardioneuroablação se torne uma parte integrante do arsenal terapêutico contra arritmias cardíacas, contribuindo para uma melhor qualidade de vida para muitos pacientes.

Para aqueles que sofrem com síncopes inexplicadas ou bloqueios funcionais, este procedimento pode oferecer uma nova esperança de alívio e um controle eficaz dos sintomas.

*Por Dr. Rodrigo Souza CRM PA 7926 – RQE Nº: 4130 – RQE Nº: 4137
Cardiologista
Membro da Brazil Health 

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