‘Sing Sing’ comove ao mostrar o poder da arte na vida de detentos; g1 já viu


Filme foi indicado a três categorias no Oscar 2025, incluindo melhor ator para Colman Domingo. Elenco mistura atores com presos reais. “Sing Sing”, filme que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), é o nome de uma prisão de segurança máxima do estado de Nova York, nos Estados Unidos. É também o local onde é realizado um programa de reabilitação dos presos através do teatro, que busca dar a essas pessoas um novo propósito para suas vidas.
E é sobre esse processo de criação e redescoberta que o longa se debruça, o que resulta num drama tocante e bem comovente, mesmo que não alcance todo o potencial que poderia oferecer ao público.
O filme conta com uma boa história, um tema bem relevante que mantém o interesse do início ao fim e um elenco irretocável, que conta não só com atores profissionais, mas também de detentos que vivem na penitenciária. Só que alguns detalhes da produção acabam comprometendo o resultado final, que não permite que ele se torne ainda melhor.
Assista ao trailer do filme “Sing Sing”
Inspirada em uma história real, a trama é centrada em John “Divine G” Whitfield (Colman Domingo), um detento que está preso há anos por um crime que ele jura que não cometeu. Enquanto espera por uma audiência que lhe permita deixar Sing Sing sob condicional, ele se torna membro de um programa que busca reabilitação pela arte. Assim, ele passa a interpretar em peças de teatro de Shakespeare e também ajuda a escrever espetáculos autorais.
Um dia, “Divine” decide chamar para o grupo Clarence (Clarence Maclin), recém-chegado ao presídio. A princípio arredio, Clarence vai cedendo aos poucos e passa a se dedicar cada vez mais às artes. Com a ajuda dos novos amigos, descobre que, assim como “Divine”, possui talento e um amor pelo teatro que ele desconhecia. Auxiliados pelo professor voluntário Brent Buell (Paul Raci, de “O Som do Silêncio”), os detentos passam a ter mais esperança de que podem ter uma vida melhor do que a que tinham dentro da penitenciária.
Sonhos de liberdade
“Sing Sing” se diferencia de vários filmes sobre presidiários por não focar tanto nos problemas ou nos momentos de violência e tensão, que se tornaram bastante clichês no gênero. A produção, embora não oculte os problemas que os personagens passam dentro da prisão, prefere trabalhar no efeito que as artes podem causar em quem nunca teve a oportunidade de mudar de vida.
Clarence (Clarence “Divine Eye” Maclin) e Divine (Colman Domingo) aprendem lição de vida em ‘Sing Sing’
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O grande mérito disso está no roteiro, escrito pelo diretor do filme, Greg Kwedar, e Clint Bentley (que também contou com a participação de Maclin e dos verdadeiros John “Divine G” Whitfield e Brent Buell, entre outros). O texto constrói bem os personagens e transmite uma veracidade que torna sua jornada ainda mais contundente. Não é por acaso que foi indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado.
Com um bom equilíbrio entre drama e humor, o roteiro faz com que o espectador acompanhe com bastante atenção a trajetória de “Divine”, Clarence e seus companheiros de palco. E não seria surpresa se muitos se pegarem torcendo para que todos consigam suas chances de se reabilitarem de verdade perante a sociedade.
Só que “Sing Sing” também tem alguns problemas que prejudicam as boas intenções desta iniciativa. Um deles é que, embora seja bom roteirista, o pouco conhecido Greg Kwedar não se mostra um diretor tão criativo. Ele não consegue filmar cenas que não diferem muito das que são vistas em outros filmes do gênero e quase escorrega no melodrama banal. Pelo menos, ele sabe conduzir bem seus atores.
Brent Buell (Paul Raci, à frente) dirige detentos em programa de teatro em ‘Sing Sing’
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Tanto que uma das melhores cenas do longa é a sequência de testes dos detentos para a peça de teatro que será encenada no presídio. A mistura de realidade com ficção deixa tudo mais interessante.
Outro problema está na trilha sonora assinada por Bryce Dessner, que é melosa demais e parece implorar para que o público se comova mais do que o necessário com o que acontece. O recurso, além de piegas, se torna ineficaz e tira um pouco da força das imagens do filme. Já a música “Like a Bird”, que encerra o longa, é boa e sua indicação ao Oscar de melhor canção original vale pelo esforço.
O poder da atuação
Um filme que fala de interpretação não poderia pecar nas atuações e, felizmente, “Sing Sing” tem um elenco impressionante nesse quesito. Entre rostos conhecidos e outros nem tanto, o drama se beneficia de ter atores que se mostram dispostos a realizar ótimos trabalhos e tornam os pontos mais positivos da produção.
A começar por Clarence “Divine Eye” Maclin, que também foi detento de Sing Sing e passou pelo programa “Rehabilitation Through the Arts” (RTA, ou “Reabilitação Pela Arte”, numa tradução livre), que é mostrado no filme. Após deixar a prisão, ele se tornou ator profissional e já tem alguns trabalhos em sua carreira. No longa, ele mostra bastante autenticidade e poderia muito bem ser indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por esse papel.
Paul Raci, assim como em “O Som do Silêncio”, passa bem a aura de mestre e convence como o professor de teatro que não está preocupado apenas em realizar boas peças, mas também em manter a moral de seus alunos elevada mesmo em momentos difíceis.
Colman Domingo interpreta John ‘Divine G’ Whitfield no drama ‘Sing Sing’
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Mas o grande nome do filme é mesmo Colman Domingo, que está numa ótima fase como ator. Depois de ser indicado em 2024 como o protagonista de “Rustin”, ele consegue sua segunda indicação consecutiva por seu trabalho em “Sing Sing”. Domingo, que também é produtor executivo do longa, aproveita as chances que o roteiro lhe oferece para brilhar em cena.
Uma sequência em que seu personagem explode após uma grande decepção é, certamente, não só uma das melhores do filme, como também da atual temporada. Que ele traga mais atuações marcantes em seus próximos trabalhos.
“Sing Sing” deveria ter sido mais lembrado no Oscar e recebido mais indicações. Até mesmo a de melhor filme. Mas isso não diminui sua grandeza e a importância de sua mensagem sobre como a arte é mesmo capaz de mudar vidas para sempre. Basta querer e acreditar.
Cartela resenha crítica g1
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