PlatôBR: Lula corteja prefeitos para tentar reverter vantagem do Centrão

Nas eleições municipais do ano passado, os partidos que formam o Centrão no Congresso (PSD, MDB, PP, União Brasil e Republicanos) passaram a administrar cerca de 3.500 mil municípios, o equivalente a 63% das cidades do país. Foi uma eleição de prefeituras com “cofres cheios”, repletos de emendas, em parte secretas, e que teve um recorde de gestores reeleitos, 2.461, número que corresponde a 82% dos que concorreram a mais um mandato.

Agora, ao trazer a Brasília prefeitos do país inteiro para um encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início a um movimento que tem o propósito de quebrar essa hegemonia exposta pelas urnas no seu terceiro mandato. Para os três dias de eventos na capital, mandatários dos 5.568 municípios brasileiros foram convidados. Pelo menos 3.200 apareceram – e o Planalto comemorou.

O encontro tem uma finalidade principal: afagar esses políticos. Grande parte deles prescinde, de certa forma, do governo federal porque está contemplada pela lógica reinante hoje em dia na distribuição de verbas via emendas parlamentares.

Ao PlatôBR, um congressista observou que, em alguns anúncios feitos pelo governo Lula antes das eleições, ouviu de prefeitos que um só deputado federal, uma semana antes, havia destinado uma quantia dez vezes maior que aquele que o presidente estava anunciando – e com a “vantagem” de não exigir comprovação do destino. Esse episódio se tornou conhecido entre os ministros. “Fazer campanha com prefeituras endinheiradas é muito difícil”, reclamou o parlamentar.

Lula sabe que sua reeleição, em 2026, ou mesmo a eleição de quem ele apoiar, depende do reconhecimento de que os investimentos foram feitos por decisão do governo federal e, para isso, precisa mostrar o que faz. Essa foi a motivação do encontro iniciado nesta terça na região central de Brasília. Como em uma feira, ministério e outros órgãos do governo montaram stands para apresentar seus cardápios de políticas governamentais disponíveis para os prefeitos.

Ao abrir o evento, Lula fez questão de demonstrar que era o anfitrião e, portanto, deveria dar o tom. De pronto, agiu para impedir que os presentes transformassem o encontro em um palco para reinvindicações. “Não é momento de pedir”, disse. O presidente fez questão de demonstrar que o governo está aberto a prefeitos de todas as cores partidárias. “Muitas vezes os prefeitos do meu partido ficam zangados porque quem ganhou o tal do PAC Seleções (voltado ao atendimento de projetos apresentados por prefeitos e governadores) não foi o prefeito do PT, foi o prefeito vizinho que não gosta do PT. Mas é assim que a gente vai exercer a democracia. É assim que a gente vai ensinar civilidade nesse país”, afirmou.

Só transparência não convence

O governo ofereceu aos prefeitos ferramentas de gestão e dinheiro. No primeiro dia, apresentou a plataforma Contrata + Brasil, uma marca da bem-sucedida administração do prefeito de Recife, João Campos (PSB-PE), que Lula quer prestigiar. O programa é uma plataforma virtual que facilita a contratação, pelo poder público, de prestadores de serviços cadastrados como MEI (microempreendedores individuais).

Essa não é a primeira marca de Campos apropriada por Lula. Aconselhado pelo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, ele levou para o Planalto parte do time que operava as redes sociais do prefeito de 31 anos, na tentativa de fazer com que Lula, com seus 79 anos, adote a vitalidade que o pernambucano demonstra na internet.

Ciente de que a plataforma que facilita pequenas contratações públicas não seria suficiente para seduzir as centenas de prefeitos reunidos pelo presidente, o Planalto preparou o anúncio de maios recursos – R$ 50 bilhões – no tal PAC Seleções a que Lula se referiu no discurso. O dinheiro deverá ser aplicado em infraestrutura urbana, abastecimento de água, equipamentos da saúde, educação, esporte e obras do Minha Casa Minha Vida.

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