Dólar tem leve alta com tarifas recíprocas de Trump no radar

O dólar encerrou a sessão desta quinta-feira, 13, em leve alta no mercado local, na contramão da onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, com perdas firmes na comparação com pares latino-americanos do real, como os pesos mexicano e chileno.

O tropeço do real foi atribuído em grande parte à menção do etanol brasileiro no memorando do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre tarifas recíprocas para parceiros comerciais. No documento, os EUA assinalam a aplicação pelo Brasil de imposto de importação de 18% sobre o etanol americano, ao passo que o produto brasileiro é tarifado em 2,5%. As exportações de etanol do Brasil aos EUA são de pouco mais de US$ 200 milhões.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, observa que o Brasil tem tarifas de importação muito desproporcionais em relação às americanas, o que provoca uma grande assimetria. “Embora o etanol não seja algo muito expressivo, o fato de Trump estar de olho no Brasil já deixa o mercado na defensiva”, afirma Borsoi.

No momento de maior estresse, quando circulou a notícia da Fox News sobre a menção ao etanol brasileiro, depois confirmada no memorando de Trump, o dólar chegou a se aproximar do nível técnico de R$ 5,80, com máxima a R$ 5,7994.

Após o anúncio de Trump, com o aprofundamento do recuo dos Treasuries e da moeda americana no exterior, o dólar desacelerou bastante o ritmo de alta por aqui. No fim da sessão, era negociado a R$ 5,7689, em alta de 0,10%. Na semana, a divisa ainda recua 0,43%, com desvalorização de 1,16% em fevereiro. No ano, o dólar caia 6,66% em relação à moeda brasileira, que apresenta ganhos inferiores no período apenas aos do rublo russo.

Analistas ponderavam nas últimas semanas que parte do desempenho do real em 2025 estava relacionado ao fato de, em tese, o Brasil não ser muito atingido pelo advento da guerra comercial, uma vez que os alvos prioritários de Trump seriam Canadá, México e China.

Apesar do desconforto local com a menção ao etanol, o memorando de Trump foi considerado menos agressivo do que o esperado, com direcionamento a produtos específicos e sem aplicação mediata. A Casa Branca informou que as tarifas devem passar a valer a partir de 1º de abril, se essa for a decisão do presidente dos EUA.

A interpretação mais corrente entre analistas é a de que Trump vai utilizar a ameaça das tarifas recíprocas como arma de negociação. Um bom exemplo seria o caso da suspensão temporária de tarifas adicionais ao México e Canadá depois que ambos se comprometeram com controle mais rígido das fronteiras, para evitar imigração ilegal e combate ao tráfico do opióide fentanil.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – apresentou queda firme e rodava pouco abaixo dos 107,300 pontos no fim da tarde, passando a acumular baixa de mais de 0,70% na semana.

O dólar se enfraqueceu no exterior mesmo após dados sugerirem menor espaço para corte de juros pelo Federal Reserve neste ano. Após a leitura mais forte da inflação ao consumidor ontem, os números de inflação ao produtor divulgados pela manhã também surpreenderam para cima. Além disso, houve queda do número semanal de pedidos de auxílio-desemprego, que ficaram aquém das expectativas.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que, apesar do tropeço hoje, o real segue amparado pela taxa de juros local elevada – e em ascensão – que atrai capital de curto prazo e torna o carregamento de posições compradas em dólar muito custoso.

“Com juro alto e a bolsa brasileira barata, devemos continuar a atrair capital de curto prazo. O dólar deve se manter rondando os R$ 5,80, com uma banda que vai de R$ 5,70 e R$ 5,90”, afirma Galhardo, ressaltando que pode haver estresse pontual caso haja desconforto com medidas do governo que ameaçam o cumprimento das metas fiscais.

Em apresentação do documento “2024 em retrospectiva e o que esperar de 2025”, o secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou hoje que a depreciação do real em 2024 não condiz com os fundamentos da economia brasileira. Mello pontuou que a safra elevada deste ano e a maior produção de petróleo são motivos para acreditar em apreciação do real neste ano.

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