Vacina contra a dengue: o que explica a baixa procura após um ano de campanha?

Passado um ano desde o início da campanha de vacinação da dengue pelo Sistema Único de Saúde, a procura pelo imunizante segue abaixo do esperado. Segundo a Rede Nacional de Dados em Saúde, de fevereiro de 2024 a janeiro de 2025, 6,3 milhões doses foram disponibilizadas. Porém, apenas 3,2 milhões foram aplicadas – o que representa pouco mais da metade do total.

Em 2024, o país registrou a pior epidemia de dengue, com 6.103 mortes por causa do vírus. Neste ano, o Painel de Monitoramento das Arboviroses já registra 230.191 casos prováveis da doença e 67 mortes confirmadas. A doença é causada pelo vírus DENV, tendo como principal transmissor o mosquito Aedes aegypti.

O imunizante Qdenga, oferecido pelo SUS em todo o país, é da farmacêutica japonesa Takeda e tem crianças e adolescentes de 10 a 14 anos como grupo-alvo. Isso porque essa faixa etária lidera o número de hospitalizações pela doença, atrás apenas dos idosos.

Apesar da alta incidência de internações entre pessoas com mais de 60 anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não liberou a aplicação da vacina neste grupo devido à falta de estudos avaliativos.

As razões para a baixa procura

Em janeiro, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) emitiu um aviso sobre a baixa procura da vacina, destacando o aumento significativo de casos – especialmente na região Sudeste.

A baixa procura pela vacina da dengue no SUS pode ser explicada por vários fatores. De acordo com Filipe Passarelli, infectologista e coordenador do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Oswaldo Cruz, a onda de desinformação em relação às vacinas é um dos grandes motivos para a baixa adesão.

“Muitas pessoas ainda têm receio de tomar a vacina por desinformação sobre sua segurança e eficácia, o que gera um medo desnecessário dos possíveis efeitos colaterais”, explicou.

Há também dificuldades na distribuição das doses em algumas cidades, o que pode ter feito com que a vacina não chegasse a todos os lugares como deveria.

“Além disso, a divulgação da campanha foi limitada em algumas regiões, e sem informações claras, muita gente nem soube que a vacina estava disponível ou se realmente deveria tomá-la”, completou.

Com limites de aquisição da Qdenga, o governo federal começou a priorizar outros tipos de estratégias para enfrentar a doença, principalmente por meio do controle vetorial. O lançamento do Plano de Ação para Redução da Dengue e Outras Arboviroses, por exemplo, direciona o combate ao mosquito transmissor.

Ainda em janeiro de 2025, o Ministério da Saúde voltou a fixar Centros de Operações de Emergência em Saúde (COE), a fim de manter a situação da dengue monitorada.

Quem pode tomar e como funciona a vacina

O Ministério da Saúde já adquiriu 9,5 milhões de doses para o ano de 2025. A vacina é dada em um esquema de duas doses, com um tempo de intervalo de 3 meses entre elas. A faixa etária coberta pelo SUS, porém, não possui previsão de ampliação.

Mesmo que a rede pública disponibilize as vacinas apenas para jovens de 10 a 14 anos, o imunizante Qdenga pode ser utilizado em qualquer pessoa de 4 a 60 anos. Para conseguir a aplicação estando fora da faixa etária, o cidadão pode procurar as redes privadas – como farmácias e laboratórios – e comprar o imunizante por preços entre R$350 e R$500.

Segundo Filipe Passarelli, a vacina Qdenga funciona como um escudo de proteção para o corpo. Ela é feita a partir de uma versão enfraquecida do vírus da dengue, que foi modificada para ensinar o sistema imunológico a reconhecer e combater a doença.

Assim, quando a pessoa entra em contato com o vírus de verdade, seu organismo já sabe como reagir, reduzindo as chances de uma infecção grave. Diferente de outras vacinas que só podem ser tomadas por quem já teve dengue, a Qdenga é segura tanto para quem nunca pegou a doença quanto para quem já teve.

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