Brasil resgata “guerra do algodão” para medida extrema contra EUA

A “guerra do algodão” tem sido lembrada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como exemplo do que o Brasil poderia fazer contra os Estados Unidos em caso de retaliação comercial pelas medidas protecionistas anunciadas por Donald Trump.

Por enquanto, todo o foco do governo brasileiro está em criar canais de contato com Washington e negociar com os Estados Unidos. Isso vale tanto para a sobretaxa ao aço e ao alumínio quanto para as tarifas recíprocas prometidas por Trump.

O contencioso do algodão, no entanto, já tem sido citado discretamente por assessores do governo como um roteiro para as medidas que o Brasil poderia tomar em resposta à Casa Branca.

Na primeira metade dos anos 2000, o Itamaraty levou à Organização Mundial do Comércio (OMC) o caso dos subsídios dados pelos Estados Unidos aos produtores americanos de algodão. A OMC considerou as subvenções incompatíveis com regras internacionais e reconheceu que elas prejudicavam os exportadores brasileiros.

O Brasil, ao fim de uma longa disputa, foi autorizado a retaliar os Estados Unidos como uma forma de compensar os prejuízos no algodão.

Em 2010, último ano de Lula em sua primeira passagem pelo Palácio do Planalto, o governo fechou uma lista de 102 produtos americanos que tiveram suas alíquotas de importação elevadas para até 100%.

A elaboração da lista foi meticulosamente pensada para atingir produtos fabricados em redutos eleitorais de congressistas americanos que pudessem pressionar a Casa Branca por um acordo com o Brasil.

Um total de 102 produtos foi atingido. Entre eles, estavam itens como cerejas, avelãs, pasta de dente e cortador de grama.A retaliação brasileira acabou suspensa quando os Estados Unidos aceitaram pagar uma compensação financeira ao Instituto Brasileiro do Algodão.

Agora, segundo relatos feitos à CNN, uma atitude na mesma linha poderia ser adotada em último caso. Seria uma espécie de “pior cenário”, afirmam fontes da área econômica, caso falhem todas as tentativas de diálogo e negociação.

Nessa possibilidade, em vez de retaliar por meio de um aumento generalizado de tarifas, que só prejudicaria a própria economia brasileira, a “guerra do algodão” é vista como um exemplo pelo foco em produtos muito específicos.

Mesmo assim, o governo Lula se veria diante de um dilema conceitual. Em 2010, a retaliação foi autorizada pela OMC, após um longo processo na organização.

Fazer isso em caráter unilateral seria, também na avaliação do governo brasileiro, corroborar com o desmantelamento do sistema multilateral de comércio e “agir do mesmo jeito que Trump”.

A realidade, porém, pode se impor: hoje a OMC está completamente paralisada e não tem sequer juízes nomeados para julgar disputas comerciais entre países. Ou seja, recorrer à organização para buscar compensações seria totalmente inócuo, na prática.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Brasil resgata “guerra do algodão” para medida extrema contra EUA no site CNN Brasil.

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