Suspensão de remessas pela Western Union vai afetar o cubano comum?

A suspensão do envio de remessas pela Western Union a Cuba, motivada pelas novas sanções de Washington, vai afetar pouco o cubano comum, mais acostumado a buscar vias alternativas com melhores taxas de câmbio, avaliam analistas.

A entrada de remessas representa um respiro para as famílias da ilha, mas enfrenta um obstáculo duplo: as sanções recorrentes dos Estados Unidos, de um lado, e a desfavorável taxa do câmbio oficial em Cuba, de outro.

O recém-empossado governo de Donald Trump voltou a incluir Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo e reinstaurou uma lista restrita com empresas cubanas que têm proibidas algumas transações financeiras.

Entre elas está a Orbit, empresa criada pelo governo cubano para a gestão de transferências para o exterior, que segundo Washington opera “para ou em nome do exército cubano”.

As forças armadas revolucionárias também são alvo de sanções.

Diante disso, “a Western Union se vê obrigada a suspender por tempo indeterminado seu serviço de transferência de dinheiro entre os Estados Unidos e a ilha”, declarou a instituição em um comunicado enviado à AFP esta semana.

A chancelaria cubana considerou, em nota, que se trata de um “arrocho do governo dos Estados Unidos em sua política irracional de linha-dura em relação à ilha”.

No entanto, para Yamile García, esta medida é insignificante. “Pra mim, tanto faz. Não me afeta porque nós, cubanos, sempre damos um jeito”, diz à AFP esta trabalhadora de saúde de 48 anos, enquanto vê peças de roupas em uma loja em Havana Velha.

Ela explica que seus familiares lhe mandam dólares “por outras vias”, que chegam até sua casa. Ela se refere a particulares, conhecidos como “mulas”, que transferem dinheiro do exterior em troca de uma comissão.

Em meio à profunda crise econômica que o país enfrenta, os emigrados optam, inclusive, pelo envio de pacotes de comida, contratados do exterior.

– “Mais competitivos” –

A Western Union, que já tinha suspendido seus serviços em Cuba em 2020, os retomou em 2023.

Nesta nova etapa, as remessas, gerenciadas pela Orbit, foram depositadas em um cartão bancário de uma Moeda Livremente Conversível (MLC) e digital, unicamente utilizável nas desabastecidas lojas do Estado cubano.

Como resultado, “a maior parte das remessas dos Estados Unidos para Cuba não era feita pela Western Union”, confirma o economista cubano Omar Everleny Pérez, que afirma que a medida não terá “um impacto tão significativo”.

Muitos enviam divisas através de pessoas que oferecem seus serviços nas redes sociais por uma comissão que beira os 10%.

O último informe do Observatório de Moedas e Finanças de Cuba (OMFi), publicado no site de notícias El Toque, indica que estes operadores são “mais competitivos ao realizar transações com uma taxa de câmbio próxima da taxa informal”.

A taxa de câmbio oficial se situa em 120 pesos cubanos por dólar, enquanto no mercado informal, um dólar equivale a 340 pesos e uma MLC, a 245 pesos.

“O mercado informal de divisas não reagiu até o momento ao anúncio do Departamento de Estado”, indica o OMFi, mostrando a pouca “importância do canal de remessas através da Western Union”.

Entre 2005 e 2020, as remessas representaram, em média anual, 6,8% do Produto Interno Bruto do país, segundo o economista cubano Pavel Vidal, acadêmico da Universidade de Javeriana, em Cali, Colômbia, e autor do relatório do OMFi.

As remessas representam a segunda entrada de divisas em Cuba, depois dos serviços médicos que a ilha exporta a outros países.

O número oficial de remessas que entram no país não é público, mas segundo a Havana Consulting Group, empresa de consultoria com sede em Miami, esta receita “caiu de 2,04 bilhões de dólares em 2022 para 1,97 bilhão em 2023”, entre R$ 10,6 bilhões e R$ 10,2 bilhões.

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